terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Teresa Amabile e a Criatividade


Esta investigação visa esclarecer todo o processo criativo de Teresa Amabile. Sendo ela uma conhecedora deste campo, Criatividade, poderá então esclarecer como funciona o processo criativo.
Todos os dias somos confrontados com este paradigmático conceito, que ainda hoje, é difícil de definir. Talvez por haverem diversas definições sobre este tema, tantas opiniões podem levar a um beco sem saída e sem respostas concretas. Para clarificar toda esta ideia, considero interessante abordar algumas tentativas de definições do que é a Criatividade.
“«Como o novo vem a ser: Uma pergunta natural é frequentemente levantada: Como começar sempre novas criações verbais, como um poema ou um ensaio brilhante? A resposta é que podemos obtê-­‐los através da manipulação de palavras, colocá-­‐las sobre até que um novo padrão é bater em cima.»”
1. Pressupostos e Observações Preliminares
O modelo componencial de criatividade sugerido por Teresa Amabile é composto por um conjunto de componentes considerados necessários e suficientes, para a produção criativa, em qualquer domínio.
O modelo define-­‐se por três componentes essenciais para a produção de cada resposta ou projecto: capacidades relevantes num determinado domínio, capacidades relevantes de criatividade e, por último, a motivação para uma determinada tarefa. Após várias tentativas, Amabile apresenta um modelo componencial de Criatividade.
“Um produto ou resposta será julgado como criativo na medida em que é novo e apropriado.”
O modelo visa explicar de que maneira os factores cognitivos, a motivação do individuo, factores sociais e a personalidade influenciam o processo criativo. Afirmando que estes três componentes têm obrigatoriamente que estar em interação, Amabile remata que se isso não acontecer, não haverá processo criativo.
“«No seu sentido estrito, a criatividade refere-­‐se às competências que são mais características das pessoas criativas ... Por outras palavras, os problemas que o psicólogo da personalidade criativa ... Eu tenho frequentemente definido personalidade de um indivíduo como o seu padrão único de características. Um traço é qualquer forma relativamente permanente em que as pessoas diferem uma da outra. O psicólogo está particularmente interessado nos traços que se manifestam no desempenho; por outras palavras, em traços de comportamento. Traços de comportamento estão sob amplas categorias de aptidões, interesses, atitudes e qualidades temperamentais ... Personalidade criativa é então uma questão desses padrões de traços que são característicos das pessoas criativas.»” Guilford’s, 1950
2. Características do Desempenho Criativo
As características do desempenho criativo são, como que, as normas que regem o pensamento criativo. Estas normas são universais, mas por vezes são nomeadas de diferentes modos, o que complica a compreensão. Apresentam-­‐se três características do desempenho criativo que são as habilidades de domínio, os processos criativos de relevância e a motivação.
A criatividade só “funciona” caso estas três normas estejam interligadas.

Fig. 1 – Componentes do processo criativo 

2.1. Habilidades de Domínio
Trata-­‐se do conhecimento numa área definida, onde o individuo tenta ser criativo. Também denominado por Expertise, este processo depende inteiramente da sua educação, experiência, treino informal, capacidades técnicas desenvolvidas, qualquer tipo de aquisição naquele domínio. Não nos é possível fazer trabalho criativo em Biologia Molecular, a não ser que saibamos imenso sobre esta temática, sendo que isso faz expertise neste campo. Esta componente também depende do talento de cada indivíduo, que é provavelmente inato e que nos orienta para o trabalho e para o pensamento, numa área particular. Existe toda uma panóplia de talentos, todos eles são talentos iniciais, impulsionando o caminho que é desenvolvido pela experiencia, treino formal e informal, tudo o que constitui a componente expertise.
2.2. Processos Criativos de Relevância
Também denominado por processo de pensamento criativo, esta componente, processo criativo, pode ser aplicada a qualquer domínio, não estando confinada às áreas em que individuo é especialista. Esta é uma forma pessoal de pensar os problemas, de os resolver, de olhar para o mundo em geral.
É um estilo cognitivo, pois inclui um conjunto de técnicas cognitivas, tácticas, para produzir novas ideias, tais como resolver problemas, ter capacidade de apresentar novas perspectivas, capaz de tolerar a ambiguidade, ou seja, sentir-­‐se bem com algo que não está encerrado, ser capaz de lançar novas e diferentes ideias. Importante também é o facto de ser orientado para enfrentar riscos, ser independente e não conformista, no seu próprio pensamento e atitudes. Todos estes traços cognitivos e pessoais tornam propício que o individuo surja com novas ideias aplicáveis – ideias criativas.
Alguns destes aspectos são inatos, podem ter que ver com a personalidade básica de cada indivíduo, com a estrutura cognitiva bélica, mas muitas destas capacidades criativas podem ser aprendidas e desenvolvidas. Os indivíduos podem aprender a tornar-­‐se mais flexíveis no seu pensamento, mais fluentes e, até mesmo, mais originais.
2.3. Motivação
Segundo Teresa Amabile, o factor primordial de criatividade vem da motivação intrínseca dos indivíduos. Factores como o conhecimento e o pensamento criativo são importantes para o nosso processo criativo, mas não são suficientes para criar um individuo criativo por si só. É a motivação que determina e permite que o individuo passe do sonho à concretização da mesma. Se o sujeito não possuir tal motivação, simplesmente não será executada com sucesso, ainda que exista o conhecimento e o pensamento criativo. Desde a Revolução Industrial e da produção em série que, vários autores, estudam a enorme questão da motivação. Actualmente, já podemos afirmar que, tanto factores internos, como factores externos, podem influenciar a nossa motivação.
Em criatividade, a Motivação assume duas formas distintas, a motivação extrínseca e a motivação intrínseca. Sendo que a extrínseca provém do exterior do indivíduo, ou seja, terá que ver com o ambiente no qual está inserido o indivíduo. Quanto à motivação intrínseca, esta tem que ver o interior do próprio indivíduo, as emoções, as vivencias, a herança cultural, são tudo factores que podem influenciar a motivação intrínseca. O que move realmente um individuo a criar é a motivação intrínseca, pois não são as pessoas mais criativas, as que estão mais motivadas intrinsecamente. Isto significa que, é muito mais importante ser-­‐se motivado pelo empenho, prazer, trabalho, do que por factores externos – motivações externas. A motivação intrínseca depende, até certo ponto, das inclinações naturais do individuo para fazer determinada tarefa. Como por exemplo, podemos gostar imenso de ensinar ou fazer música, mas essa inclinação natural pode ser constrangida pelo ambiente social em que o individuo se encontra inserido enquanto faz algo. Este constrangimento pode conduzir a profundas alterações na sua motivação intrínseca, que por sua vez, pode resultar em constrangimentos exteriores e, por outro lado, oferecer imensas motivações externas. Assim sendo, pode-­‐se matar a motivação intrínseca, matando, por sua vez, a criatividade.
Em suma, os indivíduos são mais criativos ao serem motivados pelo prazer, satisfação, e não por pressões exteriores.5
3. Modelo Componencial e as suas Dimensões
A Criatividade surge de forma desordenada, mas através do modelo criativo e componencial de Teresa Amabile, é-­‐nos possível simplificar e esquematizar todo o processo criativo. O processo é possuidor de cinco etapas, e as suas características são:
1. Preparação – esta fase serve para a criação de um reportório de conhecimento, sobre um determinado tema. Aquando da identificação de um problema ou oportunidade, o exame refere-­‐se à busca dos factores que influenciam ou actuam sobre o problema ou que criam a oportunidade; quais as formas que já foram criadas para solucionar o problema. Quando não existe um problema identificado, a preparação envolve o acompanhamento dos factores externos à empresa, como por exemplo, hábitos e atitudes dos consumidores, tendências.
2.     Oportunidades de criação – é a identificação de um problema ou de uma oportunidade.
3.      Gerar opções: divergência – é a busca de uma série de alternativas, tendo em conta o maior número de alternativas, mesmo que algumas não sejam viáveis a curto prazo ou mesmo que pareçam impossíveis.
4.       Incubação – período de descanso, esta é uma fase, durante a qual, não se trabalha com o problema de forma consciente.
5.      Seleção de opção: convergência – o momento de escolher a melhor ou as melhores alternativas. É também a fase de julgamento.
4. Factores Sociais e Ambientais
O ambiente criativo é o local em que o individuo se encontra, ou no qual o produto é criado. Todo este espaço, onde o processo criativo ocorre, é o lugar onde a criatividade ocorre ou por outro lado, desaparece. O ambiente tem influencias organizacionais na criatividade e inovação.
O ambiente de trabalho exerce claramente um enorme impacto sobre qualquer componente de criatividade individual, mas é com a motivação que o efeito surge como imediato. É perfeitamente possível que um profissional, procure conhecimento fora da organização, mas em casos específicos, como por exemplo, profissionais de saúde, informática, marketing, o conhecimento necessário para actuar em determinada área, vem da formação, fora da empresa.
O pensamento criativo de cada um dos profissionais está intimamente relacionado com as características de cada individuo, além do que foi aprendido sobre ferramentas criativas que este profissional, pode também aprender, fora do ambiente de trabalho.
Fig. 2-­‐ Detalhe do modelo componencial: mecanismos de influência sócio-­‐ambientais na criatividade.6

Conclusão
O modelo componencial de Teresa Amabile surge com base noutros modelos componenciais, mas mais simplificado, de modo a que possamos compreender, mais facilmente, o funcionamento do nosso pensamento criativo – situações criativas.
A criatividade e não é algo que possa ser forçado, depende de vários factores e, o que é mais complicado é reunir todos esses factores, para criar situações propícias, à manifestação da criatividade. Elementos como o espaço, que o individuo frequenta, o ambiente social em que se encontra inserido, o material de trabalho actualizado e mesmo a vida pessoal do mesmo, têm que ser favoráveis para que este se sinta capaz, confiante e satisfeito, para que a criatividade não seja abafada.
Os actos criativos sé precisam de espaço para se poderem desenvolver; ideias surgem abundantemente, mas acabam por se esvanecer ainda dentro da mente do autor, normalmente pelos próprios preconceitos pessoais, mas ainda que sobrevivam a isso e saiam da mente, acabam por cair nos preconceitos da sociedade.
É preciso haver tempo e encorajamento para que as ideias vivam o suficiente, encorajando a autonomia do individuo, evitando o controle excessivo do sujeito, respeitando a individualidade.7

Bibliografia
AMABILE, Teresa M.. Creativity in Context. Westview Press, 1996.
Sternberg, Robert J.. Handbook of Creativity. Cambridge University Press, 1999.

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