sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Cartazes na I Guerra Mundial


Introdução

O tema “Cartazes na I Guerra Mundial” é um tema vasto, sendo que fiz uma recolha de alguns cartazes interessantes, cartazes que marcaram a sociedade, de modo a exibir, da melhor maneira, toda a ideia que fica sobre esta grande influência na I Grande Guerra. Assim sendo, a recolha consiste em cartazes Pré-Guerra, durante a Guerra e Cartazes Pós-guerra. Foi uma investigação bastante complexa, encontrar cartazes desta época, pois muitos encontram-se em mau estado, outros não estão datados, mas penso que encontrei os essenciais, os que realmente fazem a transição entre estilos, para a compreensão do conceito.
O tema a abordar é de carácter inovador, pois não existe uma recolha de cartazes neste âmbito, então decidi enveredar por este caminho, de modo a dar um contributo a quem se interessa por esta temática do design gráfico. Sendo que, os cartazes tentam ilustrar ideias, os cartazes de guerra também o fazem e, para que se entenda melhor a ideia ilustrada, acompanha-se com um pouco de história, tanto da guerra, como de carácter generalista, de modo a clarificar toda a ideia.
A I Guerra Mundial foi um marco a imensos níveis, como por exemplo, económicos, políticos, design. Todos os valores abordados durante esta época vão ser explanados, de modo a tirar o maior partido desta temática, conforme os conteúdos ministrados na unidade curricular. Este trabalho visa explorar a componente artística (cartazes) e interliga-la com a componente teórica (Antropologia).
O cartaz estabeleceu-se na sociedade como um meio de exibição e, como objecto para colecionadores. No final do século XIX, com recurso a maquinaria resultante da Revolução Industrial, o cartaz surgiu num contexto técnico. Os cartazes surgidos entre 1870 e 1918 (final da I Guerra Mundial), foram associados à Arte e ao Comércio, com exceção do trabalho de Chéret e os cartazes de artistas como Toulouse-Lautrec e Mucha. Estes artistas interessavam-se por executar cartazes por encomenda e queriam demonstrar a arte patente na época, no caso de Mucha, a Arte Nova.

1. A I Guerra Mundial

No início do século XX, vários problemas atingiam as principais nações europeias. O século XIX havia deixado feridas difíceis de curar. Alguns países estavam extremamente descontentes com a partilha da Ásia e da África, ocorrida no final do século XIX. Alemanha e Itália, por exemplo, haviam ficado de fora no processo neocolonial. Enquanto isso, França e Inglaterra podiam explorar diversas colónias, ricas em matérias-primas e com um grande mercado consumidor. A insatisfação da Itália e da Alemanha, neste contexto, pode ser considerada uma das causas da Grande Guerra.
É de notar também que, no início do século XX, havia uma forte concorrência comercial entre os países europeus, principalmente na disputa pelos mercados consumidores. Esta concorrência gerou vários conflitos de interesses entre as nações. Ao mesmo tempo, os países estavam empenhados numa rápida corrida armamentista, já́ como uma maneira de se protegerem, ou atacarem, num futuro próximo. Esta corrida bélica gerava um clima de apreensão e medo entre os países, onde um se tentava armar mais do que o outro.
Existia também, entre duas nações poderosas da época, uma rivalidade muito grande. A França havia perdido, no final do século XIX, a região da Alsácia- Lorena para a Alemanha, durante a Guerra Franco Prussiana. O revanchismo francês estava no ar, e os franceses ansiosos por uma oportunidade para retomar a rica região perdida.
«Nos primeiros meses de 1914, a Europa parecia estar em paz. Escrevendo na década de 1920, Sir Winston Churchill recordava que “a Primavera e o Verão de 1914 se distinguiram, na Europa, por excepcional tranquilidade”»2.
Toda esta harmonia ilusória, estava a tapar algumas tensões, ainda que reduzidas, de estabilidade crescente entre as grandes potências da Europa. Começaram a surgir problemas subjacentes e um pessimismo cada vez maior, por parte dos dirigentes europeus.
Desde 1900, a Europa vinha sendo assolada por uma série de crises , cada uma das quais aproximara um pouco mais da guerra as suas grandes potências. Estas crises eram provocadas por um número de questões graves que faziam disparar os atritos entre as potências e que, em 1914, na opinião de muitos estadistas europeus, já́ não podiam ser resolvidas senão pelo recurso à guerra.
O estopim deste conflito foi o assassinato de Francisco Ferdinando, príncipe do império austro-húngaro, durante a sua visita a Saravejo (Bósnia- Herzegovina). As investigações levaram ao criminoso, um jovem integrante de um grupo Sérvio chamado mão-negra, contrário a influência da Áustria-Hungria na região dos Balcãs. O império austro-húngaro não aceitou as medidas tomadas pela Sérvia com relação ao crime e, no dia 28 de julho de 1914, declarou guerra à Servia.
Os países europeus começaram a fazer alianças políticas e militares desde o final do século XIX. Durante o conflito mundial estas alianças permaneceram. De um lado havia a Tríplice Aliança formada em 1882 por Itália, Império Austro- Húngaro e Alemanha (a Itália passou para a outra aliança em 1915). Do outro lado a Tríplice Entente, formada em 1907, com a participação de França, Rússia e Reino Unido.
Em 1917 ocorreu um facto histórico de extrema importância : a entrada dos Estados Unidos no conflito. Os EUA entraram ao lado da Tríplice Entente, pois havia acordos comerciais a defender, principalmente com Inglaterra e França. Este facto marcou a vitória da Entente, forçando os países da Aliança a assinarem a rendição. Os derrotados tiveram ainda que assinar o Tratado de Versalhes, que impunha a estes países fortes restrições e punições. A Alemanha teve o seu exército reduzido, a sua indústria bélica controlada, perdeu a região do corredor polonês, teve que devolver à França a região da Alsácia Lorena, além de ter que pagar os prejuízos da guerra dos países vencedores. O Tratado de Versalhes teve repercussões na Alemanha, influenciando o início da Segunda Guerra Mundial.
A guerra gerou aproximadamente 10 milhões de mortos, o triplo de feridos, arrasou campos agrícolas, destruiu indústrias, além de gerar grandes prejuízos económicos.

2. Os Cartazes Pré́-guerra

A época anterior à I Guerra Mundial foi uma época de paz e ócio na Europa. Apelidada por muitos como Belle Époque, foi considerada uma das melhores épocas de toda a história.
Os cartazes que eram editados nesta época eram integrados no estilo de Arquitectura e de Decoração Arte Nova.
Este cartaz, foi criado para divulgar a atriz francesa, muito popular, Sarah Bernhardt. Toda a composição consiste num floreado, é um estilo completamente ornamentado, vegetalista. Um pouco contra a criação deste cartaz, Mucha foi pressionado a fazê-lo, pois Sarah tinha de ser divulgada, num cartaz “moderno”, tal como ela própria, um ex-libris do teatro francês.
Mónaco era um local de espetáculos no sul de França, os melhores atores pisavam frequentemente os palcos de Monte Carlo.
Este estilo de cartazes dominou Paris durante dez anos e tornou-se o maior movimento de Arte Decorativa Internacional até́ à I Guerra Mundial.
A par do estilo de cartazes Arte Nova, surgiram também alguns cartazes de estilo bem diferente. Muitos destes cartazes são aparentemente amadores. Uma grande parte do humor nos cartazes Underground4 está aplicado no contraste entre essa sociedade alternativa e a sociedade do estabelecimento, a fim
de mostrar como diferentes podem ser. A temática é variada, humor negro, guerra, extermínio, amor, vida e morte de uma só́ vez. Em termos pictóricos, estes cartazes são fantásticos e plausíveis. Muito do humor absurdo dos dadaístas, que era negro de facto, parece ter sido adaptado a uma declaração enfática.
Os cartazes de 1910 eram usados na política e na guerra, mas por causa da convenção vigente do que um cartaz deveria ser, apelar a sociedade para o caos, foram apresentados dentro dos limites. Essa situação mudou no final da Primeira Guerra Mundial, vários levantes políticos na Rússia e noutros lugares determinou um novo rumo para o cartaz político.

3. Os Cartazes durante a I Guerra Mundial

A Guerra Mundial moveu mundos e fundos, mas um marco interessante foi os cartazes que ficaram, atravessando gerações e obtendo, atualmente, conotações diferentes, daquelas que inicialmente seriam.
Este cartaz foi encomenda do Exército americano ao designer James Flagg, de modo a reforçar a ideia de que eram necessários soldados para a I Guerra Mundial. Flagg conseguiu transmitir uma ideia de rigidez, com o dedo apontado ao observador, ar sério do Tio Sam6. As cores utilizadas são bastante nacionalistas, americanas.
A nível temporal, este cartaz tem um cariz gráfico muito forte, pois foi uma inovação e chocou a sociedade. O indicador do Tio como que submetendo a sociedade aos seus ideais, levantando até́ algumas questões de carácter ético. Inspirado no cartaz britânico de Alfred Leete (1882 – 1933), Flagg utilizou a mesma posição de “submissão” que o original de Leete.
Este cartaz é representativo de França na I Guerra Mundial. Aqui apresenta-se um soldado francês, com uma arma na mão e, com a outra mão, acenando aos seus camaradas. Este é o cartaz francês mais famoso, produzido durante a Grande Guerra.

«”A França é um país belicoso, a Alemanha é um país militarista”»
Guglielmo Ferrero8, 1899.


4. A presença portuguesa

A presença portuguesa na 1a Guerra Mundial ocorreu junto dos Aliados. A guerra começou em 1914, mas só́ em 1916 Portugal entrou para a guerra, porque o Partido Democrático (de Afonso Costa) queria forçar a entrada de Portugal na guerra para puderem defender as suas colónias e com a existência de
duas convenções secretas entre a Alemanha e a Inglaterra, para uma possível divisão do império português depois da guerra, os receios do Governo aumentaram. A fome imperava, a violência interna (devido ao novo regime republicano), a desordem social permanente e a falta de medidas concretas para a crise que existia em Portugal, levaram o partido democrático a tentar a via da guerra para causar o movimento de união/patriotismo em torno da República. Portugal era na altura uma sociedade rural (os portugueses que foram para a guerra estavam minimamente preparados), e foi esta sociedade rural que foi combater em 1917 para a Flandres contra as grandes potências industriais (como a Alemanha). O voluntarismo do Governo para participar na guerra, levou à nomeação do general Norton de Matos, para preparar o CEP (Corpo Expedicionário Português). Em Franca, era-lhes dado um curso sobre a guerra das trincheiras, nas escolas do exército inglês. Foi entregue ao CEP que tinha 20.000 homens, uma área de 11 km, que tinha sido uma área antes atribuída ao 11o Corpo de Exército Britânico que tinha cerca de 84.000 homens. Pela 1a vez os Aliados optaram por uma postura defensiva.
A vida nas trincheiras era muito difícil porque era uma zona com muita água e lama. O Inverno de 1917 e 1918 foi muito rigoroso (as temperaturas desceram a -20oC) e chuvoso, tendo os soldados passado por condições muito desagradáveis, chegando a apanhar doenças infecciosas e mal-estares.
Em dois dias foram aprisionados mais de 6.500 portugueses e tinham que enfrentar condições muito difíceis do ponto de vista material e do ponto de vista psicológico. Para ajudar a passar o tempo de cativeiro, organizaram grupos de leitura e de teatro.
Os alemães não conseguiram cumprir o seu objectivo que era expulsar os ingleses pelo mar, devido à resistência do CEP desde o dia 9 de Abril de 1918 até́ ao final desse mês.
Os portugueses demonstraram a sua coragem, defendendo os seus camaradas até́ à última bala (morreram cerca de 7.000 homens).
Titulo impresso na margem superior, ilegível, quase totalmente cortado, provavelmente propaganda da preparação do C.E.P.. Data segundo analise iconográfica e entrada de Portugal na I Guerra Mundial.
Em grande plano, sobre circulo limitando relvado onde correm dois jogadores sob céu vermelho, jogador de futebol, equipado mas apresentando ligadura num joelho e luva corretora numa mão, prepara-se para chutar a bola. Em 2o plano, soldados e marinheiros, em formatura frente a frente, junto a costa onde se procede a desembarque de navio de guerra.

5. Os Cartazes Pós-guerra

Tal como é esperado, os anos Pós-guerra foram bastante complicados. A Europa estava destroçada.
Esta cartaz representa a posição francesa no final da guerra. No corpo central do cartaz estão representados vários soltados, cada qual com a sua bandeira, representado o seu país. No centro do cartaz e ladeada pelos soldados, apresenta-se a república francesa com cara de pânico. Em plano de fundo, surge uma trincheira com soldados e prontos a disparar.
“Tributo dos Aliados a França: 14 de julho, às 17h. Comício no feriado nacional francês para mostrar a todos nós, que estamos juntos até́ vencermos a paz pela vitória”. O cartaz faz, como que propaganda, para a sociedade francesa se reúna, de modo a ser felicitada pela presença na guerra.
Este é um excelente exemplo de como se encontrava a população mundial, revoltada. A representação masculina patente no cartaz apresenta um ar sério e ameaçador, pronto para lutar. O gesto de despir o casaco remete também para a ideia de poder, violência, guerra. A atitude do senhor representado provém da leitura do jornal que diz: “Os Hunos mataram crianças e mulheres”, ou seja, o senhor sente-se revoltado e compara a guerra com os Hunos – história antiga.

6. O marco histórico

O cartaz de propaganda e o cartaz publicitário depreendem os valores essenciais a eles atribuídos. Nos países capitalistas, o cartaz é um mecanismo publicitário ligado a motivações socioeconómicas, é um dos elementos auxiliadores da sociedade de consumo. Por outro lado, é uma das formas modernas da arte na cidade. A guerra trouxe uma nova linguagem gráfica, os cartazes não tinham este tipo de representações. Os cartazes de inicio de século eram representações daquilo que se vivia na época, momentos de paz, ócio. O conceito foi também alterado, de modo a corresponder ao panorama de guerra. A televisão ainda não existia, então o meio de divulgação de informação teria de ser através dos mesmos cartazes.
Existem várias interpretações de cartazes, cada país tinham uma posição (ponto de vista) perante a guerra, então os cartazes retratam a mentalidade do seu país, conforme a atitude tomada perante o evento.
O cartaz é o espelho da sociedade.

Conclusão

Com a conclusão do trabalho, posso adiantar que foi com enorme gosto que fiz a investigação e a organização da informação. Os cartazes que foram desenhados durante a guerra têm um carácter bastante inovador para a época e foram importantes durante todo o acontecimento, pois iam influenciando a sociedade.
Por outro lado, houve uma ruptura no modo de projetar. O design, como por exemplo, no caso de Mucha, foi abandonado, banalizando o estilo Arte Nova, e surgindo o estilo Underground.
Estas demonstrações de revolta e destruição patentes nos cartazes de guerra espelham os sentimentos da sociedade - o rasto geral de destruição que a guerra provocou.

Bibliografia
BARNICOAT, John (1979). A Concise History of Posters. Great Britain: Thames and Hudson.
FERRO, Marco (1993). A Grande Guerra 1914-1918. Lisboa: Edições 70. FREEDMAN, Maurice (1978). Antropologia Social e Cultural. Lisboa:
Bertrand.
HENIG, Ruth (1991). As Origens da Primeira Guerra Mundial. São Paulo: Editora Ática.
LOBO, Theresa. Cartazes Publicitários – Colecção da Empreza do Bolhão. Lisboa: Edições INAPA.
MEYER, Susan E. (1974). James Montgomery Flagg. Nova Iorque: Watson-Guptill Publications.
MOLES, Abraham (2005). O Cartaz. São Paulo: Perspectiva. http://abcdesign.com.br/por-assunto/historia/underground/
http://historia-dos-tempos.blogspot.com/2010_05_01_archive.html 

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