Introdução
O tema
“Cartazes na I Guerra Mundial” é um tema vasto, sendo que fiz uma recolha de
alguns cartazes interessantes, cartazes que marcaram a sociedade, de modo a
exibir, da melhor maneira, toda a ideia que fica sobre esta grande influência
na I Grande Guerra. Assim sendo, a recolha consiste em cartazes Pré-Guerra,
durante a Guerra e Cartazes Pós-guerra. Foi uma investigação bastante complexa,
encontrar cartazes desta época, pois muitos encontram-se em mau estado, outros
não estão datados, mas penso que encontrei os essenciais, os que realmente
fazem a transição entre estilos, para a compreensão do conceito.
O tema a
abordar é de carácter inovador, pois não existe uma recolha de cartazes neste
âmbito, então decidi enveredar por este caminho, de modo a dar um contributo a
quem se interessa por esta temática do design gráfico. Sendo que, os cartazes
tentam ilustrar ideias, os cartazes de guerra também o fazem e, para que se
entenda melhor a ideia ilustrada, acompanha-se com um pouco de história, tanto
da guerra, como de carácter generalista, de modo a clarificar toda a ideia.
A I
Guerra Mundial foi um marco a imensos níveis, como por exemplo, económicos,
políticos, design. Todos os valores abordados durante esta época vão ser
explanados, de modo a tirar o maior partido desta temática, conforme os
conteúdos ministrados na unidade curricular. Este trabalho visa explorar a
componente artística (cartazes) e interliga-la com a componente teórica
(Antropologia).
O cartaz
estabeleceu-se na sociedade como um meio de exibição e, como objecto para
colecionadores. No final do século XIX, com recurso a maquinaria resultante da
Revolução Industrial, o cartaz surgiu num contexto técnico. Os cartazes
surgidos entre 1870 e 1918 (final da I Guerra Mundial), foram associados à
Arte e ao Comércio, com exceção do trabalho de Chéret e os cartazes de artistas
como Toulouse-Lautrec e Mucha. Estes artistas interessavam-se por executar
cartazes por encomenda e queriam demonstrar a arte patente na época, no caso de
Mucha, a Arte Nova.
No
início do século XX, vários problemas atingiam as principais nações europeias.
O século XIX havia deixado feridas difíceis de curar. Alguns países estavam
extremamente descontentes com a partilha da Ásia e da África, ocorrida no final
do século XIX. Alemanha e Itália, por exemplo, haviam ficado de fora no
processo neocolonial. Enquanto isso, França e Inglaterra podiam explorar
diversas colónias, ricas em matérias-primas e com um grande mercado consumidor.
A insatisfação da Itália e da Alemanha, neste contexto, pode ser considerada
uma das causas da Grande Guerra.
É de
notar também que, no início do século XX, havia uma forte concorrência
comercial entre os países europeus, principalmente na disputa pelos mercados
consumidores. Esta concorrência gerou vários conflitos de interesses entre as
nações. Ao mesmo tempo, os países estavam empenhados numa rápida corrida
armamentista, já́ como uma maneira de se protegerem, ou atacarem, num futuro
próximo. Esta corrida bélica gerava um clima de apreensão e medo entre os
países, onde um se tentava armar mais do que o outro.
Existia
também, entre duas nações poderosas da época, uma rivalidade muito grande. A
França havia perdido, no final do século XIX, a região da Alsácia- Lorena para
a Alemanha, durante a Guerra Franco Prussiana. O revanchismo francês estava no
ar, e os franceses ansiosos por uma oportunidade para retomar a rica região
perdida.
«Nos
primeiros meses de 1914, a Europa parecia estar em paz. Escrevendo na década de
1920, Sir Winston Churchill recordava que “a Primavera e o Verão de 1914
se distinguiram, na Europa, por excepcional tranquilidade”»2.
Toda
esta harmonia ilusória, estava a tapar algumas tensões, ainda que reduzidas, de
estabilidade crescente entre as grandes potências da Europa. Começaram a surgir
problemas subjacentes e um pessimismo cada vez maior, por parte dos dirigentes
europeus.
Desde
1900, a Europa vinha sendo assolada por uma série de crises , cada uma das
quais aproximara um pouco mais da guerra as suas grandes potências. Estas
crises eram provocadas por um número de questões graves que faziam disparar os
atritos entre as potências e que, em 1914, na opinião de muitos estadistas
europeus, já́ não podiam ser resolvidas senão pelo recurso à guerra.
O
estopim deste conflito foi o assassinato de Francisco Ferdinando, príncipe do
império austro-húngaro, durante a sua visita a Saravejo (Bósnia-
Herzegovina). As investigações levaram ao criminoso, um jovem integrante de um
grupo Sérvio chamado mão-negra, contrário a influência da Áustria-Hungria na
região dos Balcãs. O império austro-húngaro não aceitou as medidas tomadas
pela Sérvia com relação ao crime e, no dia 28 de julho de 1914, declarou
guerra à Servia.
Os
países europeus começaram a fazer alianças políticas e militares desde o final
do século XIX. Durante o conflito mundial estas alianças permaneceram. De um
lado havia a Tríplice Aliança formada em 1882 por Itália, Império Austro-
Húngaro e Alemanha (a Itália passou para a outra aliança em 1915). Do outro
lado a Tríplice Entente, formada em 1907, com a participação de França, Rússia
e Reino Unido.
Em 1917
ocorreu um facto histórico de extrema importância : a entrada dos Estados
Unidos no conflito. Os EUA entraram ao lado da Tríplice Entente, pois havia
acordos comerciais a defender, principalmente com Inglaterra e França. Este
facto marcou a vitória da Entente, forçando os países da Aliança a assinarem a
rendição. Os derrotados tiveram ainda que assinar o Tratado de Versalhes, que
impunha a estes países fortes restrições e punições. A Alemanha teve o seu
exército reduzido, a sua indústria bélica controlada, perdeu a região do
corredor polonês, teve que devolver à França a região da Alsácia Lorena, além
de ter que pagar os prejuízos da guerra dos países vencedores. O Tratado de
Versalhes teve repercussões na Alemanha, influenciando o início da Segunda
Guerra Mundial.
A guerra
gerou aproximadamente 10 milhões de mortos, o triplo de feridos, arrasou campos
agrícolas, destruiu indústrias, além de gerar grandes prejuízos económicos.
A época
anterior à I Guerra Mundial foi uma época de paz e ócio na Europa. Apelidada
por muitos como Belle Époque, foi considerada uma das melhores épocas
de toda a história.
Os
cartazes que eram editados nesta época eram integrados no estilo de
Arquitectura e de Decoração Arte Nova.
Este
cartaz, foi criado para divulgar a atriz francesa, muito popular, Sarah
Bernhardt. Toda a composição consiste num floreado, é um estilo completamente
ornamentado, vegetalista. Um pouco contra a criação deste cartaz, Mucha foi
pressionado a fazê-lo, pois Sarah tinha de ser divulgada, num cartaz “moderno”,
tal como ela própria, um ex-libris do teatro francês.
Mónaco
era um local de espetáculos no sul de França, os melhores atores pisavam
frequentemente os palcos de Monte Carlo.
Este
estilo de cartazes dominou Paris durante dez anos e tornou-se o maior movimento
de Arte Decorativa Internacional até́ à I Guerra Mundial.
A par do
estilo de cartazes Arte Nova, surgiram também alguns cartazes de estilo bem
diferente. Muitos destes cartazes são aparentemente amadores. Uma grande parte
do humor nos cartazes Underground4 está aplicado no contraste entre
essa sociedade alternativa e a sociedade do estabelecimento, a fim
de mostrar como diferentes podem ser. A temática é variada, humor negro, guerra, extermínio, amor, vida e morte de uma só́ vez. Em termos pictóricos, estes cartazes são fantásticos e plausíveis. Muito do humor absurdo dos dadaístas, que era negro de facto, parece ter sido adaptado a uma declaração enfática.
de mostrar como diferentes podem ser. A temática é variada, humor negro, guerra, extermínio, amor, vida e morte de uma só́ vez. Em termos pictóricos, estes cartazes são fantásticos e plausíveis. Muito do humor absurdo dos dadaístas, que era negro de facto, parece ter sido adaptado a uma declaração enfática.
Os
cartazes de 1910 eram usados na política e na guerra, mas por causa da
convenção vigente do que um cartaz deveria ser, apelar a sociedade para o caos,
foram apresentados dentro dos limites. Essa situação mudou no final da Primeira
Guerra
Mundial, vários levantes políticos na Rússia e noutros lugares determinou um
novo rumo para o cartaz político.
A Guerra
Mundial moveu mundos e fundos, mas um marco interessante foi os cartazes que
ficaram, atravessando gerações e obtendo, atualmente, conotações diferentes,
daquelas que inicialmente seriam.
Este
cartaz foi encomenda do Exército americano ao designer James Flagg, de modo a reforçar
a ideia de que eram necessários soldados para a I Guerra Mundial. Flagg
conseguiu transmitir uma ideia de rigidez, com o dedo apontado ao observador,
ar sério do Tio Sam6. As cores utilizadas são bastante nacionalistas,
americanas.
A nível
temporal, este cartaz tem um cariz gráfico muito forte, pois foi uma inovação e
chocou a sociedade. O indicador do Tio como que submetendo a sociedade aos seus
ideais, levantando até́ algumas questões de carácter ético. Inspirado no cartaz
britânico de Alfred Leete (1882 – 1933), Flagg utilizou a mesma posição de
“submissão” que o original de Leete.
Este
cartaz é representativo de França na I Guerra Mundial. Aqui apresenta-se um
soldado francês, com uma arma na mão e, com a outra mão, acenando aos seus
camaradas. Este é o cartaz francês mais famoso, produzido durante a Grande
Guerra.
«”A França
é um país belicoso, a Alemanha é um país militarista”»
Guglielmo
Ferrero8, 1899.
4. A presença portuguesa
A presença
portuguesa na 1a Guerra Mundial ocorreu junto dos Aliados. A guerra começou em
1914, mas só́ em 1916 Portugal entrou para a guerra, porque o Partido Democrático
(de Afonso Costa) queria forçar a entrada de Portugal na guerra para puderem
defender as suas colónias e com a existência de
duas convenções secretas entre a Alemanha e a Inglaterra, para uma possível divisão do império português depois da guerra, os receios do Governo aumentaram. A fome imperava, a violência interna (devido ao novo regime republicano), a desordem social permanente e a falta de medidas concretas para a crise que existia em Portugal, levaram o partido democrático a tentar a via da guerra para causar o movimento de união/patriotismo em torno da República. Portugal era na altura uma sociedade rural (os portugueses que foram para a guerra estavam minimamente preparados), e foi esta sociedade rural que foi combater em 1917 para a Flandres contra as grandes potências industriais (como a Alemanha). O voluntarismo do Governo para participar na guerra, levou à nomeação do general Norton de Matos, para preparar o CEP (Corpo Expedicionário Português). Em Franca, era-lhes dado um curso sobre a guerra das trincheiras, nas escolas do exército inglês. Foi entregue ao CEP que tinha 20.000 homens, uma área de 11 km, que tinha sido uma área antes atribuída ao 11o Corpo de Exército Britânico que tinha cerca de 84.000 homens. Pela 1a vez os Aliados optaram por uma postura defensiva.
duas convenções secretas entre a Alemanha e a Inglaterra, para uma possível divisão do império português depois da guerra, os receios do Governo aumentaram. A fome imperava, a violência interna (devido ao novo regime republicano), a desordem social permanente e a falta de medidas concretas para a crise que existia em Portugal, levaram o partido democrático a tentar a via da guerra para causar o movimento de união/patriotismo em torno da República. Portugal era na altura uma sociedade rural (os portugueses que foram para a guerra estavam minimamente preparados), e foi esta sociedade rural que foi combater em 1917 para a Flandres contra as grandes potências industriais (como a Alemanha). O voluntarismo do Governo para participar na guerra, levou à nomeação do general Norton de Matos, para preparar o CEP (Corpo Expedicionário Português). Em Franca, era-lhes dado um curso sobre a guerra das trincheiras, nas escolas do exército inglês. Foi entregue ao CEP que tinha 20.000 homens, uma área de 11 km, que tinha sido uma área antes atribuída ao 11o Corpo de Exército Britânico que tinha cerca de 84.000 homens. Pela 1a vez os Aliados optaram por uma postura defensiva.
A vida
nas trincheiras era muito difícil porque era uma zona com muita água e lama. O
Inverno de 1917 e 1918 foi muito rigoroso (as temperaturas desceram a -20oC) e
chuvoso, tendo os soldados passado por condições muito desagradáveis, chegando
a apanhar doenças infecciosas e mal-estares.
Em dois
dias foram aprisionados mais de 6.500 portugueses e tinham que enfrentar condições
muito difíceis do ponto de vista material e do ponto de vista psicológico. Para
ajudar a passar o tempo de cativeiro, organizaram grupos de leitura e de
teatro.
Os alemães
não conseguiram cumprir o seu objectivo que era expulsar os ingleses pelo mar,
devido à resistência do CEP desde o dia 9 de Abril de 1918 até́ ao final desse
mês.
Os
portugueses demonstraram a sua coragem, defendendo os seus camaradas até́ à última
bala (morreram cerca de 7.000 homens).
Titulo
impresso na margem superior, ilegível, quase totalmente cortado, provavelmente
propaganda da preparação do C.E.P.. Data segundo analise iconográfica e entrada
de Portugal na I Guerra Mundial.
Em
grande plano, sobre circulo limitando relvado onde correm dois jogadores sob céu
vermelho, jogador de futebol, equipado mas apresentando ligadura num joelho e
luva corretora numa mão, prepara-se para chutar a bola. Em 2o plano, soldados e
marinheiros, em formatura frente a frente, junto a costa onde se procede a
desembarque de navio de guerra.
5. Os
Cartazes Pós-guerra
Tal como
é esperado, os anos Pós-guerra foram bastante complicados. A Europa estava destroçada.
Esta
cartaz representa a posição francesa no final da guerra. No corpo central do
cartaz estão representados vários soltados, cada qual com a sua bandeira,
representado o seu país. No centro do cartaz e ladeada pelos soldados,
apresenta-se a república francesa com cara de pânico. Em plano de fundo, surge
uma trincheira com soldados e prontos a disparar.
“Tributo
dos Aliados a França: 14 de julho, às 17h. Comício no feriado nacional francês
para mostrar a todos nós, que estamos juntos até́ vencermos a paz pela vitória”.
O cartaz faz, como que propaganda, para a sociedade francesa se reúna, de modo
a ser felicitada pela presença na guerra.
Este é
um excelente exemplo de como se encontrava a população mundial, revoltada. A representação
masculina patente no cartaz apresenta um ar sério e ameaçador, pronto para
lutar. O gesto de despir o casaco remete também para a ideia de poder, violência,
guerra. A atitude do senhor representado provém da leitura do jornal que diz:
“Os Hunos mataram crianças e mulheres”, ou seja, o senhor sente-se revoltado
e compara a guerra com os Hunos – história antiga.
6. O
marco histórico
O cartaz
de propaganda e o cartaz publicitário depreendem os valores essenciais a eles atribuídos.
Nos países capitalistas, o cartaz é um mecanismo publicitário ligado a motivações
socioeconómicas, é um dos elementos auxiliadores da sociedade de consumo. Por
outro lado, é uma das formas modernas da arte na cidade. A guerra trouxe uma
nova linguagem gráfica, os cartazes não tinham este tipo de representações. Os
cartazes de inicio de século eram representações daquilo que se vivia na época,
momentos de paz, ócio. O conceito foi também alterado, de modo a corresponder
ao panorama de guerra. A televisão ainda não existia, então o meio de divulgação
de informação teria de ser através dos mesmos cartazes.
Existem várias
interpretações de cartazes, cada país tinham uma posição (ponto de vista)
perante a guerra, então os cartazes retratam a mentalidade do seu país,
conforme a atitude tomada perante o evento.
O cartaz
é o espelho da sociedade.
Conclusão
Com a conclusão
do trabalho, posso adiantar que foi com enorme gosto que fiz a investigação e a
organização da informação. Os cartazes que foram desenhados durante a guerra têm
um carácter bastante inovador para a época e foram importantes durante todo o
acontecimento, pois iam influenciando a sociedade.
Por
outro lado, houve uma ruptura no modo de projetar. O design, como por exemplo,
no caso de Mucha, foi abandonado, banalizando o estilo Arte Nova, e surgindo o
estilo Underground.
Estas demonstrações
de revolta e destruição patentes nos cartazes de guerra espelham os sentimentos
da sociedade - o rasto geral de destruição que a guerra provocou.
Bibliografia
BARNICOAT, John (1979). A Concise
History of Posters. Great Britain: Thames and Hudson.
FERRO, Marco (1993). A Grande Guerra
1914-1918. Lisboa: Edições 70. FREEDMAN, Maurice (1978). Antropologia
Social e Cultural. Lisboa:
Bertrand.
HENIG, Ruth (1991). As Origens da
Primeira Guerra Mundial. São Paulo: Editora Ática.
LOBO, Theresa. Cartazes Publicitários
– Colecção da Empreza do Bolhão. Lisboa: Edições INAPA.
MEYER, Susan E. (1974). James
Montgomery Flagg. Nova Iorque: Watson-Guptill Publications.
MOLES, Abraham (2005). O Cartaz. São
Paulo: Perspectiva. http://abcdesign.com.br/por-assunto/historia/underground/
http://historia-dos-tempos.blogspot.com/2010_05_01_archive.html
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