quinta-feira, 13 de abril de 2017

Calças de Cós Subido

O Traje Português é um universo bastante rico e diversificado, tal qual os nossos usos e costumes que variam imenso de região para região. Como bem sabemos, o Traje Português foi pensado de acordo com o ofício de cada um, facilitando assim a execução das diversas actividades.
Falo-vos hoje das Calças de Cós-subido ou, como são vulgarmente apelidadas “calças até aos olhos”. Se repararmos no Traje Português de Equitação, as calças também são de cós-subido com abotoamento frontal, de maneira a apoiar os rins quando se monta a cavalo. No Traje Português, tudo tem sentido, e no caso das calças de homem este pormenor de apoiar os rins é nuclear, porém eram normalmente confeccionadas em fazenda ou algodão forte, de modo a aguentarem a rigidez do trabalho do campo; sabe-se que este tipo de vestimenta era muito utilizada pelos Lavradores e, particularmente no Ribatejo, a vida destes homens era passada a cavalo, quer desbastando cavalos, quer ferrando, cultivando, apartando gado.
Algumas destas actividades são mencionadas por João Chora, no Fado “Homem do Ribatejo”:

O homem do Ribatejo tem de sobejo coisas do céu
A chuva que vem do cimo, o Sol a pino e a mão de Deus
Terra que em ondas de mágoa, faz do campino um valente
O Tejo dá-nos a água que quer abraçar a gente

Pega um toiro em Alcochete
Vai cantar a Vila Franca
Monta um baio em Salvaterra de calção e meia branca
Vai à feira a Santarém
Há fandango em Almeirim
Nas adegas do Cartaxo bebe um sonho até ao fim

Irmão da terra e do gado, cantor de fado, homem de fé
Traz a lezíria no peito, não perde o jeito de ser quem é
Cresceu nas crinas do Tejo, sabe brandir quando quer
Aguilhão do desejo nos braços d'uma mulher

À Senhora do Castelo, em Coruche, a oração
E na Feira do Cavalo da Golegã, animação
Já passou pela Chamusca, entrou numa tasquinha
Vai também a Benavente pela festa da sardinha

Pega um toiro em Alcochete
Vai cantar a Vila Franca
Monta um baio em Salvaterra de calção e meia branca
Vai à feira a Santarém
Há fandango em Almeirim
Nas adegas do Cartaxo bebe um sonho até ao fim

Portugal é um país cheio de apontamentos de requinte, mas ao mesmo tempo de simplicidade e as questões de Vestuário estão todas muito bem pensadas, cumprindo sempre uma necessidade.


Calças de cós-subido utilizadas na Tenta de Novilhos

Calças de cós-subido utilizadas para montar a cavalo

terça-feira, 4 de abril de 2017

Quinta do Oratório ou será Quinta do Alentejo?!

Não se sabe ao certo em que século surge a Quinta do Oratório, mas segundo investigações paroquiais, sabe-se que durante o século XV e o século XVI já existia a Quinta e a Capela.
Esta propriedade rural situa-se em Capeleira, um lugar que pertence à freguesia de Usseira, Óbidos. Foi pertença, durante o século XV e XVI da família Lemos e Rêgo. Mais tarde terá sido vendida a um alentejano, tendo-lhe sido alterada a denominação para Quinta do Alentejo.

Armas de Lemos

As Armas de familia Lemos não foram encontrados em todo o complexo mas, de acordo com registos paroquiais, este complexo era, de facto, pertença deste ramo notável de Óbidos.
As Armas aprsentam-se de azul, seis cadernas de crescente de prata, dispostas em duas palas. Timbre: um dragão de verde, sainte, armado e lampassado de vermelho, carregado de um crescente de prata no peito.
As que foram conservadas pelo rampo secundogénito, diferenciadas nos esmaltes e números de peças são: de vermelho, cinco cadernas de crescentes de ouro, postas em aspa. Timbre: uma águia de vermelho, armada de ouro, carregada de uma caderna de crescentes do mesmo no peito e assente num ninho de sua cor.

À família portuguesa deste nome usam os genealogistas dar a maior antiguidade e nobreza, fazendo-a originária em D. Bermudo Ordoñez, senhor de Lemos, localizado no séc. III (?).

No entanto, o estudo sério de documentos indiscutíveis relega para o campo das fantasias aquela teoria genealógica.
Com efeito, o mais antigo membro da família portuguesa dos Lemos que é possível identificar com exactidão é Giraldo Martins de Lemos, escudeiro, que casou em meados do séc. XIV com Beringeira Anes, filha de João Esteves, riquíssimo comerciante de Lisboa e industrial de sapatos, que com sua mulher, Constança Anes, instituíu para aquela sua filha um grande morgado em Calhariz de Benfica no termo de Lisboa.
Daquele casamento nasceu Gomes Martins de Lemos, que foi fiel partidário da causa do Mestre de Avis, a quem serviu durante toda a guerra com Castela. A sua constância não foi esquecida por D. João I, que o fez cavaleiro e aio de seu filho natural D. Afonso, depois primeiro Duque de Bragança, dando-lhe mais o senhorio de Oliveira do Conde e promovendo o seu casamento com D. Mécia Vasques de Goes, herdeira do morgado e senhorio de Goes, com geração.
A descendência de Gomes Martins de Lemos viria a dividir-se em dois ramos, caindo cedo o primogénito em senhora, e conservando o secundogénito a varonia por algumas gerações mais.
A chefia do primeiro, que o era também das famílias dos Goes e dos Lemos, viria a pertencer à Casa dos Silveiras, Condes da Sortelha, enquanto a da segunda seria conservada pela Casa chamada dos Lemos da Trofa, por ter tido o senhorio desta vila.

Armas de Rêgo
As armas ditas antigas dos Regos são: de verde, uma banda ondada de prata, carregada de três vieiras de ouro, perfiladas de azul. Timbre: uma vieira do escudo, entre dois penachos de verde, picados de ouro.
Modernamente, as armas passaram a ser: de verde, uma banda ondada e aguada de sua cor, carregada de três vieiras de ouro. O timbre não sofreu alteração alguma.
Nome de raízes toponímicas, deriva da honra desta designação, no lugar de Lordelo, comarca de Lanhoso.
Parece ter sido o fundador da família Lourenço do Rego, que vivia em meados do século XIII, e que deixou descendência que lhe continuou o nome.

A presença da família Rêgo e Lemos advém de casamentos durante o século XIV.
Quinta do Oratório, na actualidade


A vernacular Quinta do Oratório contava com a Casa principal, Adega com Lagar, Eira e Capela, esta última dedicada a São Bento, tendo ficado conhecido por Capela de São Bento da Capeleira. A arquitectura de todo o complexo é de estilo rural.
A Capela de estilo rural, destacada tem a fachada delimitada por muro, formando um pequeno adro. "...de antiguidade mui remota, como se vê da sua construção (...) e de planta rectangular orientada e composta por corpo único. Cobertura homogénea em telhado de duas águas. Todas as fachadas apresentam paredes de alvenaria de pedra, rebocada e caiada de branco com embasamento definido por barras pretas. Nos cunhais vêem-se gigantes cilíndricos rematados por coruchéus cónicos. Na fachada observa-se uma porta com ombreiras em cantaria chanfrada da primitiva construção. Fachada principal voltada a Oeste, formando empena simples na qual se rasga um pórtico axial e, sobre esta, um janelão quadrangular, guarnecidos a cantaria.

Capela de S. Bento da Capeleira, Usseira, Óbidos

A ermida é formada por dois volumes diferenciados: o primeiro que serve actualmente de nave e limitado aos vértices por gigantes o segundo com uma fresta. Adossado à parte posterior está o volume do trono, com uma fresta na fachada posterior.
O interior é de nave única, paredes de alvenaria de pedra, rebocada e caiada de branco, sem ornamentos; altar-mor com uma máquina retabular simples e um trono onde se encontra a imagem do padroeiro, São Bento.
Esteve integrada no património imobiliário da Quinta do Oratório, assim conhecida por ter relação à Congregação do Oratório, a qual foi fundada por diversos padres, entre eles o Padre Francisco Gomes (natural de A-dos-Negros).

A quando da morte desse rico lavrador alentejano, sem herdeiros, a propriedade foi deixada à Santa Cruz de Coimbra, com a condição desta instituição patrocinar a presença de três padres para leccionar, no Santuário do Senhor Pedra, as disciplinas de Retórica, Teologia Moral e Filosofia. Com o tempo esta cláusula foi alterada, aceitando-se dois rapazes de Óbidos para se formarem em Coimbra, evitando a deslocação de sacerdotes para Óbidos.
Adega da Quinta do Oratório, Usseira, Óbidos
Paralelamente a toda esta investigação sobre a Quinta do Oratório, ressalva-se ainda uma habitação do centro urbano de Óbidos, a qual tem 2 inscrições em pedra e poderam representar mais um elemento da Família Lemos, no caso o brasão de armas. Apesar de não ser claro, parece que as inscrições em pedra, tendem a assemelhar-se com o trevo típico das armas de Lemos. Nelas encontramos inscrito "ANNO" e na outra "1731" o que representará o ano da construção da habitação, isto significará que no século XVIII ainda haveriam Lemos a utilizar armas em Óbidos. Por outro lado, o Trevo de Quatro Folhas simboliza, especialmente, a sorte. À cada folha é atribuído um significado: esperança, fé, amor e sorte.
Também conhecido como “trevo da sorte”, esse nome decorre da dificuldade em ser encontrado, ao contrário do trevo de três folhas que é bastante comum.
Habitação com 2 pedras em forma de Trevo de Quatro
Folhas e inscrições, Óbidos


Fonte:
Património Inventariado – Fichas
CÂMARA MUNICIPAL DE ÓBIDOS REVISÃO DO PLANO DIRECTOR MUNICIPAL
Disponível em: http://home.fa.ulisboa.pt/~miarq4p5/2010-11/2_SupportElements/1_TownHall_Elements/1_County_REVISAO%20PDM%202%AA%20Reuniao%20Plenaria/Estudos%20de%20Caracteriza%E7%E3o/Estudos_Tematicos/CMP%20Edificado/01-PATR_INVENTARIADO.pdf, consultado a 27 de março de 2017
Carta Municipal de Património Edificado
Disponivel em: http://home.fa.utl.pt/~miarq4p5/2010-11/2_SupportElements/1_TownHall_Elements/1_County_REVISAO%20PDM%202%AA%20Reuniao%20Plenaria/Estudos%20de%20Caracteriza%E7%E3o/Estudos_Tematicos/CMP%20Edificado/03-CMPE_LISTA.pdf, consultado a 27 de março de 2017

André Lopes Cardoso