terça-feira, 15 de novembro de 2016

São João dos Montes e afins...

A primeira informação histórica de que se dispõe sobre esta freguesia é a de que o seu território terá pertencido à Ordem do Templo (os Templários). Supõe-se que a primeira Igreja Matriz (possivelmente será a Igreja de São João dos Montes, a qual flanqueia o cemitério) tenha sido fundada por alguns dos Mestres dos Templários.
No início do século XX havia, no Alto da Agruela, uma capela com várias sepulturas dos cavaleiros da Ordem do Templo.

Segundo o Duque D’Ávila e Bolama, na sua Corografia, alguns historiadores admitem a hipótese da Freguesia de São João dos Montes ter sido fundada em 1320, ao mesmo tempo que a Quinta e Morgadio de Bulhões (actualmente Quinta do Bulhaco, perto de Trancoso ), por Fernão de Bulhões, irmão de Santo António de Lisboa.

Subserra foi a povoação mais importante a partir do início do seculo XVII, onde foi instalado o Morgadio de São Severino, pelo capitão Diogo da Veiga e construída a capela de São José por sua filha, Bárbara de Vasconcelos. Os domínios de Subserra pertenceram depois, por sucessões e uniões de famílias aos Roxas de Azevedo e Cantreiras, ligados à Casa da Trofa, aos Condes de Subserra, Rio Maior e Lavradio.

João Roxas e Azevedo foi Chanceler-Mor do Rei D. Pedro II (Rio de Janeiro 1825, França 1891) e o seu cunhado, Francisco de Sousa Coutinho, que também habitou Subserra, foi o Embaixador de D. João IV que conseguiu obter reconhecimento da independência de Portugal pelas Cortes Europeias, apos a expulsão de Filipe III de Espanha. No seu tempo, D. Pedro II permaneceu algum tempo na Quinta.

O 1º Conde de Subserra, Manuel Inácio Martins Pamplona Côrte-Real, foi General, Deputado e várias vezes Ministro, no tempo da Revolução Liberal, tendo sido perseguido e preso (até à morte) pelos Miguelistas (também conhecidos por serem conservadores).

O 2º Marquês de Bemposta-Subserra, Théodore Stéphan de La Rue de Saint-Léger, também liberal e general, foi ajudante de campo dos dois príncipes consortes de D. Maria II.

O 1º Marquês de Rio Maior, D. António José Saldanha Oliveira Sousa, foi Deputado, Oficial-Mor da Casa Real, deputado, provedor da Santa Casa da Misericórdia durante 18 anos e duas vezes Presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

Finalmente, o 6º Marquês de Lavradio, D. José Maria de Almeida Correia de Sá, foi par de reino, oficial às ordens do Príncipe D. Luís Filipe e Secretário particular de D. Manuel II.

Em Subserra existiram também nos séculos XVIII e XIX, sete capelas e ermidas e uma igreja, a da Misericórdia. Além da Já referida capela de S. José, conhecem-se os nomes das capelas da Quinta da Trofa, dos Senhores de Pancas e Alpedrinha, da Casa dos Manuéis e da ermida dos freires de Cristo. 

Hoje, só existem duas capelas a de S. José, na Quinta de Subserra (propriedade da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira) e outra no lugar de Subserra.

Várias também eram as casas solarengas em Subserra, além do Palácio. Um desses solares era a Casa ou Palácio dos Manuéis que, com larga possibilidade, pertencia aos Manuéis de Vilhena, Condes de Vila Flôr, cujo 7º Titular chegou a ser Duque da Terceira, figura eminente da Revolução Liberal de 1820 que, entre muitos outros bens e direitos, tinha o padroado da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Alhandra. Um outro solar era dos Senhores de Pancas e Condes de Alpedrinha, descendentes da Casa de Vila Flôr.
Realçar também a existência de uma praça de touros, o Curro, cujas últimas ruinas se encontram subterradas, atesta a antiga importância de Subserra.

Ignora-se quase tudo sobre a Sede da Freguesia, a pequena localidade de São João dos Montes, cuja Igreja Matriz é consagrada ao padroeiro da Freguesia e de Alhandra. Sabe-se apenas que a Freguesia começou por ser uma Vigararia da apresentação da Mitra de Lisboa e passou depois a Priorado.

Igreja Matriz de São João dos Montes

A povoação mais importante da freguesia passou a ser na primeira metade do século XX A-dos-Loucos, situada a cerca de um quilometro das ruinas de um Convento, cujas religiosas terão pedido a D. João V dízimo (ou décima) da produção dos campos que se avistavam das janelas do Convento. O rei chegou a estar inclinado a satisfazer o pedido mas, informado de que dali se avistavam campos de Santarém a Lisboa, acabou por recusar. Consta que o Convento não chegou a ser, por isso, concluído e que a Ordem terá sido alcunhada “dos Loucos”, devido à sua ambiciosa pretensão. Á-dos-Loucos significará povoação além dos Loucos.

São Romão, São João dos Montes


Aldeia quase abandonada - São Romão - perdida num dos extremos do concelho de Vila Franca de Xira e implantada numa elevação suave sobranceira a terras prenhes de fruta e pão, conservou por isso, na sua quietude, um belo conjunto de arquitectura popular rural que, se bem que arruinado, nos toca, ainda assim, pelo equilíbrio dos volumes e pela harmonia das formas construídas em pedra e barro. O lugar é de fundação muito antiga, tendo ali existido um aglomerado já ao tempo dos romanos, como no-lo testemunha uma lápide funerária hoje implantada sobre a porta da ermida. A memória do sítio reaviva-se com lendas, como a dos cavaleiros que se teriam dessedentado numa pequena fonte existente junto à povoação e que em acção de graças teriam patrocinado a construção da ermida.

Ermida de São Romão, 2016

É essa ermida – dedicada a São Romão – de fundação muito antiga. O edifício teve numerosas remodelações, a última das quais corresponde a reparação do tecto da nave da igreja por parte da Junta de Freguesia: os numerosos acrescentos e remodelações reflectem tratar-se de uma igreja de romaria, cuidada a longo de sucessivas gerações de devotos. Mas todo o conjunto é fortemente marcado pela traça do século XVII: igreja de uma só nave, com entrada antecedida por galilé – hoje disfarçada em pequeno átrio. No interior, um esplendido arco triunfal, ladeado por dois altares, marca a orientação da nave perante um altar-mor com um retábulo de talha pobre. O que porém mais notabiliza o pequeno templo são os ricos painéis de azulejo de tapete que forram todo o interior da nave e fazem desta ermida o mais formoso exemplo de arquitectura religiosa rural de todo o concelho.

sábado, 3 de setembro de 2016

Padre José Lopes, Arruda dos Vinhos

Padre José Lopes
(Proença-a-Nova 12.11.1864 – Arruda dos Vinhos 18.03.1950)

Natural da Corujeira, uma pequena localidade perto de Proença-a-Nova, estudou no Seminário de Santarém, concluindo o Curso de Teologia em Portalegre, onde se ordenou sacerdote. Que se saiba tinha uma irmã D. Maria de Jesus Lopes e dois irmãos: o missionário António Lopes (falecido antes de 1950, em Moçambique) e o jesuíta Luiz Lopes, que residia no Brasil.

Reverendo José Lopes
Na Diocese de Portalegre, foi Pároco em Pedrógão Pequeno e Nesperal. Em 1904 veio para o Patriarcado de Lisboa, tendo sido nomeado Padre da freguesia de Cachoeiras, concelho de Vila Franca de Xira. Sabe-se que vivia com a irmã D. Maria de Jesus, na Casa S. Marcos sito na Rua Cândido dos Reis, nº 18-20, em Arruda dos Vinhos, mas antes de vir para a paróquia de Arruda, vivia precisamente em Cachoeiras. Já em Arruda dos Vinhos, era muitas vezes visitado pelo sobrinho Carlos Lopes (trabalhador na CP no Rossio), o qual era casado com D. Luísa, professora primária em Á-do-Barriga.

Era um Padre muito bondoso e que tinha um coração enorme, amicíssimo quer das famílias ilustres de Arruda dos Vinhos e arredores, como dos pobres. Encontrou-se, após alguma investigação esta notícia no Jornal Vida Ribatejana, do ano de 1940 (24 de Novembro): “Um almoço em Arruda dos Vinhos”, organizado pelo Sr. Júlio Simões Lopes da Silva Pais e sua esposa, no qual estiveram presentes as mais altas personalidades da região.

“Um almoço em Arruda dos Vinhos

Arruda dos Vinhos, 13 – O Sr. Júlio Simões Lopes da Silva Pais, digno tesoureiro da Fazenda Pública e importante proprietário neste concelho, ofereceu, no ultimo Domingo (Dia de S. Martinho), um lauto almoço a muitos dos seus numerosos amigos, tendo comparecido cerca de 100 convivas. O Sr. Júlio Lopes procedeu nesse dia, à abertura dos seus vinhos e água-pé da ultima colheita.
O almoço foi servido na adega daquele nosso amigo, em Arruda, e decorreu no meio da mais franca alegria. Todos os convivas se retiraram gratos à amabilidade do Sr. Júlio Lopes e de sua esposa, mostrando-se ruidosamente contentes, assim provando a excelência da ementa e a graduação dos deliciosos e aromáticos vinhos da lavra do Sr. Júlio Lopes.
Entre os convidados de Lisboa, Vila Franca de Xira, Sobral, Oeiras, Cascais, etc, lembra-nos, ao acaso, termos visto os seguintes Srs.: José Saraiva, Júlio Costa, Teixeira Soares, António Carvalho, Joaquim Marques, Carlos pereira, Pedro Azeredo, Daniel de Oliveira, António Magalhães Feijó, Silvério oliveira, Francisco Xavier Bettencourt de Faria, Augusto Sousa Pina, Adelino Batista, A. L. Carvalho, Francisco Pereira Garrido, Manuel Neves, José Viveiros Rijo, Artur Rosa da Vila, João Borba, Henrique Lemos, Francisco Máximo, Lucas de Matos, Marílio neves, José Marques de Oliveira, Júlio Cassiano, António Lisboa, Manuel Rodrigues das Neves, Artúrio Lameiras Fernandes, Joaquim da Costa Cabral, José Marques Resina, José Maria das Neves, José Marques Simões, Júlio Joaquim Rosa e Ramos, Manuel Matias, António Lacerda, Alberto Lacerda, Dr. Gustavo Carinhas, José C. Ferreira Dias, João Franco, João Manuel Cunha, João Alberto Faria, Carlos Sande Faria, padre José Lopes, Francisco Amaral, Armando Rodrigues Carvalho, Francisco Pote Ferraia, José Duarte, Vítor Garcia, Augusto C. Lopes Viana, Joaquim Merceano Franco, Alfredo Carvalho, José de Bastos e Silva, José Vaz Monteiro, António Lopes Lisboa, Alberto Ferreira dos Santos Junior, Joaquim Dionísio Ferreira, Fernando Lopes Pais, professor João de Deus Figueiredo, António pinto, Elias Silvério da Mata, Manuel Borges da Silva, Adelino Baptista, Francisco Ferreira dos Santos, João Leal de Fariam Francisco Pinto da Costa, Manuel de Oliveira, Avelino da Costa Lopes, António Filipe dos Santos, Manuel Alexandre da Costa Freitas, José Filipe Ferreira, Elias Amado do Patrocínio, João Fonseca Palhoto, Alfredo Quintino, João Batista Rôxo, Alberto Caro Gusmão, etc.
A um grupo de senhoras foi servido o almoço na residência particular daquele nosso amigo, assistidas pela gentileza de sua esposa, Sr.ª D. Maria Lopes Pais.
“Vida Ribatejana” agradece ao seu dedicado e velho amigo, Sr. Júlio Lopes, o gentil convite que lhe foi feito.”

Foi a Caçadas com a família Vaz Monteiro e, numa das muitas caçadas, atrasaram-se e tiveram de pernoitar em Vila Viçosa. O Sr. Vaz Monteiro escreveu um telegrama à esposa a contar o sucedido e pediu ao Sr. prior para enviar o Telegrama para o Palácio do Morgado, residência oficial dos Vaz Monteiro. O Sr. Prior acrescentou ao telegrama "Mata Peru". No dia seguinte, quando chegaram da caçada, o Almoço era peru, o Sr. perguntou à Sr.ª se lhe apetecia, só depois perceberam que tinha sido desejo do Reverendo.

Era Capelão também na Quinta da Granja, que se localiza na freguesia de Cachoeiras; amigo e conselheiro da família Holstein-Beck, conhecidos pelo título de Duques de Palmela.

Quinta da Granja, Cachoeiras - Vila Franca de Xira
(na actualidade)

Quinta da Granja, Cachoeiras - Vila Franca de Xira
(na actualidade)

Capela
Quinta da Granja, Cachoeiras - Vila Franca de Xira
(na actualidade)

Conhecido pela expressão "Senta Senhor Prior", a qual utilizava quando ia à Farmácia da vila de Arruda. Era um Padre muito inovador, tinha um automóvel descapotável, o qual era guardado no Palácio do Morgado.

Em sua homenagem foi-lhe atribuída toponimicamente uma Rua na vila de Arruda: "Rua P. José Lopes".

Rua P. José Lopes, Arruda dos Vinhos

Jaz em campanário distinto no Cemitério de Arruda dos Vinhos.


quinta-feira, 23 de junho de 2016

Dr. Arquimedes da Silva Santos

Arquimedes da Silva Santos nasceu a 18 de Junho de 1921, na Póvoa de Santa Iria, freguesia do concelho de Vila Franca de Xira. Filho de José da Silva Santos (Santiago dos Velhos, Arruda dos Vinhos, 26 de Setembro de 1893) funcionário público da Junta Autónoma de Estradas e de Iria da Conceição Ventura e Silva (Póvoa de Santa Iria, Vila Franca de Xira).


José da Silva Santos com sua esposa D. Iria da Conceição Ventura e Silva e o filho Arquimedes da Silva Santos
Lisboa, 1922


Apesar de ter nascido na Póvoa de Santa Iria, cedo veio viver para Vila Franca de Xira, para uma casa sito na Av. dos Combatentes da Grande Guerra. Foi com os amigos desta cidade, nomeadamente Alves Redol, Soeiro Poeira Gomes, Pato, que se desenvolveu o pensamento neo-realista. 
Arquimedes da Silva Santos

Licenciou-se em Medicina, tendo exercido clínica geral durante 50 anos e foi um dos primeiros neuropsiquiatras infantis portugueses, sendo também um dos pioneiros do movimento da Educação pela Arte e Ciências Pedagógicas. Silva Santos estudou dois anos na Universidade Paris-Sorbonne e regressou a Portugal em 1964 para integrar o Centro de Investigação Pedagógica da Fundação Calouste Gulbenkian.
Foi preso pela Polícia Política e condenado, em 1949, à pena de 18 meses de prisão pelo Tribunal Criminal de Lisboa. Acabou por ter de emigrar para França, pois que não era considerado pessoa respeitável e fiável para poder, como médico, trabalhar num hospital português.
Conciliando sempre o seu interesse pela cultura, já em Coimbra, onde estudou, foi um dos impulsionadores da revista Vértice e desenvolveu actividades no Teatro Universitário e no Ateneu de Coimbra, representando e traduzindo um vasto número de peças. De regresso a Lisboa estagiou em Medicina Interna e em Cirurgia, em Pediatria, Neurologia e em Psiquiatria, sempre como voluntário. Acabou por ser reconhecido como Neuropsiquiatra da Infância, pela Ordem dos Médicos, em 1959
Foi na área da pedagogia que mais se destacou, no Centro de Investigação Pedagógica do Instituto Gulbenkian de Ciências e na Escola Superior de Educação pela Arte do Conservatório Nacional de Lisboa e na Escola Superior de Dança. 
No Centro de Investigação Pedagógica procuravam-se soluções para as dificuldades escolares, sobretudo de origem emocional e afectiva. Recorria-se, entre outras, a técnicas de reeducação da linguagem e da expressividade da criança, utilizando-se técnicas de pedagogia curativa que implicavam relação com a música, o drama, o movimento e as artes plásticas. Foi ai que foi tomando forma a criação de uma Psicopedagogia da Expressão Artística, num primeiro tempo, dando origem, depois, ao sonho de uma Reeducação Expressiva ou uma Arte-Terapia.
Propôs, no início dos anos 70, a criação de dois cursos no Conservatório Nacional, um para Professores do Ensino Artístico, e outro para Professores de Educação pela Arte. Fundador do Movimento Português de Intervenção Artística e Educação pela Arte.
Sobre estas actividades, discorre: “Eu tinha a formação de pedopsiquiatra e vi que a melhor maneira, do ponto de vista educativo, de agir na vida das crianças com dificuldades era através das expressões artísticas, quer seja da música, das artes plásticas, da psicomotricidade, da dança, do drama, etc. …” (entrevista à revista “Noesis” – nº 55-Julho/Setembro 2000). E ainda: “Fui um professor amador que, de algum modo, se profissionalizou. … Como livre pensador e como franco atirador pude fazer aquilo que achava que devia ser. … Dava liberdade aos meus alunos para podermos fazer as coisas de maneira a enriquecermo-nos, a encontrarmo-nos, a sermos. A minha linha de acção era essa. Não era o saber, o ter, era exactamente o ser”. 
Um dos seus pontos fulcrais de tese é de facto, que o desenvolvimento harmonioso de uma criança é o que importa na educação para que ela, no futuro, se encontre a si própria e se encontre com os seus concidadãos.
Participou no filme de António Reis e Margarida Cordeiro “Rosa de Areia”(1988), com um personagem hierático, de cabeleira branca e olhar de sonho, sempre a procurar ver para além do horizonte.
A Fundação Gulbenkian publicou um livro de sua autoria – “Mediações arteducacionais – ensaios dirigidos”, obra que recomendamos a todos os intervenientes em pedagogia e onde se pretende “prosseguir e procurar vias entre a Arte e a Educação”. Na sua introdução pode-se ler: “À escala nacional... Duas dicas dessa prioridade: Jardins-de-infância para todas as crianças portuguesas; Educadoras sensibilizadas para as expressões ludo-expressivo-artísticas”.

                Este autor também pode ser consultado em “Perspectivas Psicopedagógicas”, 1977, e “Mediações Artístico-Pedagógicas”, 1989, de Livros Horizonte. 

Estátua ao Dr. Arquimedes da Silva Santos, Jardim da Quinta Municipal da Piedade, Póvoa de Santa Iria
Foi homenageado pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira com uma estátua, da autoria do Mestre Francisco Simões, a implantar no Jardim do Palácio Municipal da Quinta da Piedade, na Póvoa de Santa Iria. O médico do concelho, pioneiro nacional na área da pedopsiquiatria, foi também um importante pedagogo ligado à Educação pela Arte e um reconhecido poeta, sendo um dos fundadores do movimento neo-realista português.
Com a estátua, a autarquia vai não só qualificar o espaço público como também homenagear uma das mais importantes figuras do concelho.

Foi agraciado com a Ordem do Infante D. Henrique e com a da Instrução Pública.

André Lopes Cardoso

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Casa Típica do Ribatejo

A Casa Portuguesa é uma temática vastíssima, a qual já foi amplamente abordada, no entanto existem pormenores que sinto necessidade de partilhar. Como sabemos, a Casa espelha as pessoas que nela habitam – sociedade – aliás foi através dela que se conseguiu perceber e interpretar muita informação do passado. Os pisos, as divisões, o tipo de materiais utilizados, o aquecimento, a luminosidade, tipologias; informação que tem de ser tida em conta, para percebermos a época e os restantes dados históricos inerentes à habitação.

Portugal é um país com zonas climatéricas muito diferentes e, por isso, o tipo de material em cada região também se altera, tendo impacte na construção e arquitectura. No sul as casas são normalmente caiadas a branco e rebocadas, dado que o clima é quente e seco, quase todas pequenas e térreas. Nestas regiões existem casas com diversas características dependendo da zona, os terrenos são bastante argilosos e calcários, tendo estes materiais qualidades isoladoras. Predominam as cores azuis, verde, ocre e vermelhão, pintadas com uma facha por fora nas partes laterais, janelas e rodapés.

Casa Típica do Ribatejo
De construção térrea e baixa, planta rectangular e um só piso, a casa ribateja é de estilo simples, mas funcional. As divisões principais eram: a cozinha, quartos e arrumações, estas eram dispostas de enfiada.

As primeiras casas eram sem janelas e apenas com uma porta.O telhado e normalmente de duas águas (telhado em forma de V invertido), possibilitando assim o escoamento da água para os dois lados. Nestes telhados utiliza-se telha de canudo com curvatura acentuada. Têm chaminés alongadas perpendiculares ao cume (alto) do telhado.

As paredes são caiadas para protegerem o adobe (blocos de massa, constituída por areia e brita ligados entre si com argila) das intempéries.

O pavimento, por sua vez, é em terra batida, vermelhos ou ocre, regados com aguada de barro; também há quem use soalho corrido, conhecido também como solho.

As guarnições de portas e janelas são de madeira ou de pedra.

Também são frequentes, a eira e a casa da eira, sendo no entanto de pequenas dimensões e geralmente de um piso apenas.

O interior da casa era também pintado a cal ou caiado e como decoração tinham muitos objectos de loiça, como: terrinas, pratos, travessa, canecas, chávenas, bules, entre outros. Era uma decoração variada, dando grande colorido à habitação.

Os elementos mais característicos da arquitectura da cidade, são as janelas e as varandas, que possuem adornos em ferro e muitas flores.


Bibliografia:

As casas Ribatejanas, Alberto Domingos, 2008
Catálogo Carla Rochata
Casas Típicas de Portugal Cultura, Língua e Comunicação Culturas de Urbanismo e Mobilidade


quinta-feira, 17 de março de 2016

Lusitânia e o epígono cavalar

Lusitania

Foi a denominação atribuída ao território Oeste da Península Ibérica, onde viviam os povos lusitanos, desde o Neolítico. Após a conquista romana passou a designar-se Hispânia, cuja capital era Emerita Augusta, actual Mérida.

Relativamente às áreas de território, fazia parte o actual território português a sul do rio Douro, mais o território pertencente à Estremadura espanhola e parte da província de Salamanca. Esta região é uma das possíveis origens ancestrais de Portugal, com foco em Viriato e no movimento que adveio deste.


Lusitânia durante o período do Império Romano

Pensa-se que este território não foi atingido pelo último período glaciar. Assim, subsistiu um grupo equino que terá evoluído, tendo permitido a sua domesticação e posterior equitação superior. Este cavalo sobrevivente, segundo se sabe, viajou para Oriente ao Norte de África e Ásia Menor, até chegar à China.

O próprio Cavalo Lusitano como é conhecido, foi observado há muitos anos por estas paragens e é descendente deste Cavalo Ibérico, antepassado de todos os cavalos que estiveram na base da equitação em todo o mundo. Por ser um território isolado, aqui sobreviveu e evoluiu desde há aproximadamente quinze mil anos, livre de influências até há bem pouco tempo.




Por variadas razões e critérios de selecção, nos últimos trezentos anos aconteceu um fenómeno que dividiu o efectivo da Andaluzia e de Portugal. Estes efectivos afastaram-se, estando o efectivo português mais próximo daquilo que era o cavalo ibérico dito original, antecessor de ambos.

Durante os séculos XIX e XX, o cavalo vem a sofrer diversas intercepções de sangues estranhos, de maneira a conseguir-se uma maior força de tracção. São aproximadamente duzentos anos, mas os efeitos foram nefastos para o equino, conferindo-lhe maior dimensão e peso, retirando-lhe a ligeireza que tanto o caracterizava. Relativamente à “cabeça”, esta também se deteriorou, perdendo-se a “finura”, ardência, vibração.

Anos mais tarde, percebeu-se que os cruzamentos efectuados fizeram com que houvesse um afastamento à raça original, tendo-se perdido as suas características arnazes. Com trabalho, perseverança e inteligência, os criadores conseguiram, com base numa genética fortíssima, produzir cavalos de maior dimensão e com melhores andamentos, capazes de praticar quase todas as modalidades do desporto equestre moderno, recuperando assim as suas características originais, aliás reforçando-as.

Durante os anos 70, particularmente entre 1974 e 1975, Portugal passou por um período bastante conturbado quer ao nível económico, quer politico e social, que acabou por se instalar na região do Ribatejo e do Alentejo, pondo em risco a sobrevivência da raça Lusitana, inspirado numa reforma agrária ignorante advinda de um poder politico desadequado. No entanto, nem tudo foi mau, os interessados nesta raça uniram-se e lutaram contra estas políticas nefastas, evitando a perda das suas propriedades genéticas ou até a sua extinção.
A Revolução passou, mas os ideais e o acreditar no produto nacional fez com que o grupo de principais criadores do Cavalo, presidido por Fernando d’Andrade, definisse com muito rigor o padrão da raça, base de partida fundamental para a melhoria na selecção. Houve, de facto uma redefinição de prioridades, de maneira a colocar o Cavalo noutro patamar, seleccionando-o.

Agradece-se à família Veiga que, de uma maneira persistente, acreditou no cavalo Lusitano e resistiu durante gerações a cruzamentos pouco sérios. No entanto, os génes da raça sobreviveram em todas as Coudelaria, pois a raça andava tipo "mascarada", as caracteristicas originais estavam lá, apenas apareciam "abafadas", devido aos cruzamentos com outros cavalos mais pesados, como foi explicado acima.

Actualmente já existe uma exigência relativamente à suavariabilidade genética. 

É fulcral manter-se as quatro grandes familias dentro do efectivo actual: 


Estas coudelarias são a base da raça Lusitana que hoje conhecemos e que de facto se aproxima, cada vez mais, da original. Sabe-se que a História e os conhecimentos de equitação foram pilares fundamentais na recuperação da raça, como é espectável, daí estarem incluídas as Coudelarias mais afamadas, pois também elas posuíam os criadores de cavalos mais conehcedores da matéria.

Recentemente reuniu-se os jurados portugueses da raça Lusitana, passados cerca de trinta anos da redação do texto que prevê a definição da padronização da raça, e nada foi necessario corrigir, o que a mim me sugere que, o desenvolvimento da raça está em boas mãos e em bom caminho.

Sabe-se que o Cavalo Lusitano está a ser cada vez mais utilizado nas mais diversas áreas e em todo o mundo, como seja:

  • Competição
  • Toureio
  • Arte Equestre

De facto o universo cavalar reune imensa gente, desde curiosos, a entendidos, diletantes e outros tantos, mas o interesse e o encanto pelo cavalo manfesta-se imenso nas artes. 

Segundo Serrão de Faria (Azinhaga, Golegã 1937), "pinto o cavalo lusitano, por nenhum outro animal transmitir sentimentos tão nobres e uma tão grande sensação de liberdade". José Francisco Quelhas Serrão de Faria é conhecido por "pintor do cavalo lusitano". A sua Obra retrata magistralmente sobre o papel, sobre a tela, as “linhas”, dos magníficos ‘filhos do vento’ da Lusitânia.  É com fina sensibilidade, profundo conhecimento e singular arte que representa com os seus pincéis, também os campinos e as suas montadas na sua faina diária, o gado bravo, e a paisagem da lezíria e do espargal. A sua oficina de criação insere-se no Solar dos Serrão, casa de família do século XVI, na Azinhaga. Frequentou cursos de gravura, litografia, serigrafia e xilogravura na Cooperativa de Gravadores Portugueses. Como caudeleiro, foi ainda Presidente do Stud-Book Lusitano e autor de publicações sobre o Cavalo, tais como “Caballus”, “Ginete Ibérico” e o “ Solar do Cavalo”. Autor ainda de outros livros como, “Dois Dedos de Conversa”, “Futebol, Iluminuras e Textos Consagrados”, “ Vales Traçados”, “Lisboa do Rio para as Colinas” e “Olivença”, foi ainda colaborador do jornal “ A Capital” e de vários outros jornais e revistas. Está representado em várias colecções particulares, nacionais e estrangeiras.


Eguada de Alter Real,Serrão de Faria, aguarela, 2011

Jorge José Gomes de Carvalho Alexandre nasceu em Vila Franca de Xira em 1956. Pelas mãos, mas principalmente pela sensibilidade dos Mestres José Noel Perdigão, Júlio Goes, Caldeira Martins e outros que a memória não esquece, saboreia a ternura da aguarela.

É o autor dos retractos dos matadores Vilafranquenses expostos no Café Central, da colecção “ Cenas Taurinas” patentes no pátio Galache, da obra “ Campinagem I” exposta no Salão Nobre da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira e da colecção “ Rdol” patente na Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira. Em 2008 é lançada pela empresa Adine, uma colecção de imanes reproduzindo 5 obras suas e  é responsável pela decoração da maternidade do Hospital Reynaldo dos Santos em Vila Franca de Xira.

Em 1999 recebeu a distinção de mérito cultural da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira.
Certificado pelo Centro de Formação contínua da Universidade do Minho, presta actualmente formação na área da expressão plástica.
Iniciou a sua actividade profissional como cartoonista na revista “ O Século Ilustrado”, nos anos 70 e trabalhou na área da publicidade nas duas décadas seguintes. Expõe desde a década de 80 em Portugal e no estrangeiro, contando no seu currículo com a realização de dezenas de exposições individuais e colectivas e está representado em colecções particulares em Portugal, Espanha, França, Itália, Suécia, Dinamarca, Brasil, Índia, Japão e Noruega.
Detentor de vários prémios na área da pintura, entre os quais, o 1º. E 3º. Prémios na 2ª. Bienal de Benavente, o 1º. Prémio Cidade de Tavira e o 2º. Prémio da Vila de Salvaterra de Magos, o Artista está mencionado  em Arte 98 de F. Infante do Carmo, no anuário Europeu de Arte 2000 e na publicação em Portugal 2001 e no vídeo “ Aguarela-Arte Maior” de Afonso de Almeida Brandão.
É, desde 2002, Presidente da Direcção do GART-Grupo de Artistas e Amigos da Arte, Associação que tem divulgado a Arte enquanto sensibilidade de cada um, num todo, por todo o Mundo.
Com Vítor Casquinha concebe pensamentos como “da Aurora ao Ocaso a Teimosia de Resistir”, o que dá origem ao monumento ao trabalhador rural em Arruda dos Vinhos que cria e executa solicitando a ajuda do Mestre Júlio Carmo santos.
Autor de vários cartazes, sendo em 2008 convidado a criar todos os cartazes da temporada taurina na Praça Palha Blanco em Vila Franca de Xira.


Jorge Alexandre, aguarela, 2015
Beatrice Bulteau nasceu em Sancerre, França, em 1959. Em 1980 instala-se em Portugal e inicia uma nova expressão em aquarelas. Escolhe o cavalo como suporte da sua pintura, desenvolve e aprofunda o seu estudo anatómico, tornando-se uma exímia representante do seu movimento. O Cavalo Lusitano é indubitavelmente um dos mais preciosos tesouros vivos do património cultural português. Bulteau tem-lhe um carinho especial e retracta-o de uma forma única e apaixonada, revelando aos nossos olhos toda a sua beleza , força e coragem, aos quais não nos é possível ficar indiferentes.
Segundo Fernando Tavares Rodrigues in Os Cavalos Mágicos do Bulle, “são estes cavalos que, há mais de trinta anos fascinam Bulteau e nos conduzem a outros espaços onde o sonho e a beleza dão as mãos silenciosas. Os seus cavalos são livres. Viajam em vasos de barro e folhas de papel e relincham e galopam quando olhamos para eles. Não há rigor fotográfico. Há encanto, sensualidade mesmo. À flor da pele”.
Uma inevitável cumplicidade com os materiais e as cores. Os movimentos quase a sair do papel, a força a ensaiar uma coreografia que os vasos tentam, em vão, conter para nós que, incessantemente os descobrimos e repetidamente nos rendemos a essa beleza que matéria alguma pode aprisionar. Em todas as obras de Beatrice Bulteau há um convite ao sonho, que sendo dela, também pode ser nosso. Ela faz-nos sentir, olhar, cheirar. Apetece-nos tocar, montar, domar. Como se todos os cavalos fossem Pégaso e, nós, apenas velhos deuses com pena de ficar….
Beatrice viajou pelo mundo e levou com ela o Cavalo Lusitano sempre representado nas suas exposições. Desde 1984 o seu trabalho tem sido apresentado em 25 estados dos EUA, no Japão, no Canadá, na Europa e recentemente no Oriente e Oriente Médio. Mais recentemente passando por São Paulo na Galeria Romero Britto e Museu Equuspolis, Golegã, Portugal. 


Lusitanos, Beatrice Bulteau, aguarela

Também na Poesia é rei, segundo Alexandre O'Neill In Forte mas fraco (1971):

Nada na mão / algo na v'rilha
remancho as noites / e troto os dias
entre tabaco / viris bebidas
fraco mas forte / de muitas vidas
(que eu já dormi / co'as duas mães
e as duas filhas / que vão à missa
com três mantilhas)

Nada na mão / algo na v'rilha
sofro comigo / luta intestina
(ao bem ao mal / a mesma alpista)
bebo contigo / cerveja uísqui
p'ra que se veja / mais rubra a crista

Nada na mão / algo na v'rilha
encontro a morte / no meio da vida
morte bonita / nada aflita
(ou é da minha / tão fraca vista?)
e tenho sorte

Nada na mão / algo na v'rilha
invisto contra / o zero puro
da minha vida

e duro, duro!

E continuará a inspirar-nos nas mais diversas matérias...
André Lopes Cardoso

quarta-feira, 16 de março de 2016

Picaria à Vara Larga

A picaria é um exercício de domínio do touro, regido sob o signo da serenidade que só os mais hábeis e as melhores montadas permitem. O mérito da vara procede do “temple”, da dilação da reunião entre o cavaleiro a rês, aguentando o homem o touro na ponta do pampilho e na garupa da sua montada. 
A demora do temple é a representação manifesta do domínio de si e do mundo, evocada num conjunto harmonioso de velocidade, de poeira, de vontades dissonantes e riscos: trata-se de “mando”, de impôr-se sobre a resistência do touro. O temple é uma metáfora da domesticação do mundo, é a própria alma.

segunda-feira, 7 de março de 2016

Genealogias da Beira Litoral - Rodrigues Estarreja

Não se sabe a origem da família Estarreja, Rodrigues Estarreja, mas sabe-se que na zona de Cantanhede, particularmente em Cavadas, Covões e Febres, existem alguns indivíduos com este nome.

António Rodrigues Estarreja (Cavadas, Cantanhede 8 de Junho de 1842), filho de António Rodrigues Estarreja e Josefa de Jesus. Sabe-se que esteve algumas vezes no Brasil, nomeadamente em Santos.

Joaquim Augusto Rodrigues Estarreja (1912-1971) filho de Manuel Rodrigues Estarreja (1888-1971) e de Maria Francisca de Jesus (1878-1959).

Joaquim Augusto Rodrigues Estarreja

Virgílio Rodrigues Estarreja, bombeiro em Cantanhede.

Virgílio Rodrigues Estarreja, Cantanhede 1915


Se alguém souber mais algumas informações sobre este apelido, por favor contacte-me.

André Lopes Cardoso

Ferrador

É o profissional que cuida e trata dos membros dos cavalos, nomeadamente dos cascos.
Coloca ferraduras, objecto de ferro que é acoplado ao membro do cavalo, protejendo-lhe o casco; ou simplesmente limpa-lhe o casco e apara.





É uma profissão que teve um enorme decréscimo inerente à utilização do cavalo.

André Lopes Cardoso