terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Oficina Maria dos Cacos


Sabe-se que a Oficina da D. Maria dos Cacos foi uma das antecipadoras da nova dinastia dos célebres oleiros oitocentistas. Começou a produzir por volta de 1820, disseminado a sua arte por imensas feiras da região, vendendo acessórios utilitários, maioritariamente produzidos à roda: fogareiros, assadores de chouriça, púcaros, canecas, bilhas, potes, sendo na sua maioria louça vidrada.
“(...)louça vidrada com as cores tradicionais, obtidas pelo uso de óxidos metálicos que tingiam o vidrado transparente (zarcão) de modo a produzirem o negro, o castanho vinoso, os melados de ferro, o verde de cobre, o branco de estanho, e os escorridos.”
Ainda sem confirmação, mas com grandes evidências foram atribuídas a esta oleira algumas peças de brinco, bilhas de segredo, garrafas figurativas, cavaleiros, bichos, castiçais, paliteiros, assobios.
Manuel Cipriano Gomes, trabalhou na oficina de Maria dos Cacos, tornando-se posteriormente um célebre oleiro. Também conhecido como Mafra, Cipriano Gomes desde cedo tomou contacto com a Cerâmica, pois o seu pai era oleiro. Ganhou experiência na Oficina de Maria dos Cacos e, em 1853, adquiriu-a, apenas com 24 anos. Contou com a ajuda das suas irmãs que, dominavam a técnica da verguinha e com António Joaquim, também conhecido por O Roubado. A sua obra foi tão apreciada que rapidamente chegou à Corte Portuguesa e, foi ainda, o primeiro ceramista caldense que, passou de produtor a produtor-comerciante, tendo aberto posteriormente uma loja, onde expunha os seus produtos. José Palha e Wencislau Cifka (Cifka nasceu em Tscheraditz, Boémia em 1811. Chegou a Portugal como conselheiro de arte do Rei. Os seus conhecimentos de Fotografia fizeram com que abrisse um dos primeiros estúdios em Lisboa, tornando-se, mais tarde, fotografo da Casa Real. De entre o seu vasto reportório de Faianças, destacam-se os Violinos. Desenhou azulejos para o Palácio da Pena. Falece em Lisboa, a 29 de Março de 1884), foram dois grandes colecionadores dos seus trabalhos e, claro está, impulsionaram-no no mercado internacional, pois trouxeram-lhe noticias dos artistas renascentistas Bernard Palissy e Luca Della Robia. Esta introdução de conhecimentos romântico-naturalistas foram uma maneira de preencher o grande conhecimento que Mafra já possuía até então, acabando por enriquecer o seu vocabulário plástico. Esta troca de ideias e conhecimentos com Palha e Cifka permitiu-lhe ainda adaptar os seus trabalhos à Contemporaneidade; a ajuda de Maria José (sua esposa), Mariana e Luísa (suas irmãs), no trabalho da verguinha, foram também peças-chave nos seus projetos. Após beber de todos estes conhecimentos Mafra introduz novas texturas naturalistas: híper-realismo areado, granitado e musgado; vegetação natural e subaquática, peixes, repteis, batráquios, mariscos, aves, símios. Por todas estas conquistas ficou conhecido por Palissy das Caldas.
Mafra também reproduziu a loiça preta de Wedgwood (Josiah Wedgwood (1730-1795) foi um visionário, revolucionou os conceitos de produção, concepção, distribuição, comercialização e utilização, graças ao seu empreendedorismo (século XVIII). Contraria os princípios da manufactura, onde, numa fábrica, há vários artesãos a fazer um objecto de raiz cada um. Foi um excelente ceramista) em vários utilitários de cozinha. O sei jeito de negociar e vender os seus produtos era imenso, percorria as maiores feiras nacionais, tal como Maria dos Cacos (sua patroa), promovendo e disseminando todo o seu trabalho. O showrom  que detinha no Rossio era onde parava a clientela mais abastada da cidade, incluindo ainda a Corte e a Família Real. A partir de 1870, com o apoio do Rei D. Fernando, começou a utilizar a coroa da Casa Real nas suas peças, tornando-se fornecedor da mesma. Foi nesta altura, 1873 e 1879, que Mafra arrebatou prémios nas Exposições de Viena, Filadélfia, Paris, Rio de Janeiro.
Com toda esta carga simbólica e imagética, Cipriano Gomes foi um dos mais notáveis artistas caldenses, influenciando fortemente os seus contemporâneos.



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