domingo, 17 de junho de 2012

Colete Encarnado



É a festa mais castiça do Ribatejo. Foi idealizada pelo lavrador José Van-Zeller Pereira Palha, em 1932 e decorre em Vila Franca de Xira, tendo como ponto fulcral a Homenagem ao Campino, personagem ilustre nas terras ribatejanas.

Campino

Campino

Maioral

O campino é um “cowboy à portuguesa”, pois trabalha no campo, ou seja, é um trabalhador do campo cavaleiro. É uma personagem-tipo que representa um grupo social, os escudeiros ribatejanos e, tem como tarefa predominante, conduzir gado, especialmente touros. A sua indumentária é também bastante característica e cheia de pequenos pormenores. O barrete verde com dobra encarnada é um dos símbolos que mais o destacam perante os outros trabalhadores (lavradores), camisa branca, colete encarnado e jaqueta sobre o ombro esquerdo. Na cintura possui uma faixa encarnada, calça azul e meias brancas até ao joelho, estas profusamente desenhadas e sapatos pretos com esporas, para picar a montada. Para facilitar a sua fascina diária possuem também um pampilho, que é utilizado na condução do gado.

O Colete Encarnado comemora-se no primeiro fim-de-semana de Julho e traz imensos turistas à pequena cidade, invadindo as estreitas ruas e ruelas. Touros são largados nas ruas, de modo a que os festeiros brinquem com eles e mostrem os seus dotes tauromáquicos. Alguns aventuram-se, mostrando aquilo que valem, na esperança que algum toureiro os contacte para fazer parte da sua equipa.

A noite característica é a de Sábado, onde a Câmara Municipal oferece sardinhas, pão e vinho a toda a população. O cheiro é completamente proliferado por toda a cidade. Existem palcos com animação itinerante, fandango, bailes, concertos.




“-eis a legenda que se adapta, como uma luva, à época que corre durante a qual tem a sua expressão máxima, essa Lezíria que é o nosso orgulho. Enche-se a planura de risos e benesses. As ceifas avizinham-se e pelos campos – Sol ao alto – não há viv’alma. Tudo amodorra e se prepara para a grande festa da eira – o grão a surgir como pepitas de ouro, bem mais preciso por ir ao encontro da fome e despejar no estômago do povo o saboroso pao do almoço.
                  FESTA DO COLETE ENCARNADO – legenda heroica de terra que cria o pasto tenro e alimenta o touro, o dominador da Lezíria. É êle – o Colete Encarnado – o símbolo da festa pagã por excelência – a corrida. Drapejam estandartes, salpica-se o ambiente de gritos e de sons e o lavrador, satisfeito, tira da bravura ou da fraqueza dos animais, ensinamentos para a próxima experiência.
                  FESTA DO COLETE ENCARNADO... mas já se ouvem os primeiros alarmes. A apartação terminou e os touros, enquadrados pelos cabrestos, pelos campinos e não poucos amadores. Vêm, a passo, pelo campo. As primeiras casas surgem. Um ou outro atrevido... mas a calma dos animais não se altera. Mais uns passos... a poalha doirada do sol cede um pouco do terreno conquistado à sombra dos muros, das árvores, das casas... os primeiros gritos de povoação... o apêrto do quadrado que envolve os touros e ei-los que, em desfilar rápido – friso magnifico de impetuosidade – se atiram para a frente.
                  -Aí estão eles...Eh!boi... pega-lhe de cara... aguenta-te...
                  É uma aguarela viva. Há panos que se revolvem no ar; corpos que se esgueiram nos portais; bôcas abertas numa gargalhada provocante. A rua é um friso animado de mulheres bonitas e de flôres. Os campinos são a nota rubra da manhã...
                  FESTA DO COLETE ENCARNADO... legenda de Vila Franca – a guarda avançada da lezíria.”

Citado do Jornal “O Ribatejo”, Ano II – Nº 78-79, Vila Franca de Xira, 11 de Julho de 1937


Esta imagem e respectiva descrição constam da capa do Jornal “O Ribatejo”, jornal este que fazia as resenhas semanais regionais, tendo como diretores o Sr. José Maria Guedes e Sr. Josué Rodrigues Malta.

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