sábado, 23 de junho de 2012

A Arte Estadista


Os momentos de crise são os momentos em que mais se produz, de modo a combater essa mesma crise. No caso das crises meramente económicas (que nunca são meramente económicas) costuma dizer-se que são como um elixir para a Arte e, quando falo em Arte, falo em Arte de uma maneira geral, como a Pintura, Escultura, Arquitetura, Design.

Walter Benjamin (1892-1940) foi um enorme filósofo, crítico literário, ensaísta alemão. Um dos seus ensaios mais marcantes é “A obra de Arte na época da sua reprodutibilidade técnica”, no qual Benjamin confronta a Arte com a Política. Neste valoroso ensaio, Benjamin debate a tese da estetização da política feita pelo Fascismo, introduzindo um problema para o agir comunicacional. De modo a contrapor o movimento fascista, sugere-se o Comunismo como entidade capaz de ainda trazer valorosos contributos para a politização da arte. Para Beijamin, o "aqui e agora", possibilidade de estar perto de um objecto autêntico é irrepetível denominando-o por aura do objecto. Para o filósofo a aura é quase como algo sagrado (sacralização) na experiência estética. A revolta surge com a reprodução técnica (iniciada com a Revolução Industrial), pois quase que acaba com o lado "sagrado" (aura), porém a reprodução técnica é mais próxima do objecto do que a interpretação que cada um faz dele. Assim sendo, a reprodução técnica des-sacraliza a obra de arte, o que leva à sua laicização, perde-se o "aqui e agora", a aura e a autenticidade da obra. 
Relactivamente à autenticidade da obra, quando há reprodução técnica existe maior autenticidade, do que quando há reprodução manual, porque esta última, por muito minuciosa que seja, é sempre imperfeita e tem sempre, por mais pequeno que seja a marca da mão do autor da reprodução - o reprodutor é um intérprete e como tal não pode reproduzir a totalidade da obra, apenas uma aproximação. Já a reprodução técnica permite fruir uma obra em diferentes espaços e tempos.
Cada objecto tem uma história de uso (vida útil dos objectos), esta acrescenta valor aos objectos seriados, tornando-os vencedores de uma nova aura e, por vezes, de um novo significado.
Em suma, podemos concluir que a reprodução técnica permitiu a uma massificação do valor de exposição da obra, o que fez reduzir o seu valor de culto, aumentando o número de pessoas com acesso à obra. A partir do momento em que a reproductividade da obra aumenta, o seu valor de culto diminui, porque a imagem é desvalorizada, embora o seu valor de exposição aumente. (deixa de ser "mágica" e passa a ser "arte" - ex: fotografia).

Atualmente sabe-se que são concebidas imensas obras de arte “antipolítica”, mas por vezes nem reparamos, pois o cariz político está completamente imbuído na obra, carecendo de valiosas avaliações para decifrar - o público é um examinador distraído.
As Ditaduras apropriavam-se das tecnologias que possibilitavam a reprodução técnica das imagens (cinema e fotografia) numa tentativa de estetização da política (tornar a política apelativa e aliciante) com o objectivo de insentivar e exaltar a guerra. A guerra dá expressão aos desejos básicos da sociedade humana e entretem e mantém alienados os pobres, defender os direitos das elites e promove uma "limpeza" étnica e social convenientes às elites que reconstituem a Economia e os sistemas do Pós-Guerra. 

O cartoonista António Antunes é um exímio nesta arte, pois “pega” em qualquer coisa, tanto de política, com de outro qualquer tema para desenhar ou caricaturar. Neste exemplo denominado por “O esforço da Grécia” de 2011, António tenta colocar o ministro George Papandreou a andar de bicicleta só com uma roda e sem selim – tarefa complicada. Esta tarefa é uma comparação com a situação financeira que a Grécia está a atravessar. Indo mais longe, o “carreto” da bicicleta é a União Europeia, que vai aguentando por linhas a dívida grega, já a roda (aquilo que faz andar a Grécia) é o EURO (moeda). Esta comparação é de excelência, pois faz uma ponte perfeita com a dramática “tragédia grega”.
Com este exemplo, António através da Arte, consegue passar uma mensagem política – estetização da Política.

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