A entrada estava aberta, pouca gente se movimentava
pela capital. O tempo não ajudava, caiam chuviscos e estava um “calor estranho”
que fazia os corpos suarem de desespero. No cimo do monte começou-se a
verificar algum movimento, mas ainda assim pouco, se calhar devido ao olhar
atento das autoridades que asseguravam todo o local.
Havia alguma animação, pouca, mas que ia alegrando
os foliões nesta festa. Existiam alguns palcos distribuídos por todo o cenário,
que iam enquadrando e iam dando vida ao espetáculo que tantos ambicionavam ver.
Desde danças, a karaokes, brindes, os farristas iam começar a divertir-se e a
darem o seu cunho pessoal à festa.
Cerca das 19 horas começou a primeira banda – The Gift – com a grande vocalista Sónia,
detentora de uma voz forte, potente, convicta, com a enorme responsabilidade de
abrir o maior palco que eu já tinha visto na vida. Arrasou com temas bem
conhecidos – Primavera – se calhar foi o mais arrebatador, conseguindo chegar a
toda a cidade. De entre alguns piropos, Sónia conduziu bem a sua banda,
extremamente cautelosa à critica que poderia surgir à posteriori.
Seguiu-se a menina loura londrina, com a voz
nasalada - Joss Stone – já bastante
conhecida em Portugal, pois o ano passado estivera no Terreiro do Paço (Lisboa)
a presentear um grande concerto. Se não soubéssemos antemão que era londrina,
rapidamente perceberíamos devido ao seu sotaque bem vincado e ao seu gosto pelo
chá, que se observou durante todo o recital. A meu ver, foi um pouco
exibicionista aquando abordava o frenético publico, apresentando um inglês bem
marcante, que poucos percebiam, atirando por terra muitas cabeças convictas que
eram bons falantes da língua padrão.
Bryan Adams não sei se foi uma surpresa ou se foi mesmo uma
explosão de anfetaminas. Aos 52 anos, não se deixou ficar, cantou e encanto
todas as gerações presentes, com garra e determinação. Escusado será dizer que
todo aquele show off de beach boy que me irrita, deixando-me
num estádio de nervos. Cantou temas bastantes conhecidos – nada que não se
esperasse – mas saiu por cima quando foi buscar a cantora Vanessa Silva, esta
grande fã das suas músicas. Juntos cantaram o tema “When your gone” , o qual
ressuscitou muitos pés cansados que se vincavam contra o chão de terra. Vanessa
Silva, personagem já bastante conhecida do público português, representou muito
bem o país que a acolhe – já trabalhou em coros, programas da manhã, e
atualmente no espetáculo de Filipe La Féria intitulado “Judy Garland”.
Após este grande momento o espetáculo voltou ao que estava a ser,
acabando cerca de dez minutos depois.
A espera foi longa, mais de uma hora, mas por volta da 01h da
manhã começa-se a ouvir um sintetizador e eis se não quando começam a surgir os
músicos e banda de STEVIE WONDER. O sintetizador ecuava em toda a cidade
aumentando gradualmente o ritmo, motivando cada vez mais o publico cansado. A
entrada do rei do soul deu-se momentos depois, conseguindo entrar pelo seu
próprio pé no palco mundo, foi um momento de extrema emoção, o qual culmina
quando Stevie se deita no chão a tocar o sintetizador freneticamente. Este
senhor canta imenso é uma referencia para muitos cantores em todo o mundo, ele
consegue encher casas e casas, nunca perdendo a sua boa disposição e
conseguindo assim angariar cada vez mais fãs. Eu já o era, mas depois de ontem,
comecei a ver o mundo de outra maneira. Stevie canta o amor, canta a paz, a
harmonia, a beleza, a proporção – é um cantor do mundo – com uma voz forte e
vibrante, Stevie sente vincadamente cada palavra que profere, é um fenómeno, é
um cantor que recebeu mais de 25 Grammys,
é o Rei da Soul.
Aos 62 anos, não se deixou vencer pelo cansaço e cantou temas
célebres como “Isn’t she lovely”, “I just cal to say I love you” – com o groove
que tanto o caracteriza – conseguiu estarrecer o publico que tanto o ambiciosa
ouvir e ver.
Trocando freneticamente entre os dois órgãos que trazia, fazia
vibrar o publico a cada minuto, tocando também, pontualmente, a sua famosa
gaita de beiços. Mas um dos grandes momentos da noite foi quando cantou a
música “Overlay” seguida pela “Mon Cherrie Amour” conseguindo levar-me a um
estádio muito sensacional, ficando com goosebumps
durante todo o momento. Foi o paraíso
ter ouvido aquelas duas canções, o publico silenciava, pois queria ouvir cada
palavra como se fosse a última. Acho até que este concerto foi uma lição de
vida, Stevie quis mostrar o potencial de cada individuo, pois não é por sermos
diferentes que somos inferiores, ele é o grande exemplo de isso mesmo, lutou e
conseguiu ter o seu próprio lugar ao sol. Cantou o amor, a paz, a harmonia
entre os povos e disse que nos levava no coração, parece que estivemos bem no
papel de público, disse também e isso percebi depois que, o nosso apoio foi
importante durante o espetáculo. Ao cantarolar-mos “LALALA TATATA BADABIM”
estamos a mostrarmo-nos perante Stevie e, só assim, ele consegue perceber se
está a passar a mensagem, obtendo um bom feedback.
Após toda esta chuva de acontecimentos, Stevie despede-se, mas o
público não queria de todo que o rei se fosse embora e, tanto aplaudiu que
Stevie voltou e cantou mais dois temas, fechando o concerto duas horas após o
início.
“LALALA LALALA
My cherie amour, lovely as a summer day
My cherie amour, distant as the milky way
My cherie amour, pretty little one that I adore
You're the only girl my heart beats for
How I wish that you were mine “
Depois de consumado este momento, o público começou a
dissipar-se e eu a não esquecer o que vivi neste dia.
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