O Neoclassicismo foi uma
espécie de travão ao progresso tecnológico. Josiah Wedgwood (1730-1795) foi um
visionário, revolucionou os conceitos de produção, concepção, distribuição,
comercialização e utilização, graças ao seu empreendedorismo (século XVIII).
Contraria os princípios da manufactura, onde, numa fábrica, há vários artesãos
a fazer um objecto de raiz cada um. Foi um excelente ceramista.
Em 1759, começou o seu
próprio negócio, sugerindo a divisão do trabalho entre o artista e o artesão. O
artista é como que o chefe, pois tem de decidir o que quer fazer, escolher os
materiais, para depois instruir os artesãos. Quanto mais ignorantes forem os
artesãos mais fácil é ensinar-lhes os passos da produção sem lhes dar margem
para inventar. O processo de produção dividido por etapas veio trazer um maior
rigor. Cada artesão faz uma parte da peça, sem ter consciência do todo
(aproxima-se à produção em série, embora sem mecanização). O conceito consistia
em impedir que os artesãos façam alterações na peça e se limitem a executar com
competência a sua tarefa, tentando combater as imperfeições e diferenças.
Relativamente às
características do trabalho manual do artesão, este tem de racionalizar os
recursos, por exemplo, operários pouco qualificados fazem tarefas mais simples,
pouco elaboradas e recebem menos. Desenho racional dos outputs, afinação de resultados, por exemplo, uma nova cor bege (“creamware”) e afina o seu processo de
produção para que seja sempre igual (creamware
ou
queensware, porque a rainha adorou este bege, então decidiu que se
poderia chamar desta maneira). Este
processo permitia a reposição e o acrescento de peças de um serviço sem ter que
comprar um serviço inteiro novo.
Fábrica de Josiah Wedgwood, nos arredores de Londres |
Wedgwood percebeu também que
não é conveniente ter no mesmo espaço produção e comercialização. Descobre
então que é mais vantajoso deslocar a fábrica para fora da cidade, para um
local com maior e mais fácil acessibilidade a matérias-primas e energia –
reduzindo os custos de transporte. Esta deslocalização permite-lhe também uma
ampliação da fábrica (na nova localização os terrenos à volta da fábrica estão
livres e são mais baratos) – angariação de mão de obra barata. Todas estas
vantagens relativamente aos concorrentes são muito importantes, porque ao
baixar os preços da produção, consegue praticar preços mais baixos nas suas
peças.
Wedgwood introduz também o
conceito de showroom. A loja tinha de
estar bem localizada, no centro da cidade, tendo um bom espaço para exposição,
bem mais reduzido do que o espaço anterior, que englobava também o espaço de
produção, logo mais económico. O showroom
deveria ter o mesmo aspecto que as zonas onde vão ser fruídos os seus aspectos
– posicionamento dos produtos. Na loja não se vende nada, apenas se mostra e
encomenda. O produto era tão bom que as pessoas não se importavam de esperar
por ele – extinção de stocks. Faz exposições
com o tamanho real dos produtos para garantir a máxima fruição nas amostras que
proporciona na showroom, criando
empatia entre os produtos e os potenciais clientes. O conceito (de valor
acrescentado dos produtos) de ter de esperar pelo produto, aumenta a ansiedade
e o desejo, logo aumenta o valor do produto, saciando a necessidade da
burguesia ávida de gastar dinheiro e consumir bens. Estas encomendas eram
feitas por correio e entregues em casa do cliente.
Vaso Portland, em preto e branco |
Wedgwood foi um visionário,
criou motivos para que as pessoas visitassem a sua loja. Fez uma réplica em
porcelana preta (que mais ninguém sabia fazer) do vaso Portland (vaso raro e ancestral) e expõe-no na sua loja. Não era
possível comprá-lo, por isso cobrava bilhetes para as pessoas entrarem e poderem
admirá-lo. Este desejo fervoroso de novidade, desencadeia muito uma economia
consumista, as pessoas apreciam aquilo que não podem ter.
As suas lojas, para além de
espaço de exposição, são também um espaço de convívio. As pessoas juntavam-se
para irem fruir do espaço, o que as fazia querer aplica-lo em casa. Josiah produziu algumas
peças que permitiam banalizar os rituais do chá, do café e do chocolate, em
Inglaterra.
A necessidade de expandir
todo este negocio, todo este comércio, para o resto da Europa e Estado Unidos
da América faz Wedgwood desenvolver o conceito de “caixeiro viajante”. Este
“caixeiro viajante” era a pessoa que viajava para um determinado território
numa época previamente definida para visitar lojas e fornecedores das marcas,
para mostrar os seus produtos e criar a oportunidade de negocio. Levava
amostras e um catálogo para que os donos das lojas pudessem fazer encomendas,
que eram posteriormente entregues nas lojas. O método de pagamento dos
caixeiros era à comissão, quanto mais vendesse, mais ganhava, por exemplo,
prémios e louvores – incentivo ao trabalho.
Josiah Wedgwood só não
inventa a venda a prestações, o catálogo e o conceito de espaço total. O
primeiro catalogo foi inventado pelo marceneiro britânico Thomas Chippendale (1718-1779),
bem como o conceito de espaço total. Apercebe-se que as pessoas não queriam
comprar as peças isoladamente, mas sim as divisões inteiras, cria-se a
necessidade terem as divisões a combinar, criando os traços de familiaridade
entre os objetos – família de objetos. Wedgwood faz também têxteis e
proporciona aos clientes a hipótese de combinar estofos e cortinas.