Estas figurinhas, cujas caixas serigrafadas (50 X 45 X 30 mm) as
envolvem e protegem, são de uma excelente execução e de um fino humor. Apesar
de fugirem à temática popular, estas são obras de um “popular erudito”, pois rementem para costumes citadinos, mas
concebidas com materiais populares. Das várias figuras observadas, nenhuma
remete para a tradicional tema folclore, nem para a varina, minhota, pescador,
pastor. Estas miniaturas (49 X 28 X 35 mm) a que possivelmente Thomaz de Mello
deu expressão e mais valia e que hoje são guardadas por colecionadores e
admiradores, fizeram o seu caminho, lembrando que existe toda uma arte
portuguesa, por detrás da dita popular, advinda da atividade campestre ou da
pastorícia (Paula, 2012).
Polícia com criança, Thomaz de Mello |
Thomas de
Mello, prosaicamente conhecido por Tom é um artista, caricaturista
brasileiro-português, nascido no Rio de Janeiro em 1906 e falecido a 1990, em
Lisboa. Com apenas 20 anos veio para Portugal, acompanhando a Companhia de
Teatro de Leopoldo Fróis. O seu reportório artístico é abrangente desde a
Pintura ao Desenho, passando pela Caricatura, Banda Desenhada, Tapeçaria, Design
Gráfico, Design de Interiores, Design Industrial, Cerâmica, fazendo-se
pertencer assim a uma geração conhecida como “modernistas portugueses”. Participou
em todas as Exposições de Arte Moderna do Secretariado de Propaganda Nacional /
Secretariado Nacional de Informação (S.P.N. / S.N.I.), recebeu vários prémios
artísticos, destaca-se o Prémio Francisco de Holanda, em 1945. Foi dirigente da
Galeria UP, no Chiado e juntamente com Carlos Botelho, Berardo Marques e Fred
Kradolfer dirigiu a equipa de decoradores do S.P.N., ficando assim encarregue
da implementação dos pavilhões de Portugal nas exposições de Paris, Nova Iorque
e São Francisco. Em 1937 obteve o Prémio de Decoração e de Artesanato, na
Exposição de Artes e Técnicas de Paris (França, 1974).
Vasco Santana interpelando um candeeiro no filme "A Canção de Lisboa de Cotinelli Telmo, Thomaz de Mello |
Foi com estas pequenas figuras que Tom começou a
despertar as mentes prosaicas e pensantes e a partir de 1935, concebeu a
estrutura e modelação dos corpos e cabeças, tornando mais fácil a sua produção.
Ao observarmos estas peças, tudo nos leva a crer que o autor seja Thomas de
Mello, pois são reveladoras do traçado e modelação de Mello, mas não foram
descuradas as hipóteses de pertencerem a Manuel Piló também ele autor de
bonecos de madeira (Paula, 2012).
Manuel Piló ou simplesmente Piló, nascido em Lisboa
no ano de 1905, foi um desenhador, caricaturista, ceramista, designer,
publicitário que viajou pelo mundo em busca de conhecimento artístico, acabando
por viver na Argentina, nos Estados da América e no Brasil. Os postais
reportando aos costumes portugueses são exemplares da sua obra mais popular,
ilustrações estas conseguidas recorrendo á técnica de pouchoir (stencil), a
qual tinha aprendido numa das suas viagens a Paris. As suas peças gráficas são
a personificação bidimensional das suas peças cerâmicas populares, criando
objetos articulados de madeira ou papel, pintados com cores populares,
remetendo-os para uma espécie de artesanato
urbano, com recurso a minimalismo gráfico. Não existem grandes referências acerca do seu trabalho visto ter
sido desenvolvimento em grande parte no Brasil, acabando por retratar parte do
folclore brasileiro, mas sabe-se que criou as Histórias do Tempo Esquecido, uma espécie de almanaque que continha
bonecos planificados em papel, prontos a armar. Estes bonecos suscitavam, de
alguma maneira, o divertimento e a pedagogia, fazendo com que a criança
desenvolvesse o sentido de construir e conjugar as diferentes partes, levando à
reflexão e ao inventivo (Almanach Silva, 2011).
Padeiro, boxer,..., Thomaz de Mello |
No Museu de Arte Popular encontram-se cerca de 82
bonecos da coleção de Thomas de Mello, representando vários tipos de bonecos
que envergam os trajes tradicionais portugueses. As miniaturas apresentadas
talvez sejam uma tentativa de merchandising
turístico, cujo titulo “Miniaturas Portuguesas” o justifica. As profissões
representadas como cozinheiro, policia, palhaço, bóer, faquir, halterofilista,
chinês, esquiador, sambista, em nada lembram as figuras populares portuguesas
que se faziam por esta altura, acabando Mello por colocar estas miniaturas
portugueses num patamar de contemporaneidade e de modernismo, abandonando aspectos
etnográficos e folclóricos, tentando representar um Portugal cosmopolita e
citadino (Paula, 2012).
Figura de Thomaz de Mello |
André Lopes Cardoso
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