quarta-feira, 13 de março de 2013

Miniaturas Portuguesas


             Estas figurinhas, cujas caixas serigrafadas (50 X 45 X 30 mm) as envolvem e protegem, são de uma excelente execução e de um fino humor. Apesar de fugirem à temática popular, estas são obras de um “popular erudito”, pois rementem para costumes citadinos, mas concebidas com materiais populares. Das várias figuras observadas, nenhuma remete para a tradicional tema folclore, nem para a varina, minhota, pescador, pastor. Estas miniaturas (49 X 28 X 35 mm) a que possivelmente Thomaz de Mello deu expressão e mais valia e que hoje são guardadas por colecionadores e admiradores, fizeram o seu caminho, lembrando que existe toda uma arte portuguesa, por detrás da dita popular, advinda da atividade campestre ou da pastorícia (Paula, 2012).

Polícia com criança, Thomaz de Mello

                 Thomas de Mello, prosaicamente conhecido por Tom é um artista, caricaturista brasileiro-português, nascido no Rio de Janeiro em 1906 e falecido a 1990, em Lisboa. Com apenas 20 anos veio para Portugal, acompanhando a Companhia de Teatro de Leopoldo Fróis. O seu reportório artístico é abrangente desde a Pintura ao Desenho, passando pela Caricatura, Banda Desenhada, Tapeçaria, Design Gráfico, Design de Interiores, Design Industrial, Cerâmica, fazendo-se pertencer assim a uma geração conhecida como “modernistas portugueses”. Participou em todas as Exposições de Arte Moderna do Secretariado de Propaganda Nacional / Secretariado Nacional de Informação (S.P.N. / S.N.I.), recebeu vários prémios artísticos, destaca-se o Prémio Francisco de Holanda, em 1945. Foi dirigente da Galeria UP, no Chiado e juntamente com Carlos Botelho, Berardo Marques e Fred Kradolfer dirigiu a equipa de decoradores do S.P.N., ficando assim encarregue da implementação dos pavilhões de Portugal nas exposições de Paris, Nova Iorque e São Francisco. Em 1937 obteve o Prémio de Decoração e de Artesanato, na Exposição de Artes e Técnicas de Paris (França, 1974).

Vasco Santana interpelando um candeeiro no filme "A Canção de Lisboa de Cotinelli Telmo, Thomaz de Mello


Foi com estas pequenas figuras que Tom começou a despertar as mentes prosaicas e pensantes e a partir de 1935, concebeu a estrutura e modelação dos corpos e cabeças, tornando mais fácil a sua produção. Ao observarmos estas peças, tudo nos leva a crer que o autor seja Thomas de Mello, pois são reveladoras do traçado e modelação de Mello, mas não foram descuradas as hipóteses de pertencerem a Manuel Piló também ele autor de bonecos de madeira (Paula, 2012).
Manuel Piló ou simplesmente Piló, nascido em Lisboa no ano de 1905, foi um desenhador, caricaturista, ceramista, designer, publicitário que viajou pelo mundo em busca de conhecimento artístico, acabando por viver na Argentina, nos Estados da América e no Brasil. Os postais reportando aos costumes portugueses são exemplares da sua obra mais popular, ilustrações estas conseguidas recorrendo á técnica de pouchoir (stencil), a qual tinha aprendido numa das suas viagens a Paris. As suas peças gráficas são a personificação bidimensional das suas peças cerâmicas populares, criando objetos articulados de madeira ou papel, pintados com cores populares, remetendo-os para uma espécie de artesanato urbano, com recurso a minimalismo gráfico. Não existem grandes referências acerca do seu trabalho visto ter sido desenvolvimento em grande parte no Brasil, acabando por retratar parte do folclore brasileiro, mas sabe-se que criou as Histórias do Tempo Esquecido, uma espécie de almanaque que continha bonecos planificados em papel, prontos a armar. Estes bonecos suscitavam, de alguma maneira, o divertimento e a pedagogia, fazendo com que a criança desenvolvesse o sentido de construir e conjugar as diferentes partes, levando à reflexão e ao inventivo (Almanach Silva, 2011).

Padeiro, boxer,..., Thomaz de Mello

No Museu de Arte Popular encontram-se cerca de 82 bonecos da coleção de Thomas de Mello, representando vários tipos de bonecos que envergam os trajes tradicionais portugueses. As miniaturas apresentadas talvez sejam uma tentativa de merchandising turístico, cujo titulo “Miniaturas Portuguesas” o justifica. As profissões representadas como cozinheiro, policia, palhaço, bóer, faquir, halterofilista, chinês, esquiador, sambista, em nada lembram as figuras populares portuguesas que se faziam por esta altura, acabando Mello por colocar estas miniaturas portugueses num patamar de contemporaneidade e de modernismo, abandonando aspectos etnográficos e folclóricos, tentando representar um Portugal cosmopolita e citadino (Paula, 2012).

Figura de Thomaz de Mello


André Lopes Cardoso

Sem comentários:

Enviar um comentário