Cavalhadas
Vil Moinhos é
uma pitoresca povoação junto a Viseu. A sua forte ligação com moinhos e
moleiros explicam o nome adotado, o qual derivou de Villa de Molinis. Os moleiros de Vil de Moinhos trabalham o cereal
até chegar ao resultado de farinha, a qual é posteriormente trabalhada pelas
habilidosas padeiras, estando na base da famosa produção de broa fina, a qual
era vendida no mercado. Segundo a história contada pelos velhos moleiros, o rio
Pavia era disputado pelos lavradores e pelos moleiros, os primeiros para
regarem as hortas, os segundos para as mós. Para que perpetuassem as águas do
rio, os moleiros estabeleceram um voto perpétuo a São João Batista, recorrendo
o rio Pavia, “vencendo” a disputa contra os lavradores, prometendo uma romaria
anual à capela de São João, a 24 de Junho. Em 1652, segundo conta a tradição
foi iniciada a romaria à capela, provando a vitória dos moleiros. O cortejo da
romaria é bastante variado, sendo os mordomos e os moleiros os principais
intervenientes. O cortejo de moleiros chegou a incluir mais de cem cavaleiros,
trajados a rigor, como da nobreza se tratasse. Segundo as normas do cortejo, na
frente seguem os três mordomos e o alferes, o qual é o transportador oficial da
bandeira dos moleiros, os quais eram seguidos pelos moleiros, também eles a
cavalo. Deste modo, todos seguiam no cortejo até ao local do cumprimento do
voto.
Atualmente, o
cortejo está um pouco alterado, mas a génese geral, manteve-se. Os carros
alegóricos que alegram a romaria foram introduzidos posteriormente, mantendo-se
os mordomos, o alferes e centenas de homens lembrando os velhos moleiros. Foram
introduzidos os Zés-Pereiras[1]
(grupo criado especialmente para o dia das Cavalhadas) que animam o corso, bem
como os Gigantones[2], caricaturando
e animando a população. Os carros alegóricos são muito importantes, pois são
eles que vão oferecendo alguma dinâmica ao corso, introduzindo temáticas mais
contemporâneas e relembrando outras clássicas, não descurando as atividades
tradicionais, como a serração manual de madeira, celebração do amor, entre
outros. O início do cortejo dá-se pela manhã do dia 24 de Junho, reunindo todos
os intervenientes no largo da povoação, percorrendo de seguida as principais
ruas de Viseu, em direção à capela, regressando depois a Vil de Moinhos. Os
carros alegóricos normalmente não vão até a capela, pois as grandes dimensões
impedem-nos de prosseguir pelas apertadas ruas e travessas, seguindo somente os
mordomos, em jeito de cumprir o voto histórico. Este cortejo tradicional
transformou-se num importante evento turístico, convidando imensa gente de todo
o país a visitar Viseu.
[1] Os grupos chamados "Zés-Pereiras" são característicos das
festas e romarias do Norte de Portugal com maior incidência para o Entre Douro
e Minho. Estes grupos desfilam pelas ruas tocando instrumentos de percussão -
caixas de rufo, timbalões e bombos; assim como aerofones melódicos: pífaros e gaitas-de-foles. Recentemente a concertina, instrumento de grande expressão no Minho, tem sido introduzida
nestes conjuntos.
[2] O gigantone é um
boneco de figura humana com 3,5 a 4 metros de altura, típico das festas
populares portuguesas, romarias e cortejos de carnaval. O boneco tem uma estrutura que permite ser “vestido” e é
inclusivamente manuseado por uma pessoa no seu interior. A cabeça de grandes
dimensões é concebida em pasta de
papel, e o resto da estrutura pode atingir
trinta quilos, peso suportado pelos ombros do manuseador e que faz com que a
amplitude de movimentos do boneco seja limitada. Os gigantones não aparecem
sozinhos, mas em par ou grupos de casais, envergando trajes de cerimónia ou
populares, e desfilando ao ritmo de música tocada por zés-pereiras. Podem ser acompanhados por cabeçudos,
bonecos mais pequenos (tamanho de uma pessoa) com uma cabeça enorme e
desproporcional relativamente ao corpo. A cabeça, também feita em pasta de
papel, é usada como uma espécie de capacete, e as roupas são mais informais e
coloridas que as dos gigantones, podendo mesmo personificar monstros ou
demónios. Com maior liberdade de movimentos que os gigantones, os cabeçudos
dançam e movimentam-se alegremente como um rancho de filhos ou uma corte
animada ao seu redor. No Minho também são conhecidos por almajonas. Pensa-se que o primeiro gigantone data de 1265, aquando da
Procissão do Corpo de Deus, em Évora. A representação simbólica representa a
serpente, o demónio e o dragão, os sacramentos que Jesus tinha vencido. Existem
imensas referências que registam a sua aparição também no Norte do país,
notando erroneamente que a introdução do gigantone veio da Galiza nos finais do
século XIX.
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