quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

As Cavalhadas de Vil Moinhos


Cavalhadas

                  Vil Moinhos é uma pitoresca povoação junto a Viseu. A sua forte ligação com moinhos e moleiros explicam o nome adotado, o qual derivou de Villa de Molinis. Os moleiros de Vil de Moinhos trabalham o cereal até chegar ao resultado de farinha, a qual é posteriormente trabalhada pelas habilidosas padeiras, estando na base da famosa produção de broa fina, a qual era vendida no mercado. Segundo a história contada pelos velhos moleiros, o rio Pavia era disputado pelos lavradores e pelos moleiros, os primeiros para regarem as hortas, os segundos para as mós. Para que perpetuassem as águas do rio, os moleiros estabeleceram um voto perpétuo a São João Batista, recorrendo o rio Pavia, “vencendo” a disputa contra os lavradores, prometendo uma romaria anual à capela de São João, a 24 de Junho. Em 1652, segundo conta a tradição foi iniciada a romaria à capela, provando a vitória dos moleiros. O cortejo da romaria é bastante variado, sendo os mordomos e os moleiros os principais intervenientes. O cortejo de moleiros chegou a incluir mais de cem cavaleiros, trajados a rigor, como da nobreza se tratasse. Segundo as normas do cortejo, na frente seguem os três mordomos e o alferes, o qual é o transportador oficial da bandeira dos moleiros, os quais eram seguidos pelos moleiros, também eles a cavalo. Deste modo, todos seguiam no cortejo até ao local do cumprimento do voto.
                  Atualmente, o cortejo está um pouco alterado, mas a génese geral, manteve-se. Os carros alegóricos que alegram a romaria foram introduzidos posteriormente, mantendo-se os mordomos, o alferes e centenas de homens lembrando os velhos moleiros. Foram introduzidos os Zés-Pereiras[1] (grupo criado especialmente para o dia das Cavalhadas) que animam o corso, bem como os Gigantones[2], caricaturando e animando a população. Os carros alegóricos são muito importantes, pois são eles que vão oferecendo alguma dinâmica ao corso, introduzindo temáticas mais contemporâneas e relembrando outras clássicas, não descurando as atividades tradicionais, como a serração manual de madeira, celebração do amor, entre outros. O início do cortejo dá-se pela manhã do dia 24 de Junho, reunindo todos os intervenientes no largo da povoação, percorrendo de seguida as principais ruas de Viseu, em direção à capela, regressando depois a Vil de Moinhos. Os carros alegóricos normalmente não vão até a capela, pois as grandes dimensões impedem-nos de prosseguir pelas apertadas ruas e travessas, seguindo somente os mordomos, em jeito de cumprir o voto histórico. Este cortejo tradicional transformou-se num importante evento turístico, convidando imensa gente de todo o país a visitar Viseu.


[1] Os grupos chamados "Zés-Pereiras" são característicos das festas e romarias do Norte de Portugal com maior incidência para o Entre Douro e Minho. Estes grupos desfilam pelas ruas tocando instrumentos de percussão - caixas de rufo, timbalões e bombos; assim como aerofones melódicos: pífaros e gaitas-de-foles. Recentemente a concertina, instrumento de grande expressão no Minho, tem sido introduzida nestes conjuntos.

[2] O gigantone é um boneco de figura humana com 3,5 a 4 metros de altura, típico das festas populares portuguesas, romarias e cortejos de carnaval. O boneco tem uma estrutura que permite ser “vestido” e é inclusivamente manuseado por uma pessoa no seu interior. A cabeça de grandes dimensões é concebida em pasta de papel, e o resto da estrutura pode atingir trinta quilos, peso suportado pelos ombros do manuseador e que faz com que a amplitude de movimentos do boneco seja limitada. Os gigantones não aparecem sozinhos, mas em par ou grupos de casais, envergando trajes de cerimónia ou populares, e desfilando ao ritmo de música tocada por zés-pereiras. Podem ser acompanhados por cabeçudos, bonecos mais pequenos (tamanho de uma pessoa) com uma cabeça enorme e desproporcional relativamente ao corpo. A cabeça, também feita em pasta de papel, é usada como uma espécie de capacete, e as roupas são mais informais e coloridas que as dos gigantones, podendo mesmo personificar monstros ou demónios. Com maior liberdade de movimentos que os gigantones, os cabeçudos dançam e movimentam-se alegremente como um rancho de filhos ou uma corte animada ao seu redor. No Minho também são conhecidos por almajonas. Pensa-se que o primeiro gigantone data de 1265, aquando da Procissão do Corpo de Deus, em Évora. A representação simbólica representa a serpente, o demónio e o dragão, os sacramentos que Jesus tinha vencido. Existem imensas referências que registam a sua aparição também no Norte do país, notando erroneamente que a introdução do gigantone veio da Galiza nos finais do século XIX.

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