segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Júlia Ramalho


O Surrealismo português nunca teve grande expressão. Muitas das obras do século XX estão agora a começar a receber alguma atenção por parte dos críticos de arte. Uma das mais promissoras artesãs de todos os tempos, Rosa Ramalho, foi exímia na Arte Surreal. De nome Rosa Barbosa Lopes, nasceu a 14 de Agosto de 1888 e faleceu em Dezembro de 1977. O seu pai era sapateiro e a mãe tecedeira, por isso, desde muito cedo, tomou conhecimento e contacto com as artes ditas manuais. Aprendeu a moldar em jovem, mas abandonou a atividade para cuidar da família. Só com 68 anos de idade, Rosa voltou a moldar o barro e a criar as peças surrealistas e fantasiosas que tanto a caracterizam.
As suas peças são todo um conjunto de conceitos, pois são simultâneamente dramáticas, fantasistas, surrealistas, animalescas, bíblicas – tudo isto devido à sua poderosa imaginação e criatividade. Foi toda esta mistura de conceitos que a distinguiu perante os restantes ceramistas, atingindo uma fama “mundial”. Segundo Júlia Ramalho, a sua avó ia encontrar esta inspiração em sonhos que tinha. Sonhava com figuras mitológicas, medusas, diabos.
Descoberta por António Quadros (designer), foi a partir dele que começaram que começaram as primeiras críticas aos seus trabalhos, começou a ser divulgado nos meios de culto.
Em 1968 foi-lhe entregue a medalha “As Artes ao Serviço da Nação”. Mais tarde, o reconhecimento pelo Presidente da República a 9 de Abril de 1981, atribui-lhe o grau de Dama da Ordem de Santiago da Espada.
Mário Cláudio escreveu um livro sobre Ramalho intitulado Rosa, de 1988, integrado na Trilogia da mão. Existe ainda uma curta-metragem de Nuno Paulo intitulada À volta de Rosa Ramalho, de 1996. Como reconhecimento do seu trabalho, atualmente dá nome a uma rua da cidade de Barcelos e à Escola Básica 2,3 de Barcelinhos. Pensa-se ainda que a sua habitação venha a transformar-se em Museu de Olaria homónimo, bem como a sua oficina, situado em São Martinho de Galegos.

Júlia Ramalho (3 de Maio de 1946), neta da famosa ceramista Rosa Ramalho, é um marco na Produção de Cerâmica Nacional. Ramalho continua a seguir a sua avó, a herança que lhe deixou, conseguindo criar peças bastante idênticas, mas com o cunho Júlia Ramalho. Foi sua discípula desde muito nova, herdou da avó o gosto pela Olaria e a Criatividade. As temáticas não são muito variadas, como fulcral são o Tema dos Pecados (Gula, Avareza) e o Tema das Virtudes (Paciência, Justiça). A ceramista também produz o Cristo na Cruz e o bode que eram as imagens de marca da sua avó, para além dos diabos. Estes últimos, Júlia deixou de os produzir, pois conta que, algumas pessoas a quem lhes era oferecido o diabo ou mesmo comprado pelo próprio, trazia imenso azar. Júlia recomendou que o deitassem ao Douro (rio português), de maneira a libertarem os “males”.
Segundo a ceramista, a peça mais emocionante que projetou foi uma medusa gigante que tem no seu atelier, mas também declarou que não repetirá tal proeza. Medusas, Bacos, Diabos Trovadores, figuras fantásticas, Padre Inácio, figuras marcantes e que têm uma atmosfera própria.
Júlia Ramalho faz peças por encomenda, “há minha maneira, toscas...”, mas se o cliente não gostar do resultado final não há problema, “(...) eu fico com a peça...”. Trabalha por gosto e não por dinheiro, mas lamenta que o mesmo faz falta e que move o mundo. Quando está em dia mau, declara que não adianta. Quando em dia bom, tudo sai bem e orgulha-se disso.
Numa pequena troca de palavras com a artista durante a Feira de Artesanato de Vila Franca de Xira, percebeu-se rapidamente que a sua peça favorita é a Paciência, pois “é elaborada e nunca sai igual...”. Júlia mantém a sua postura no stand, enquanto aguarda pela venda de qualquer peça. Segundo a ceramista, as feiras de artesanato são muito cansativas e vende-se pouco, é a crise desabafa. Para o ano não pensa vir ao Salão de Artesanato, se vier é muito a pedido dos seus fãs, pois vende “pouco” e porque está a avizinhar-se uma altura que tem imensas vendas, o Natal - “Estou aqui parada, podendo estar a trabalhar no atelier”. O que compensa Júlia é realmente a quantidade de seguidores que tem, já há muito tempo em Vila Franca, Alhandra, Lisboa.
A concorrência é forte, nomes sonantes como Rosalina Baraça ou Júlia Côta, são também ceramistas ótimas, mas que abordam um estilo diferente, mais popular, ainda dentro da área do Figurado Barcelense. Tem algumas abordagens interessantes da parte de alguns clientes, um partiu uma orelha de uma peça e pediu a Júlia para repetir a peça, mas ficou maior. Não houve problema, porque as virtudes “devem” ser maiores do que os “pecados”, logo correu bem. Outro cliente disse que as peças davam vontade de comer, pareciam caramelizadas. Os clientes normalmente compram colecções completas das virtudes e dos pecados.
Atualmente já conseguiu uma exposição mundial, tem clientes em todo o lado, Alemanha, Espanha, revelou.

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