1. O Início de um grande futuro
Por volta da (1900) viragem do século
XIX para o século XX, não existia uma linha projectual coerente entre os
diversos criadores. A obra de Mies Van der Rohe surgiu na sequencia do
movimento Arte Nova[1]. Sendo
que, a obra do arquitecto faz, por isso, a ponte entre o movimento Arte Nova e
o Modernismo.
A principal preocupação de Mies foi a
Arquitectura Internacional que consiste na racionalização das formas; geometrização e depuração das formas foram as
suas grandes preocupações, para que pudesse guiar todo o processo criativo e
projectual.
Começou a trabalhar com catorze anos
numa empresa de construção civil, mas mais tarde tirou um curso de designer
numa escola de comércio, acabando com um diploma em revestimento de estuque.
Quanto à sua formação artística, Mies
foi bastante inspirado por Berlage (Neoclassicismo), contrariamente ao seu contemporâneo
Le Corbusier[2], que
seguiu as pegadas do movimento Arts & Crafts[3].
Em 1905 saiu de Aachen, foi morar para
Berlim em busca de novas oportunidades de carreira. Aqui trabalhou para um
arquitecto, mas este não o deixava explorar a sua criatividade, então
especializou-se novamente em design, mas desta vez em design de equipamento
(móveis) sob a alçada de Bruno Paul.
Todas estas trocas de empresas e
arquitectos iam revelando a Mies que o futuro não era estar sob a alçada de um
arquitecto, mas sim por sua própria conta. Foi então que encontrou Peter
Behrens, criador do logótipo da AEG e com quem trabalhou durante três anos.
A derrota e o colapso do império
militar-industrial alemão no fim da Primeira Guerra Mundial reduziram o país a
uma situação de caos económico e político, daí Mies criar uma arquitectura mais
orgânica do que a permitida pelos cânones autocráticos de Karl Friedrich
Schinkel[4].
O pós-guerra foi uma fase bastante
produtiva para Mies, pois começou a projectar arranha-céus, em vidro, que marcaram
profundamente toda a Arquitectura Moderna. Participou em vários concursos com
projectos altamente inovadores, que foram bastante bem recebidos pelos
clientes, pela sociedade em geral.
2. Alemanha versus Estados Unidos da
América
A Alemanha sempre foi uma referência na
Arquitectura, mas com o fecho da Bauhaus, pelos nazis (Adolf Hitler) em 1934,
as coisas mudaram radicalmente.
Os arquitectos reconhecidos deixaram de
poder concretizar os seus projectos devido às condições precárias que a Alemanha
oferecia na fase pós-guerra. Extremamente arrojados, estes projectos alemães
começaram então a ser implementados nos Estados Unidos. Foi aqui que Mies veio
a crescer enquanto arquitecto, pois a América era um país que procurava pessoas
que soubessem criar, inovadoras; país de oportunidades.
Com o crash da bolsa de Nova Iorque, os
Estados Unidos começaram de novo a gerar riqueza, riqueza esta que disparou e
que criou imensos postos de trabalho. O país começou a desenvolver-se a vários
níveis. Na Arquitectura, os arquitectos europeus optaram por criar carreira na
América, pois haviam muito mais oportunidades.
3. Edifícios minimalistas
No inicio da sua carreira, foi extremamente
influenciado por Peter Behrens, logo de princípio os seus edifícios não eram
minimalistas. Com o passar do tempo e também com a evolução da tecnologia, Rohe
foi refinando. Se calhar o melhor exemplo da sua Arquitectura minimalista está
no Crown Hall.
A preocupação com a natureza exterior é
de extrema importância, pois incorpora e faz a ligação entre os dois universos,
o interior e o exterior.
Grandes superfícies em vidro, o que dá
imensa luminosidade, mas que também tem condicionantes, como por exemplo, ao
nível da privacidade e da isolação térmica. Neste caso, os vidros ajudariam a
criar o ambiente interior, que seria um ambiente de trabalho, visto este
edifício pertencer a um Instituto de Investigação.
O concreto foi uma grande novidade na
Arquitectura Internacional, pois conseguiam montar toda a ideia através de
paredes amplas, procurando não fugir das formas ditas puras. A base da
construção residia agora em colunas, as quais suportavam o peso da estrutura,
de tal maneira que, as paredes podiam ser escassas, de modo a haver uma
multiplicidade de áreas distintas e amplas.
4. Pavilhão Alemão na Exposição de
Barcelona
Na sequência da administração bem
sucedida, em 1927, da Exposição da Werkbund
em Estugarda, Mies foi incumbido da gestão artística e da construção dos
edifícios para todas as secções da Exposição universal de 1929.
O «Pavilhão de Barcelona», como é
vulgarmente conhecido, é uma das
principais obras de Mies. Projectado e concretizado em menos de um ano, o
pavilhão deveria representar uma Alemanha democrática, culturalmente progressista,
próspera e completamente pacifista.
Os passos que Mies seguiu para criar o
pavilhão foram a «planta livre» e o «compartimento flutuante». Como um templo
antigo, o edifício assenta numa base de travertino[5] com uma
vedação do mesmo material em forma de U, a sul, que dá para um pequeno anexo de
serviço. Uma grande bacia de água, estende-se para sudoeste e cujas lajes do
chão se projectam por cima das bordas, dando a impressão de uma cobertura
suspensa, revelando o carácter estrutural das paredes. Placas de pedra de alta
qualidade, como o mármore de Tinos, mármore verde-antigo e ónix doré, assim como o vidro colorido,
marcam e pontuam todo o espaço, criando valiosas divisórias espaciais, deslizando
debaixo da placa de cobertura, criando uma transição suave entre o interior e o
exterior – sempre uma preocupação para Mies.
Estas placas marmoreadas compõem todo o
espaço, criando uma harmonia entre os vários compartimentos. A conjugação dos
vários planos transmitem uma harmonia inquestionável, necessária numa visita a
uma qualquer exposição agitada. A simplicidade de planos e o carácter texturado
transmitido pelos mármores são os grandes marcos desta obra, contrastando com
as amplas áreas de circulação e naturalmente, com o exterior.
As áreas de circulação, tanto as
interiores, como as exteriores, foram pensadas, transmitindo um movimento
rítmico coordenado com vistas cuidadosamente compostas – promenade.
Sendo que a sua importância recaía
particularmente para a estrutura, Mies pontuou os interiores do pavilhão com
pouco mobiliário, o necessário, de modo a transmitir a leveza e pureza do espaço,
dado pela diversidade de materiais. Pretendia isolar o individuo do mundo
exterior, tudo combinava de modo a haver uma harmonia espacial. Desta maneira,
desenhou especialmente para este espaço, a cadeira que ficou conhecida como
Barcelona – desenho integral do espaço.
Conslusão: less is more
Os
edifícios deveriam ser encarados como volumes, contendo espaço em vez de
massas, isto tornara-se possível com o uso estrutural do aço. A aparência dos
edifícios podia derivar das formas dos seus elementos horizontais e verticais e
da sua repetição. A perfeição técnica e a elegância de proporções seriam
realçadas, para oferecer qualidade estética na ausência de qualquer decoração.
A maioria dos edifícios e o seu
enquadramento ambiental devia ter um caráter industrial, técnico e de produção
em massa, refletindo o ideal de desenhar para uma era da máquina. A parte
"menos" (less) estava aí claramente demostrada, onde tudo estava
reduzido aos mais simples elementos racionais e todas as outras considerações
estavam subordinadas a uma geometria retangular. Quando elevado aos céus, este
gênero de estilos geométricos angulares era francamente apropriado à
construção, em armação de aço, de arranha-céus de escritórios e à grelha dos
traçados das ruas existentes nas cidades americanas.
Bibliografia
FRAMPTON, Kenneth – História Crítica
da Arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes,
ZIMMERMAN, Claire – Mies Van der
Rohe. Bremen: Taschen,
PUENTE, Moisés – Conversas com Mies
Van der Rohe. Barcelona, Espanha: Gustavo Gili, 2006.
[1][1] Arte ou Art
Nouveau (do francês) foi um estilo estético essencialmente de Design e
Arquitectura que também influenciou o mundo das Artes Plásticas. Esta
relacionado com o movimento Arts &
Crafts eteve grande destaque durante a Belle
Époque, nas ultimas décadas do século XIX e primeiras décadas do século XX.
[2] Arquitecto, urbanista de origem suíça. Foi um dos mais
notáveis arquitectos do século XX.
[3] Foi um movimento artístico que surgiu na Reino unido, aquando da
Revolução Industrial. Preservava a manufactura como alternativa à mecanização e
à produção em massa; pregava o fim da distinção entre o artista e o artesão.
[4] Foi o arquitecto neoclássico com maior destaque na
Prússia.
[5] É uma rocha
calcária, composta por de calcita, aragonita e limonita, nas quais se inscrevem pequenas cavidades, onde predominam os
tons que passam pelo branco, verde ou rosa, apresentando, frequentemente,
marcas de ramos e folhas.
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