terça-feira, 9 de outubro de 2012

Less is more


1. O Início de um grande futuro

         Por volta da (1900) viragem do século XIX para o século XX, não existia uma linha projectual coerente entre os diversos criadores. A obra de Mies Van der Rohe surgiu na sequencia do movimento Arte Nova[1]. Sendo que, a obra do arquitecto faz, por isso, a ponte entre o movimento Arte Nova e o Modernismo.
         A principal preocupação de Mies foi a Arquitectura Internacional que consiste na racionalização das formas;  geometrização e depuração das formas foram as suas grandes preocupações, para que pudesse guiar todo o processo criativo e projectual.
      
         Começou a trabalhar com catorze anos numa empresa de construção civil, mas mais tarde tirou um curso de designer numa escola de comércio, acabando com um diploma em revestimento de estuque.
         Quanto à sua formação artística, Mies foi bastante inspirado por Berlage (Neoclassicismo), contrariamente ao seu contemporâneo Le Corbusier[2], que seguiu as pegadas do movimento Arts & Crafts[3].
         Em 1905 saiu de Aachen, foi morar para Berlim em busca de novas oportunidades de carreira. Aqui trabalhou para um arquitecto, mas este não o deixava explorar a sua criatividade, então especializou-se novamente em design, mas desta vez em design de equipamento (móveis) sob a alçada de Bruno Paul.
         Todas estas trocas de empresas e arquitectos iam revelando a Mies que o futuro não era estar sob a alçada de um arquitecto, mas sim por sua própria conta. Foi então que encontrou Peter Behrens, criador do logótipo da AEG e com quem trabalhou durante três anos.
         A derrota e o colapso do império militar-industrial alemão no fim da Primeira Guerra Mundial reduziram o país a uma situação de caos económico e político, daí Mies criar uma arquitectura mais orgânica do que a permitida pelos cânones autocráticos de Karl Friedrich Schinkel[4].
         O pós-guerra foi uma fase bastante produtiva para Mies, pois começou a projectar arranha-céus, em vidro, que marcaram profundamente toda a Arquitectura Moderna. Participou em vários concursos com projectos altamente inovadores, que foram bastante bem recebidos pelos clientes, pela sociedade em geral.
                                                                                            

2. Alemanha versus Estados Unidos da América

         A Alemanha sempre foi uma referência na Arquitectura, mas com o fecho da Bauhaus, pelos nazis (Adolf Hitler) em 1934, as coisas mudaram radicalmente.
         Os arquitectos reconhecidos deixaram de poder concretizar os seus projectos devido às condições precárias que a Alemanha oferecia na fase pós-guerra. Extremamente arrojados, estes projectos alemães começaram então a ser implementados nos Estados Unidos. Foi aqui que Mies veio a crescer enquanto arquitecto, pois a América era um país que procurava pessoas que soubessem criar, inovadoras; país de oportunidades.
         Com o crash da bolsa de Nova Iorque, os Estados Unidos começaram de novo a gerar riqueza, riqueza esta que disparou e que criou imensos postos de trabalho. O país começou a desenvolver-se a vários níveis. Na Arquitectura, os arquitectos europeus optaram por criar carreira na América, pois haviam muito mais oportunidades.
                                                            
3. Edifícios minimalistas

         No inicio da sua carreira, foi extremamente influenciado por Peter Behrens, logo de princípio os seus edifícios não eram minimalistas. Com o passar do tempo e também com a evolução da tecnologia, Rohe foi refinando. Se calhar o melhor exemplo da sua Arquitectura minimalista está no Crown Hall.
         A preocupação com a natureza exterior é de extrema importância, pois incorpora e faz a ligação entre os dois universos, o interior e o exterior.
         Grandes superfícies em vidro, o que dá imensa luminosidade, mas que também tem condicionantes, como por exemplo, ao nível da privacidade e da isolação térmica. Neste caso, os vidros ajudariam a criar o ambiente interior, que seria um ambiente de trabalho, visto este edifício pertencer a um Instituto de Investigação.
         O concreto foi uma grande novidade na Arquitectura Internacional, pois conseguiam montar toda a ideia através de paredes amplas, procurando não fugir das formas ditas puras. A base da construção residia agora em colunas, as quais suportavam o peso da estrutura, de tal maneira que, as paredes podiam ser escassas, de modo a haver uma multiplicidade de áreas distintas e amplas.

4. Pavilhão Alemão na Exposição de Barcelona

         Na sequência da administração bem sucedida, em 1927, da Exposição da Werkbund em Estugarda, Mies foi incumbido da gestão artística e da construção dos edifícios para todas as secções da Exposição universal de 1929.
         O «Pavilhão de Barcelona», como é vulgarmente conhecido,  é uma das principais obras de Mies. Projectado e concretizado em menos de um ano, o pavilhão deveria representar uma Alemanha democrática, culturalmente progressista, próspera e completamente pacifista.
         Os passos que Mies seguiu para criar o pavilhão foram a «planta livre» e o «compartimento flutuante». Como um templo antigo, o edifício assenta numa base de travertino[5] com uma vedação do mesmo material em forma de U, a sul, que dá para um pequeno anexo de serviço. Uma grande bacia de água, estende-se para sudoeste e cujas lajes do chão se projectam por cima das bordas, dando a impressão de uma cobertura suspensa, revelando o carácter estrutural das paredes. Placas de pedra de alta qualidade, como o mármore de Tinos, mármore verde-antigo e ónix doré, assim como o vidro colorido, marcam e pontuam todo o espaço, criando valiosas divisórias espaciais, deslizando debaixo da placa de cobertura, criando uma transição suave entre o interior e o exterior – sempre uma preocupação para Mies.
         Estas placas marmoreadas compõem todo o espaço, criando uma harmonia entre os vários compartimentos. A conjugação dos vários planos transmitem uma harmonia inquestionável, necessária numa visita a uma qualquer exposição agitada. A simplicidade de planos e o carácter texturado transmitido pelos mármores são os grandes marcos desta obra, contrastando com as amplas áreas de circulação e naturalmente, com o exterior. 
         As áreas de circulação, tanto as interiores, como as exteriores, foram pensadas, transmitindo um movimento rítmico coordenado com vistas cuidadosamente compostas – promenade.
         Sendo que a sua importância recaía particularmente para a estrutura, Mies pontuou os interiores do pavilhão com pouco mobiliário, o necessário, de modo a transmitir a leveza e pureza do espaço, dado pela diversidade de materiais. Pretendia isolar o individuo do mundo exterior, tudo combinava de modo a haver uma harmonia espacial. Desta maneira, desenhou especialmente para este espaço, a cadeira que ficou conhecida como Barcelona – desenho integral do espaço.


Conslusão: less is more

Os edifícios deveriam ser encarados como volumes, contendo espaço em vez de massas, isto tornara-se possível com o uso estrutural do aço. A aparência dos edifícios podia derivar das formas dos seus elementos horizontais e verticais e da sua repetição. A perfeição técnica e a elegância de proporções seriam realçadas, para oferecer qualidade estética na ausência de qualquer decoração.
            A maioria dos edifícios e o seu enquadramento ambiental devia ter um caráter industrial, técnico e de produção em massa, refletindo o ideal de desenhar para uma era da máquina. A parte "menos" (less) estava aí claramente demostrada, onde tudo estava reduzido aos mais simples elementos racionais e todas as outras considerações estavam subordinadas a uma geometria retangular. Quando elevado aos céus, este gênero de estilos geométricos angulares era  francamente apropriado à construção, em armação de aço, de arranha-céus de escritórios e à grelha dos traçados das ruas existentes nas cidades americanas. 
 Bibliografia


FRAMPTON, Kenneth – História Crítica da Arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes,

ZIMMERMAN, Claire – Mies Van der Rohe. Bremen: Taschen,

PUENTE, Moisés – Conversas com Mies Van der Rohe. Barcelona, Espanha: Gustavo Gili, 2006.





[1][1] Arte ou Art Nouveau (do francês) foi um estilo estético essencialmente de Design e Arquitectura que também influenciou o mundo das Artes Plásticas. Esta relacionado com o movimento Arts & Crafts eteve grande destaque durante a Belle Époque, nas ultimas décadas do século XIX e primeiras décadas do século XX.
[2] Arquitecto, urbanista de origem suíça. Foi um dos mais notáveis arquitectos do século XX.
[3] Foi um movimento artístico que surgiu na Reino unido, aquando da Revolução Industrial. Preservava a manufactura como alternativa à mecanização e à produção em massa; pregava o fim da distinção entre o artista e o artesão.
[4] Foi o arquitecto neoclássico com maior destaque na Prússia.
[5] É uma rocha calcária, composta por de calcitaaragonita e limonita, nas quais se inscrevem pequenas cavidades, onde predominam os tons que passam pelo branco, verde ou rosa, apresentando, frequentemente, marcas de ramos e folhas.


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