segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Calçada Portuguesa

É um tipo de revestimento de pavimento que conta com materiais como o calcário (branco) e o basalto (preto), pavimentando principalmente passeios e espaços públicos. Esta técnica é bastante utilizada nos países lusófonos, sendo que o calcetamento é executado com pedras de formato irregular, que podem ser dispostas de várias maneiras, acabando por formar um pavimento regular. A combinação da pedra calcária com o basalto pode originar padrões decorativos muito interessantes, devido ao contraste das pedras (Bairrada, 1986).
A técnica surgiu em meados do século XIX, tendo os mestres calceteiros adquirido um lugar de grande notoriedade, mas no século XV já se calcetava em Portugal, mas de uma maneira mais distinta da que hoje conhecemos, segundo as cartas régias de 20 de Agosto de 1498 e de 8 de Maio de 1500, ambas rubricadas por D. Manuel I, assinalando assim o começo do empedramento das ruas de Lisboa. A pedra utilizada na época era o granito da região do Porto, tornando a obra dispendiosa, devido ao transporte do material. O terramoto de 1755 abalou toda a economia nacional, os materiais e técnicas aplicados na reconstrução da cidade ficaram aquém dos que lá persistiam, optando-se por racionalizar os gastos em obras públicas, ficando a Arte da Calcetaria colocada de parte. Porém, em 1842 elaborou-se uma calçada calcária, muito aproximada à que hoje conhecemos. Todo o trabalho foi realizado por grilhetas a mando do Governador de Armas do Castelo de São Jorge, o Tenente-general Eusébio Pinheiro Furtado. O desenho adotado para a pavimentação dessa área foi de cariz simples, mas foi um marco na Calcetaria Portuguesa, marcando um momento de viragem nesta arte, motivando cronistas e escritores a debaterem a temática como Almeida Garrett e Cesário Verde. Após o sucesso da Calçada do Castelo, Eusébio Furtado ordenou que pavimentassem toda a área do Rossio, expandindo e disseminando a calçada por todo o país e colónias portuguesas (Bairrada, 1986).
A exposição mundial atingida pelos trabalhos desenvolvidos estava a ser admirado por todo o mundo, mestres calceteiros eram solicitados a executar e ensinar a arte no estrangeiro. De maneira a não se perder esta técnica, em 1986 foi criada uma escola para calceteiros denominada Escola de Calceteiros da Câmara Municipal de Lisboa, situada na Quinta Conde dos Arcos, na qual se ensinam as técnicas da calçada portuguesa. Em 2006 foi inaugurado o monumento ao calceteiro, patente na Rua da Vitória, em plena Baixa lisboeta (Bairrada, 1986).
A técnica de calcetar não é complicada, mas extremamente cansativa. Os calceteiros tiram partido do sistema de diáclases do calcário, com recurso a um martelo, fazendo pequenos ajustes na pedra, de maneira a que encaixem umas nas outras. Para padrões desenhados, os calceteiros recorrem a marcações, delimitando zonas diferentes a calcetar, de maneira a que repitam os motivos em sequência linear, formando frisos ou, nas duas dimensões do plano, formando padrões.
A geometria demonstrada nas calçadas do século XX apresenta-se em sete possíveis combinações simétricas no plano, sendo sete referentes aos frisos e dezassete para os motivos padronizados (Bairrada, 1986).

Num contexto de Arte Contemporânea, a temática da Calçada Portuguesa tem sido abordada incansavelmente, mostrando-se em vários e diferentes suportes, como alcatifa, papel de parede, almofadas, garrafas, entre outros objetos.

André Lopes Cardoso

Bibliografia

Bairrada, E. M. (1986). Empedrados artísticos em Lisboa: a arte da calçada-mosaico. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa.

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