Nascida a 19 de Março de 1987, Lília Margarida Caravela Miranda
Rodrigues tem-se revelado uma artista notável no seu meio artístico e social, descendente
de uma família com fortes ligações artísticas e culturais. O forte vínculo que
criaram com o Campo e com o Rio, foi o mote de inspiração para o trabalho
desenvolvido por Lília Caravela.
A família materna, oriunda da Murtosa e Ovar, era uma
família de Varinos, a qual se fixou em Vila Franca de Xira, de maneira a
conseguir subsistir às temerosas tempestades, as quais impossibilitavam a
pesca. Foi em Vila Franca que conseguiram encontrar estabilidade para
desenvolver as suas artes piscatórias. Quanto à família paterna, era
vocacionada para a atividade agrícola, seu pai era caseiro de duas grandes
famílias ribatejanas ligadas à tradição tauromáquica e agrícola – Família Pinto
Barreiros e Família Vaz Monteiro – acabando por influenciar Caravela, mais
tarde.
Desde pequena que revelou ser adepta de Adereços,
principalmente de Joalharia. Com cerca de cinco anos, aprendeu a criar objetos
tridimensionais, com recurso a missangas, utilizando como suporte pequenas
peças de arame de alumínio, compondo-as e criando pequenas borboletas,
lagartos, tartarugas, as quais lhe foram abrindo as portas da criatividade; por
outro lado, eram estas peças que faziam parte do seu imaginário infantil.
Pode-se afirmar que foi uma vizinha, D. Irene, que a influenciou nesta vertente
artística de criação de pequenas peças de joalharia, as quais mais tarde serviam
como pendentes de colares, pregadeiras, entre outros. Com cerca de sete anos
aprendeu com outra vizinha, D. Lurdes, a arte de bordar. Com a mãe aprendeu a
costura, principalmente o ponto pé-de-flor, mas também a conceber uma rede de
pesca, trabalho de difícil execução e que está cada vez mais em desuso. Foram
estas pessoas que acabaram por lhe oferecer conhecimentos em diferentes áreas
artísticas, as quais fazem atualmente parte do seu trabalho artesanal.
É em Vila Franca de Xira que Caravela busca a sua inspiração,
através dos testemunhos deixados pelos seus antepassados. Toda esta arte que percorria
no seio familiar, acabou por ser contemplada, anos mais tarde, quando Lília
decidiu criar os Corações Ribatejanos. Esta ideia surgiu em sequência de uma
fraca produção artística concelhia, não havendo qualquer objeto ou artefacto
que represente Vila Franca de Xira e, claro está, o Ribatejo na sua plenitude.
Há poucos anos (cerca de quinze) a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira criou
uma mascote para a cidade intitulada Xiro, que é quase que uma caricatura de um
touro bravo de lide, vestido de forcado, mas que na sua opinião, este não
representa minimamente a sua terra, as suas origens. Assim, começou a
desenvolver ímans, representativos
dos vários ícones da cidade e da região, os quais poderiam ser adquiridos como
lembranças ribatejanas.
Posteriormente à produção dos ímans e consecutiva
venda, percebeu rapidamente que a sua visão artística estava focada e ousou em
criar os ditos Corações Ribatejanos. O culto do coração já foi, é e será um
rito extremamente português, podendo ser contemplado nos mais variados objetos,
como a Cadeira Coração, Lenço dos
Namorados, Lenço de Viana, Filigrana minhota, entre outros. Estes corações
representam o Ribatejo, recursando dos materiais que por ali se utilizam, como
a serapilheira, pequenos adornos que se utilizam no traje típico do rancho
folclórico ribatejano, como a fita de seda, bordado ponto pé-de-flor, grega,
missangas.
A sua produção
é estritamente manual, tendo como pano de fundo a serapilheira, que é um tecido
pobre, utilizado na concepção de sacas e outros tipos de objetos de transporte,
na qual são minuciosamente desenhadas flores referentes às plantas das Lezírias
Ribatejanas e ao Traje do Rancho Folclórico regional. Neste caso, verificamos
que os materiais utilizados são a flor que patenteia a maior área do coração,
toda concebida em ponto pé-de-flor, verificam-se também corações, que acabam
por ser uma portugalidade icónica,
missangas e a fita de seda, que neste caso serve como pega do porta-chaves
coração, a qual remete para o rio ou mar, devido ao recorte ondulado, como se
de ondas se tratasse. Com esta criação artística, percebe-se de facto o valor
patrimonial do nosso território, que com pouco se faz muito. Este coração é
como que uma reunião de testemunhos culturais, os quais estão escrupulosamente
pensados, colocando-nos num patamar superior relativamente à Arte Popular.
Este virar para dentro daquilo que é nosso, dos
nossos valores culturais e patrimoniais, é algo que sente em épocas de crise.
Caravela reajustou-se ao facto de se encontrar no Ribatejo, adaptando assim os
seus conhecimentos, aos produtos e tradições ribatejanas, revelando-a e
eternizando-a. A sua inspiração vai desde o Fado, aos monumentos ribatejanos,
como a Ponte Marechal Carmona, a Festa do Colete Encarnado, utilizando pequenos
objetos que vão pontuando os seus produtos, recriando-os e dando-lhes um toque
de originalidade e contemporaneidade. Não esconde a paixão que sente pelos
Lenços de Viana e pelos cachenés, que muitas vezes utiliza como maneira de inspiração.
Quanto aos materiais, os seus artefactos são muito
variados, pois tanto utiliza materiais tipicamente campestres, como de repente
utiliza lantejoulas, vidrilhos, peças metálicas banhadas a ouro, feltro, entre
muitos outros. A Pintura e a Joalharia é outra paixão, desenha e cria muitos
colares, com pendentes variados, e matérias distintos, que acabam por se
completar no final. Não descora de todo a Arte Contemporânea, estando a par das
novidades. A formação que frequenta em Joalharia tem-na ajudado a desenvolver
novas técnicas e a desencadear um maior interesse na busca de novos materiais a
utilizar.
Coração Ribatejano, Lília Caravela |
A sua marca – Arte caravela – ainda está no início,
mas tem suscitado imenso interesse a um público geral, apesar de não ter um espaço
físico, recebe variadas encomendas diariamente, através das redes sociais. Considera
a sua marca com um estilo muito pessoal, uma espécie de Artesanato Popular erudito, tendo sempre um olhar crítico
relativamente às suas peças e claro, tenta sempre evoluir, criticando os
pequenos defeitos que vai encontrando nos trabalhos.
Para os mais curiosos, podem verificar as peças em:
https://www.facebook.com/pages/Arte-Caravela/485702034830834?fref=ts
André Lopes Cardoso
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarMuitos Parabéns Dré!!
ResponderEliminarFiquei sem palavras amigo!!Obrigada por me conceberes a honra de estar representada no teu trabalho! Que o sucesso seja o teu caminho e que eu te encontre por lá!! ;) És GRANDE!! Beijinhos Lília e Mãe Elisabete*
Eu é que agradeço o teu testemunho e claro, elogio fervorosamente o teu trabalho, um trabalho único, que reúne e eterniza a nossa cultura popular ribatejana. Aguardo novidades. Beijinho*
ResponderEliminarAdorei!!!
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