quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Manuel Lopes Bexiga, Maltez Rico de Vila Franca de Xira

Manuel Lopes Bexiga

Manuel Lopes Bexiga, nasce a 11 de Abril de 1861 na Quinta de Fernandares, em Santiago dos Velhos, foi baptizado a 29 de Abril do mesmo ano, na Igreja de Santiago dos Velhos pelo Presbítero João José Pereira da Silva. Foi seu padrinho Manuel Lopes e invocou-se para madrinha Nossa Senhora da Conceição, tocou com a prenda da mesma Senhora Manuel Lopes Baixinho, seu tio, casado, lavrador e morador no lugar de A-de-Mourão.
Filho de Manuel José Lopes Bexiga e de Ana Maria Baixinho, perde a sua mãe quando tinha 2 anos de idade. O pai, em 1864, casa em segundas núpcias com Gertrudes da Conceição Lopes. Deste segundo matrimónio nascem: José Lopes Bexiga (c. 1865), João Lopes Bexiga (1867-1956), Maria Lopes Bexiga (c. 1869), António Lopes Bexiga (c. 1869), José Lopes Bexiga (c. 1872), Joaquim Lopes Bexiga (c. 1874).
A relação familiar não era fácil e fez-se “maltês”, saindo de casa antes da idade para casar em busca de novas oportunidades. Em 1896 casa com D. Gertrudes da Conceição em São João dos Montes, em 1896. Deste casamento nascem: Teodora da Conceição Lopes (1897-1989), Maria da Conceição Lopes (1899), Guilhermina da Conceição Lopes (1901-1956), Romana da Conceição Lopes (1903), Marcolina da Conceição Lopes (c.1905), Gertrudes Lopes (1913-1977), Manuel Lopes Bexiga Jr. (1915-1948) e Teresa Lopes (1917); todos com descendência.
Homem de cabelo suavemente ondulado e curto, olhos claros e rasgados, olhar terno e profundo, face queimada do trabalho, coberta de barba rija e suíças à "moda do Ribatejo", disfarçando o queixo saliente, insinuando ligeiro prognatismo, estatura baixa e seca, bem típica da família Lopes.
Confiante e autoritário, responsável e pouco afável, fruto talvez da sofrida juventude que viveu. Quem pelas ruas o admirasse, pensaria decerto que mal passava. De aparência simples, barrete negro sobre a orelha, deambulava pelas ruas da pequena vila, entretido com os negócios que qualquer estranho questionaria.
Tornou-se Lavrador desde tenra idade iniciando a exploração agrícola na zona de Santiago dos Velhos, com base em várias propriedades de família, particularmente a Quinta de Fernandares, Gian, Casal Novo, Terra Grande. Destacou-se no seu tempo pelo trabalho que realizou e pela sua excelente capacidade de gestão de propriedades. Um pequeno império foi crescendo iniciando-se a expansão para a zona de Vila Franca de Xira, à época fora de vasto comércio. Foi então que adquiriu a Quinta da Mata, a Quinta da Valencia e a Quinta da Costa Branca, explorando em todas elas fruta.
Situada em Vila Franca de Xira, a Quinta da Valencia tornou-se a residência oficial de Lopes Bexiga. Uma propriedade bastante grande, confrontada a Norte pela Ribeira de Santa Sofia, a Sul pelo Caminho Velho, atual Rua Dona Froiles Ermiges de Ribadouro, a Oeste pela Quinta do Conde Farrobo e a Este pelo ribeiro.
Manuel Lopes Bexiga à conversa com Padre Ramalho

Os seus bens avultaram-se mais, muitos já caíram no esquecimento. O monopólio que detinha fazia de si um dos homens mais ricos de Vila Franca de Xira. O controlo das propriedades era feito pelo próprio, pelo filho Manuel Lopes Bexiga Jr. e por alguns genros. Tinha também vários foreiros a explorarem os seus terrenos, o que era uma fonte de rendimentos, seja através de dinheiro, seja através de alqueires de produtos agrícolas. Paralelamente às estas actividades agrícolas, fundou uma pequena empresa de Transportes.

Homem de fé e acérrimo crente de Santa Quitéria de Meca (Alenquer), anualmente peregrinava à Basílica, jurando votos para que visse benzido o seu gado.
Embora fosse varão, pensa-se que não terá recebido heranças, mas segundo Graça Soares Nunes (2006) in Vila Franca de Xira, existe uma propriedade registada na Fazenda Nacional de 1841 denominada por Trindade, na qual constam casas e terras na zona de Calhandriz em nome do foreiro Manuel Lopes, presumível pai de Manuel Lopes Bexiga.
Família Bexiga em Meca, Alenquer

Alguns dos seus familiares ainda pensam que ao adquirir uma falsa máquina de “fazer dinheiro”, Lopes Bexiga terá acabado por enlouquecer, ao perceber que teria sido enganado por um presumível amigo, gastando uma fortuna na compra do dito artefacto. A revolta que sentiu quando percebeu que teria sido ludibriado, acabou por o deixar exposto à "loucura".
Manuel Lopes Bexiga tornou-se um dos maiores lavradores da zona de Vila Franca de Xira, ficando conhecido por “Maltez Rico” .
Falece a 20 de Setembro de 1947.


Pelo trisneto,

André Lopes Cardoso

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Natureza na actualidade

O conceito de Ecologia, é desde há muito tempo, uma das preocupações cimeiras do dito ideal monárquico e é revelador, claro está, da qualidade de vida no nosso planeta. Existem vários exemplos que podia abordar sobre plantações e formas de preservação da Natureza que evidenciam ou demonstram uma preocupação com as temáticas da Ecologia e da Biosfera.
Como sabemos, o Pinhal de Leiria, ou Pinhais Reais de Leiria, foi um grandioso projecto iniciado pelo rei D. Afonso III (1248-1279), com o qual se percebe a importância da Ecologia, enquanto tentativa de travar o avanço e degradação das dunas, protegendo também a cidade de Leiria e toda a área/região agrícola circundante à cidade. Durante anos, o corte de árvores foi seguido de replantação, mantendo-se o pinhal intacto e rejuvenescido. Foi no reinado de D. Dinis que o pinhal assistiu ao seu maior crescimento. A sua manutenção era assegurada pelo Guarda-Mor dos Pinhais de El-Rei, o Guarda e Couteiro das Matas dos Pinhais do Rei, responsável pela segurança de toda a área.
Além de garantir a preservação das dunas no litoral e proteger a cidade dos efeitos da erosão, anos mais tarde o pinhal teve também um importante papel, para os Descobrimentos Marítimos, com a utilização da madeira dos pinho na construção de embarcações. Também nos séculos XVIII e XIX, contribuiu enquanto impulsionador das indústrias da construção naval, vidreira, metalurgia e de produtos resinosos. A madeira era utilizada como matéria-prima ou como adjuvante na produção de energia tanto pelas indústrias, como no próprio aquecimento das habitações.
Outro marco de sucesso no campo da Ecologia foi o Parque da Serra de Sintra que ainda nos dias de hoje nos oferece magnificas paisagens e um enquadramento holístico e místico à vila de Sintra. O apogeu da plantação do Parque da Serra de Sintra aconteceu durante o reinado de D. Fernando II (Saxe-Cobourg-Gotha), em pleno século XIX, após a compra do Palácio Nacional da Pena. Esta plantação surge em resultado da ideia de enriquecer toda a envolvente do palácio, numa experiência de recriação do Castelo de Neuchwanstein na Alemanha, plantando-se para o efeito, nas escarpas da Serra de Sintra árvores raras e exóticas, criando em simultâneo fontes, cursos de água e lagos. Para além desta nova plantação, o monarca tratou de replantar a floresta já existente, nomeadamente com carvalhos, e pinheiros mansos indígenas, ciprestes mexicanos, acácias da Austrália, entre várias outras espécies.
Todo este legado de uma refinada preocupações com as plantações vem sendo descurada ao longo dos últimos anos. Planta-se desordenadamente, debaixo de uma cultura hegemonicamente capitalista e desordeira, de que é exemplo a aposta na quase monocultura do eucalipto que se vem revelando uma verdadeira praga. O drama dos incêndios que vêm ocorrendo no nosso país, não é alheio a um deficiente ou ausente planeamento territorial que implica estratégias ao nível de espécies arbóreas, desmatação e limpeza de terrenos a par de um trabalho continuado de vigilância e protecção da floresta. Embora esta seja uma temática da actualidade que está em cima da mesa, as soluções tardam a ser apresentadas. Se pensarmos que, durante o Governo de Salazar existiam dois grupos profissionais que asseguravam o bem da qualidade florestal, podemos questionar se a nossa “evolução” tem sido feita da melhor maneira; refiro-me aos cantoneiros que asseguravam o tratamento e limpeza dos caminhos em áreas particularmente rurais e aos guardas-florestais, que, tal qual o nome indica, são os guardadores das nossas florestas, da nossa Natureza. Sabe-se que com estes dois “preventivos” sistemas, o risco de incêndio e de outras tantas contaminações seria reduzido.
Também o rito da caça assume o seu contributo como medida de preservação de espécies num contexto de Ecologia. No caso do javali, animal que se encontra no topo da cadeia alimentar e também em regime de praga (principalmente na zona arraiana), terá de ser controlado sob risco de exterminar as espécies que estão abaixo na cadeia alimentar, como é o exemplo dos coelhos ou mesmo, de arruinar terrenos agrícolas, como milharais. Esta caça não passa por ser apenas um desporto, chamo-lhe actividade de controlo venatório, na medida em que controla a praga e elimina os animais doentes e transmissores de doença a outras espécies. Fundamental também, não menosprezar a presença do homem e o contacto com a natureza enquanto mais-valia para evitar calamidades ou mesmo no seu combate ao poderem mais rapidamente ser identificadas situações de desordem territorial.

O ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas tem feito um óptimo trabalho neste sentido com a contribuição para a conservação da Natureza e das espécies que nela habitam. É fundamental assimilarmos que a Natureza tem de ser controlada, vigiada, a isto denomina-se preservação. É com base neste espírito que a Juventude Monárquica Portuguesa, organiza anualmente um evento dedicado à vida campestre. O Dia de Campo do ano corrente teve lugar na Ganadaria J. Rosa Rodrigues, na Chamusca, num extraordinário ambiente de convívio, com almoço, tenta de vacas bravas e uma visita guiada aos campos da região. Este evento permite às camadas mais jovens perceberem a interiorização da Agricultura, da Ecologia e das mais variadas temáticas ambientalistas, sensibilizando-as para a preservação e conservação das mesmas, indispensáveis à afirmação da verdadeira cultura de sustentabilidade comprometida com o bem-estar das gerações actuais e vindouras.

André Lopes Cardoso
Secretário geral da JMP, publicado in Real Gazeta do Minho, 30 de Junho de 2017