quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Manuel Lopes Bexiga, Maltez Rico de Vila Franca de Xira

Manuel Lopes Bexiga

Manuel Lopes Bexiga, nasce a 11 de Abril de 1861 na Quinta de Fernandares, em Santiago dos Velhos, foi baptizado a 29 de Abril do mesmo ano, na Igreja de Santiago dos Velhos pelo Presbítero João José Pereira da Silva. Foi seu padrinho Manuel Lopes e invocou-se para madrinha Nossa Senhora da Conceição, tocou com a prenda da mesma Senhora Manuel Lopes Baixinho, seu tio, casado, lavrador e morador no lugar de A-de-Mourão.
Filho de Manuel José Lopes Bexiga e de Ana Maria Baixinho, perde a sua mãe quando tinha 2 anos de idade. O pai, em 1864, casa em segundas núpcias com Gertrudes da Conceição Lopes. Deste segundo matrimónio nascem: José Lopes Bexiga (c. 1865), João Lopes Bexiga (1867-1956), Maria Lopes Bexiga (c. 1869), António Lopes Bexiga (c. 1869), José Lopes Bexiga (c. 1872), Joaquim Lopes Bexiga (c. 1874).
A relação familiar não era fácil e fez-se “maltês”, saindo de casa antes da idade para casar em busca de novas oportunidades. Em 1896 casa com D. Gertrudes da Conceição em São João dos Montes, em 1896. Deste casamento nascem: Teodora da Conceição Lopes (1897-1989), Maria da Conceição Lopes (1899), Guilhermina da Conceição Lopes (1901-1956), Romana da Conceição Lopes (1903), Marcolina da Conceição Lopes (c.1905), Gertrudes Lopes (1913-1977), Manuel Lopes Bexiga Jr. (1915-1948) e Teresa Lopes (1917); todos com descendência.
Homem de cabelo suavemente ondulado e curto, olhos claros e rasgados, olhar terno e profundo, face queimada do trabalho, coberta de barba rija e suíças à "moda do Ribatejo", disfarçando o queixo saliente, insinuando ligeiro prognatismo, estatura baixa e seca, bem típica da família Lopes.
Confiante e autoritário, responsável e pouco afável, fruto talvez da sofrida juventude que viveu. Quem pelas ruas o admirasse, pensaria decerto que mal passava. De aparência simples, barrete negro sobre a orelha, deambulava pelas ruas da pequena vila, entretido com os negócios que qualquer estranho questionaria.
Tornou-se Lavrador desde tenra idade iniciando a exploração agrícola na zona de Santiago dos Velhos, com base em várias propriedades de família, particularmente a Quinta de Fernandares, Gian, Casal Novo, Terra Grande. Destacou-se no seu tempo pelo trabalho que realizou e pela sua excelente capacidade de gestão de propriedades. Um pequeno império foi crescendo iniciando-se a expansão para a zona de Vila Franca de Xira, à época fora de vasto comércio. Foi então que adquiriu a Quinta da Mata, a Quinta da Valencia e a Quinta da Costa Branca, explorando em todas elas fruta.
Situada em Vila Franca de Xira, a Quinta da Valencia tornou-se a residência oficial de Lopes Bexiga. Uma propriedade bastante grande, confrontada a Norte pela Ribeira de Santa Sofia, a Sul pelo Caminho Velho, atual Rua Dona Froiles Ermiges de Ribadouro, a Oeste pela Quinta do Conde Farrobo e a Este pelo ribeiro.
Manuel Lopes Bexiga à conversa com Padre Ramalho

Os seus bens avultaram-se mais, muitos já caíram no esquecimento. O monopólio que detinha fazia de si um dos homens mais ricos de Vila Franca de Xira. O controlo das propriedades era feito pelo próprio, pelo filho Manuel Lopes Bexiga Jr. e por alguns genros. Tinha também vários foreiros a explorarem os seus terrenos, o que era uma fonte de rendimentos, seja através de dinheiro, seja através de alqueires de produtos agrícolas. Paralelamente às estas actividades agrícolas, fundou uma pequena empresa de Transportes.

Homem de fé e acérrimo crente de Santa Quitéria de Meca (Alenquer), anualmente peregrinava à Basílica, jurando votos para que visse benzido o seu gado.
Embora fosse varão, pensa-se que não terá recebido heranças, mas segundo Graça Soares Nunes (2006) in Vila Franca de Xira, existe uma propriedade registada na Fazenda Nacional de 1841 denominada por Trindade, na qual constam casas e terras na zona de Calhandriz em nome do foreiro Manuel Lopes, presumível pai de Manuel Lopes Bexiga.
Família Bexiga em Meca, Alenquer

Alguns dos seus familiares ainda pensam que ao adquirir uma falsa máquina de “fazer dinheiro”, Lopes Bexiga terá acabado por enlouquecer, ao perceber que teria sido enganado por um presumível amigo, gastando uma fortuna na compra do dito artefacto. A revolta que sentiu quando percebeu que teria sido ludibriado, acabou por o deixar exposto à "loucura".
Manuel Lopes Bexiga tornou-se um dos maiores lavradores da zona de Vila Franca de Xira, ficando conhecido por “Maltez Rico” .
Falece a 20 de Setembro de 1947.


Pelo trisneto,

André Lopes Cardoso

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Natureza na actualidade

O conceito de Ecologia, é desde há muito tempo, uma das preocupações cimeiras do dito ideal monárquico e é revelador, claro está, da qualidade de vida no nosso planeta. Existem vários exemplos que podia abordar sobre plantações e formas de preservação da Natureza que evidenciam ou demonstram uma preocupação com as temáticas da Ecologia e da Biosfera.
Como sabemos, o Pinhal de Leiria, ou Pinhais Reais de Leiria, foi um grandioso projecto iniciado pelo rei D. Afonso III (1248-1279), com o qual se percebe a importância da Ecologia, enquanto tentativa de travar o avanço e degradação das dunas, protegendo também a cidade de Leiria e toda a área/região agrícola circundante à cidade. Durante anos, o corte de árvores foi seguido de replantação, mantendo-se o pinhal intacto e rejuvenescido. Foi no reinado de D. Dinis que o pinhal assistiu ao seu maior crescimento. A sua manutenção era assegurada pelo Guarda-Mor dos Pinhais de El-Rei, o Guarda e Couteiro das Matas dos Pinhais do Rei, responsável pela segurança de toda a área.
Além de garantir a preservação das dunas no litoral e proteger a cidade dos efeitos da erosão, anos mais tarde o pinhal teve também um importante papel, para os Descobrimentos Marítimos, com a utilização da madeira dos pinho na construção de embarcações. Também nos séculos XVIII e XIX, contribuiu enquanto impulsionador das indústrias da construção naval, vidreira, metalurgia e de produtos resinosos. A madeira era utilizada como matéria-prima ou como adjuvante na produção de energia tanto pelas indústrias, como no próprio aquecimento das habitações.
Outro marco de sucesso no campo da Ecologia foi o Parque da Serra de Sintra que ainda nos dias de hoje nos oferece magnificas paisagens e um enquadramento holístico e místico à vila de Sintra. O apogeu da plantação do Parque da Serra de Sintra aconteceu durante o reinado de D. Fernando II (Saxe-Cobourg-Gotha), em pleno século XIX, após a compra do Palácio Nacional da Pena. Esta plantação surge em resultado da ideia de enriquecer toda a envolvente do palácio, numa experiência de recriação do Castelo de Neuchwanstein na Alemanha, plantando-se para o efeito, nas escarpas da Serra de Sintra árvores raras e exóticas, criando em simultâneo fontes, cursos de água e lagos. Para além desta nova plantação, o monarca tratou de replantar a floresta já existente, nomeadamente com carvalhos, e pinheiros mansos indígenas, ciprestes mexicanos, acácias da Austrália, entre várias outras espécies.
Todo este legado de uma refinada preocupações com as plantações vem sendo descurada ao longo dos últimos anos. Planta-se desordenadamente, debaixo de uma cultura hegemonicamente capitalista e desordeira, de que é exemplo a aposta na quase monocultura do eucalipto que se vem revelando uma verdadeira praga. O drama dos incêndios que vêm ocorrendo no nosso país, não é alheio a um deficiente ou ausente planeamento territorial que implica estratégias ao nível de espécies arbóreas, desmatação e limpeza de terrenos a par de um trabalho continuado de vigilância e protecção da floresta. Embora esta seja uma temática da actualidade que está em cima da mesa, as soluções tardam a ser apresentadas. Se pensarmos que, durante o Governo de Salazar existiam dois grupos profissionais que asseguravam o bem da qualidade florestal, podemos questionar se a nossa “evolução” tem sido feita da melhor maneira; refiro-me aos cantoneiros que asseguravam o tratamento e limpeza dos caminhos em áreas particularmente rurais e aos guardas-florestais, que, tal qual o nome indica, são os guardadores das nossas florestas, da nossa Natureza. Sabe-se que com estes dois “preventivos” sistemas, o risco de incêndio e de outras tantas contaminações seria reduzido.
Também o rito da caça assume o seu contributo como medida de preservação de espécies num contexto de Ecologia. No caso do javali, animal que se encontra no topo da cadeia alimentar e também em regime de praga (principalmente na zona arraiana), terá de ser controlado sob risco de exterminar as espécies que estão abaixo na cadeia alimentar, como é o exemplo dos coelhos ou mesmo, de arruinar terrenos agrícolas, como milharais. Esta caça não passa por ser apenas um desporto, chamo-lhe actividade de controlo venatório, na medida em que controla a praga e elimina os animais doentes e transmissores de doença a outras espécies. Fundamental também, não menosprezar a presença do homem e o contacto com a natureza enquanto mais-valia para evitar calamidades ou mesmo no seu combate ao poderem mais rapidamente ser identificadas situações de desordem territorial.

O ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas tem feito um óptimo trabalho neste sentido com a contribuição para a conservação da Natureza e das espécies que nela habitam. É fundamental assimilarmos que a Natureza tem de ser controlada, vigiada, a isto denomina-se preservação. É com base neste espírito que a Juventude Monárquica Portuguesa, organiza anualmente um evento dedicado à vida campestre. O Dia de Campo do ano corrente teve lugar na Ganadaria J. Rosa Rodrigues, na Chamusca, num extraordinário ambiente de convívio, com almoço, tenta de vacas bravas e uma visita guiada aos campos da região. Este evento permite às camadas mais jovens perceberem a interiorização da Agricultura, da Ecologia e das mais variadas temáticas ambientalistas, sensibilizando-as para a preservação e conservação das mesmas, indispensáveis à afirmação da verdadeira cultura de sustentabilidade comprometida com o bem-estar das gerações actuais e vindouras.

André Lopes Cardoso
Secretário geral da JMP, publicado in Real Gazeta do Minho, 30 de Junho de 2017

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Novos Turismos Lezíria e o Cavalo

No passado dia 09 de Maio, no Auditório da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira, debateu-se o tema Novos Turismos – Lezíria e o Cavalo. Este fórum organizado pela própria Junta de Freguesia contou com a presença do orador Dr. José Veiga Maltez, presidente da ANTE – AssociaçãoNacional de Turismo Equestre.

ANTE - Associação Nacional Turismo Equestre,
logótipo oficial


O Auditório estava bem composto, contou-se com presenças, o Sr. Presidente da Junta Mário Calado, Vice-Presidente João Conceição, Sr. Pedro Pietra Torres (representando as Actividades Equestresda Quinta do Bulhaco, em Trancoso), o matador Francisco Palhota, o matador José Júlio, especialistas em Atrelagem Dr. António Apolinário e D. Cristina Guerreiro (da Coudelaria António Guerreiro, Vila Franca de Xira), D. Maria Eugénia Casquinha (representando a Coudelaria Casquinha,Vila Franca de Xira), D. Isabel Palha Figueiredo (representado Amazonas de Portugal), Escola de Alter do Chão.
Quinta do Bulhaco, logótipo oficial

A apresentação do Fórum de Discussão ficou a cabo do Dr. David Fernandes Silva, do Departamento da Junta de Freguesia de Vila Franca, começando por cumprimentar o Orador convidado e o público.
Fez-se uma breve apresentação do Cavalo Lusitano, o qual habitou na campina da Lezíria e particularmente os momentos de turismo equestre que cá existem há vários séculos, como seja a Feira de Outubro, Colete Encarnado, Romaria a Nossa Senhora de Alcamé, o descontinuado Salão do Cavalo; e, momentos de reforço da nossa identidade equestre como sejam os Centros Hípicos e Escolas de Equitação.
 Coudelaria Casquinha

Apresentou-se ainda um conjunto de pinturas de alguns artistas vilafranquenses, como seja, Ana Maria Malta, Hermínia Mesquita e Ville, focados no tema do Fórum Equestre.
Após a apresentação do Fórum, o Dr. Maltez começou por apresentar a ANTE, que se localiza na “Capital do Cavalo”, Golegã e as suas actividades numa tentativa de dinamizar o Turismo Equestre em Portugal. Durante todo o Fórum foi feito um paralelismo entre o Turismo Equestre e a Vila da Golegã, fazendo-se entender que a malha urbana é colaboradora para uma melhor paisagem e, claro está, para a bucólica que o Turismo Equestre requer.



Extrapolou-se o conceito de Turismo a Cavalo, que é tudo aquilo que se passa directamente com o animal como: Montar, carro de cavalos (Atrelagem), Obstáculos, Ensino; e o conceito de Turismo do Cavalo, que são todas as actividades que estejam relacionadas com o universo cavalar, como seja, A Escola Portuguesa de Arte Equestre, Museu dos Coches, Correeiro, Ferrador e profissionais que desenolvem todos os artefactos inerentes ao desporto, imaginário do Campino.

Turismo Equestre Portugal, logótipo oficial

Criação da Marca Turismo Equestre Portugal – motivar pela qualidade.

Coudelarias de Vila Franca de Xira
Após o forum, comecei a compor ferros de Coudelarisa da região de Vila Franca de Xira, desenvolvendo-os em formato vectorial, de maneira a não perderem qualidade. 
Caso precise de algum ajuste no seu ferro não hesite em contactar.

André Lopes Cardoso

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Calças de Cós Subido

O Traje Português é um universo bastante rico e diversificado, tal qual os nossos usos e costumes que variam imenso de região para região. Como bem sabemos, o Traje Português foi pensado de acordo com o ofício de cada um, facilitando assim a execução das diversas actividades.
Falo-vos hoje das Calças de Cós-subido ou, como são vulgarmente apelidadas “calças até aos olhos”. Se repararmos no Traje Português de Equitação, as calças também são de cós-subido com abotoamento frontal, de maneira a apoiar os rins quando se monta a cavalo. No Traje Português, tudo tem sentido, e no caso das calças de homem este pormenor de apoiar os rins é nuclear, porém eram normalmente confeccionadas em fazenda ou algodão forte, de modo a aguentarem a rigidez do trabalho do campo; sabe-se que este tipo de vestimenta era muito utilizada pelos Lavradores e, particularmente no Ribatejo, a vida destes homens era passada a cavalo, quer desbastando cavalos, quer ferrando, cultivando, apartando gado.
Algumas destas actividades são mencionadas por João Chora, no Fado “Homem do Ribatejo”:

O homem do Ribatejo tem de sobejo coisas do céu
A chuva que vem do cimo, o Sol a pino e a mão de Deus
Terra que em ondas de mágoa, faz do campino um valente
O Tejo dá-nos a água que quer abraçar a gente

Pega um toiro em Alcochete
Vai cantar a Vila Franca
Monta um baio em Salvaterra de calção e meia branca
Vai à feira a Santarém
Há fandango em Almeirim
Nas adegas do Cartaxo bebe um sonho até ao fim

Irmão da terra e do gado, cantor de fado, homem de fé
Traz a lezíria no peito, não perde o jeito de ser quem é
Cresceu nas crinas do Tejo, sabe brandir quando quer
Aguilhão do desejo nos braços d'uma mulher

À Senhora do Castelo, em Coruche, a oração
E na Feira do Cavalo da Golegã, animação
Já passou pela Chamusca, entrou numa tasquinha
Vai também a Benavente pela festa da sardinha

Pega um toiro em Alcochete
Vai cantar a Vila Franca
Monta um baio em Salvaterra de calção e meia branca
Vai à feira a Santarém
Há fandango em Almeirim
Nas adegas do Cartaxo bebe um sonho até ao fim

Portugal é um país cheio de apontamentos de requinte, mas ao mesmo tempo de simplicidade e as questões de Vestuário estão todas muito bem pensadas, cumprindo sempre uma necessidade.


Calças de cós-subido utilizadas na Tenta de Novilhos

Calças de cós-subido utilizadas para montar a cavalo

terça-feira, 4 de abril de 2017

Quinta do Oratório ou será Quinta do Alentejo?!

Não se sabe ao certo em que século surge a Quinta do Oratório, mas segundo investigações paroquiais, sabe-se que durante o século XV e o século XVI já existia a Quinta e a Capela.
Esta propriedade rural situa-se em Capeleira, um lugar que pertence à freguesia de Usseira, Óbidos. Foi pertença, durante o século XV e XVI da família Lemos e Rêgo. Mais tarde terá sido vendida a um alentejano, tendo-lhe sido alterada a denominação para Quinta do Alentejo.

Armas de Lemos

As Armas de familia Lemos não foram encontrados em todo o complexo mas, de acordo com registos paroquiais, este complexo era, de facto, pertença deste ramo notável de Óbidos.
As Armas aprsentam-se de azul, seis cadernas de crescente de prata, dispostas em duas palas. Timbre: um dragão de verde, sainte, armado e lampassado de vermelho, carregado de um crescente de prata no peito.
As que foram conservadas pelo rampo secundogénito, diferenciadas nos esmaltes e números de peças são: de vermelho, cinco cadernas de crescentes de ouro, postas em aspa. Timbre: uma águia de vermelho, armada de ouro, carregada de uma caderna de crescentes do mesmo no peito e assente num ninho de sua cor.

À família portuguesa deste nome usam os genealogistas dar a maior antiguidade e nobreza, fazendo-a originária em D. Bermudo Ordoñez, senhor de Lemos, localizado no séc. III (?).

No entanto, o estudo sério de documentos indiscutíveis relega para o campo das fantasias aquela teoria genealógica.
Com efeito, o mais antigo membro da família portuguesa dos Lemos que é possível identificar com exactidão é Giraldo Martins de Lemos, escudeiro, que casou em meados do séc. XIV com Beringeira Anes, filha de João Esteves, riquíssimo comerciante de Lisboa e industrial de sapatos, que com sua mulher, Constança Anes, instituíu para aquela sua filha um grande morgado em Calhariz de Benfica no termo de Lisboa.
Daquele casamento nasceu Gomes Martins de Lemos, que foi fiel partidário da causa do Mestre de Avis, a quem serviu durante toda a guerra com Castela. A sua constância não foi esquecida por D. João I, que o fez cavaleiro e aio de seu filho natural D. Afonso, depois primeiro Duque de Bragança, dando-lhe mais o senhorio de Oliveira do Conde e promovendo o seu casamento com D. Mécia Vasques de Goes, herdeira do morgado e senhorio de Goes, com geração.
A descendência de Gomes Martins de Lemos viria a dividir-se em dois ramos, caindo cedo o primogénito em senhora, e conservando o secundogénito a varonia por algumas gerações mais.
A chefia do primeiro, que o era também das famílias dos Goes e dos Lemos, viria a pertencer à Casa dos Silveiras, Condes da Sortelha, enquanto a da segunda seria conservada pela Casa chamada dos Lemos da Trofa, por ter tido o senhorio desta vila.

Armas de Rêgo
As armas ditas antigas dos Regos são: de verde, uma banda ondada de prata, carregada de três vieiras de ouro, perfiladas de azul. Timbre: uma vieira do escudo, entre dois penachos de verde, picados de ouro.
Modernamente, as armas passaram a ser: de verde, uma banda ondada e aguada de sua cor, carregada de três vieiras de ouro. O timbre não sofreu alteração alguma.
Nome de raízes toponímicas, deriva da honra desta designação, no lugar de Lordelo, comarca de Lanhoso.
Parece ter sido o fundador da família Lourenço do Rego, que vivia em meados do século XIII, e que deixou descendência que lhe continuou o nome.

A presença da família Rêgo e Lemos advém de casamentos durante o século XIV.
Quinta do Oratório, na actualidade


A vernacular Quinta do Oratório contava com a Casa principal, Adega com Lagar, Eira e Capela, esta última dedicada a São Bento, tendo ficado conhecido por Capela de São Bento da Capeleira. A arquitectura de todo o complexo é de estilo rural.
A Capela de estilo rural, destacada tem a fachada delimitada por muro, formando um pequeno adro. "...de antiguidade mui remota, como se vê da sua construção (...) e de planta rectangular orientada e composta por corpo único. Cobertura homogénea em telhado de duas águas. Todas as fachadas apresentam paredes de alvenaria de pedra, rebocada e caiada de branco com embasamento definido por barras pretas. Nos cunhais vêem-se gigantes cilíndricos rematados por coruchéus cónicos. Na fachada observa-se uma porta com ombreiras em cantaria chanfrada da primitiva construção. Fachada principal voltada a Oeste, formando empena simples na qual se rasga um pórtico axial e, sobre esta, um janelão quadrangular, guarnecidos a cantaria.

Capela de S. Bento da Capeleira, Usseira, Óbidos

A ermida é formada por dois volumes diferenciados: o primeiro que serve actualmente de nave e limitado aos vértices por gigantes o segundo com uma fresta. Adossado à parte posterior está o volume do trono, com uma fresta na fachada posterior.
O interior é de nave única, paredes de alvenaria de pedra, rebocada e caiada de branco, sem ornamentos; altar-mor com uma máquina retabular simples e um trono onde se encontra a imagem do padroeiro, São Bento.
Esteve integrada no património imobiliário da Quinta do Oratório, assim conhecida por ter relação à Congregação do Oratório, a qual foi fundada por diversos padres, entre eles o Padre Francisco Gomes (natural de A-dos-Negros).

A quando da morte desse rico lavrador alentejano, sem herdeiros, a propriedade foi deixada à Santa Cruz de Coimbra, com a condição desta instituição patrocinar a presença de três padres para leccionar, no Santuário do Senhor Pedra, as disciplinas de Retórica, Teologia Moral e Filosofia. Com o tempo esta cláusula foi alterada, aceitando-se dois rapazes de Óbidos para se formarem em Coimbra, evitando a deslocação de sacerdotes para Óbidos.
Adega da Quinta do Oratório, Usseira, Óbidos
Paralelamente a toda esta investigação sobre a Quinta do Oratório, ressalva-se ainda uma habitação do centro urbano de Óbidos, a qual tem 2 inscrições em pedra e poderam representar mais um elemento da Família Lemos, no caso o brasão de armas. Apesar de não ser claro, parece que as inscrições em pedra, tendem a assemelhar-se com o trevo típico das armas de Lemos. Nelas encontramos inscrito "ANNO" e na outra "1731" o que representará o ano da construção da habitação, isto significará que no século XVIII ainda haveriam Lemos a utilizar armas em Óbidos. Por outro lado, o Trevo de Quatro Folhas simboliza, especialmente, a sorte. À cada folha é atribuído um significado: esperança, fé, amor e sorte.
Também conhecido como “trevo da sorte”, esse nome decorre da dificuldade em ser encontrado, ao contrário do trevo de três folhas que é bastante comum.
Habitação com 2 pedras em forma de Trevo de Quatro
Folhas e inscrições, Óbidos


Fonte:
Património Inventariado – Fichas
CÂMARA MUNICIPAL DE ÓBIDOS REVISÃO DO PLANO DIRECTOR MUNICIPAL
Disponível em: http://home.fa.ulisboa.pt/~miarq4p5/2010-11/2_SupportElements/1_TownHall_Elements/1_County_REVISAO%20PDM%202%AA%20Reuniao%20Plenaria/Estudos%20de%20Caracteriza%E7%E3o/Estudos_Tematicos/CMP%20Edificado/01-PATR_INVENTARIADO.pdf, consultado a 27 de março de 2017
Carta Municipal de Património Edificado
Disponivel em: http://home.fa.utl.pt/~miarq4p5/2010-11/2_SupportElements/1_TownHall_Elements/1_County_REVISAO%20PDM%202%AA%20Reuniao%20Plenaria/Estudos%20de%20Caracteriza%E7%E3o/Estudos_Tematicos/CMP%20Edificado/03-CMPE_LISTA.pdf, consultado a 27 de março de 2017

André Lopes Cardoso

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Salão do Cavalo, Vila Franca de Xira

Hoje recupero um texto sobre o Salão do Cavalo de Vila Franca de Xira.
“O Salão do Cavalo em Vila Franca de Xira era um certame dedicado ao cavalo, principalmente Lusitano e à Companhia das Lezírias. Sabe-se que a região de Vila Franca tem fortes ligações ao campo, à Festa Brava e, por isso, ao cavalo. O certame foi iniciado no final da década de 80, particularmente em 1989, tendo sido fortemente apoiado pelo Eng. Sommer d'Andrade, o Dr. Torcato de Freitas, José Assis Pereira Palha, Major Simões Pereira, Coronel Cabedo entre outros elementos que faziam parte da comissão organizadora. Acontecia tipicamente no primeiro fim-de-semana do mês de Maio, no local que hoje conhecemos como Campo do Cevadeiro, junto à entrada sul da cidade. Era nesse campo que vinham de todo o país cavaleiros, marialvas, e entusiastas curiosos espreitar os místicos de quatro patas. Era uma regressão ao passado com pompa e circunstância, desde os trajes típicos aos passos equestres que se vislumbravam às pargas, não só no local da feira, mas por toda a cidade.
Não só era um desfile de cultura, havia também um conjunto de provas equestres que, nalguns casos, pontuavam para o campeonato nacional. Modalidades como o Horseball, Equitação de Trabalho, Condução de cabrestos, Picaria à vara larga, Concurso do Poldro mamão, eram alguns dos momentos do certame. Normalmente acontecia também um show equestre protagonizado pelo Centro Equestre da Lezíria Grande,  se a memória não me trai.
Paralelamente a este conjunto de actividades, existia também o comércio de cavalos.”

In Concept Board por André Lopes Cardoso, publicado em 18 de Janeiro de 2015

Após várias conversas com amigos e entusiastas de cavalos relativamente ao texto acima sobre o cavalo e o Salão de Cavalo de Vila Franca, pensei em fazer um apanhado sobre o dito Salão de Primavera.
Como sabemos, Vila Franca é considerada a sevilha portuguesa, isto porque está envolvida pelas Lezírias, mas porque vive a afición da Festa Brava. Este contexto permite perceber que quem aqui vive, vive as coisas da terra e dos animais de uma maneira muito particular, particularmente as tradições e os costumes tipicamente ribatejanos. Foi desta cidade que saíram os maiores toureiros e cavaleiros de todos os tempos, porque existe de facto esta ligação sanguínea nas gentes da terra.

O Salão do Cavalo termina por volta de 2006/2010, numa tentativa de acabarem com as tradições desta cidade. Foi lentamente movido para as Lezírias, atraindo menos visitantes, justificando assim o seu terminus. 
Fiz um levantamento de pontos positivos, outros a melhor, de maneira a que se perceba mais facilmente as mais-valias que poderia trazer à cidade.

Apresento alguns pontos positivos:
• Manter viva a tradição ribatejana;
• Manter viva a tradição equestre portuguesa;
• Revitalizar a cidade;
• Movimentação e fluxo de comércio, sejam restaurantes, hotéis, pensões.

Pontos a melhorar:
• Manter as raízes do certame tradicional, mas fazer ligeiras actualizações, como por exemplo, trazer a festa novamente para a cidade;
• Promover o cavalo na região, para tal, instalar um picadeiro/hipódromo em Vila Franca, de maneira a que os cavaleiros da região tenham um local onde possam treinar os seus equídeos gratuitamente, tal como acontece na Golegã (manga);
• Criar parcerias com Escolas e Companhias Agrícolas para patrocinarem o certame;
• Criar estruturas para que a festa não se desvaneça no tempo;
• Apelar a que as tertúlias tauromáquicas não só colaborem na Festa do Colete Encarnado, mas que apoiem e disseminem a Festa dos Cavalos.

Vila Franca de Xira está situada numa zona muito acessível, pois está próxima de Lisboa, da capital do Cavalo (Golegã, para os mais distraídos) mas também do campo. Os acessos são óptimos, desde o comboio, ao Auto-Estrada, a Recta do Cabo para quem vem de Sul, enfim é um núcleo óptimo de encontro, pois é central.


Disposição da Cidade e Hipótese de Sítios estratégicos para Salão de Cavalo, Vila Franca de Xira

O Largo da Câmara, por ser o da cidade e, porque tradicionalmente é o local onde se entregam prémios e condecorações, era importante ser aqui o local solene da Feira, onde aconteça a abertura do Certame, entregas de prémios, entre outros. 
  Relativamente ao ponto Entrega de prémios, deveriam ser criados e considerados vários Prémios como: Melhor Poldro mamão; Melhor traje à portuguesa, entre outros.
O Campo do Cevadeiro seria o coração da Feira, como já era no antigo Salão. No entanto, deveria ser repensado o ordenamento do espaço. O pavilhão deveria servir stands de venda de equipamento, vestuário, e outros artigos relacionados com cavalos, como boxes, atrelados. Já no exterior, poder-se-ia cumprir a tradição e utilizar o espaço para actividades como Condução de gado e cabrestos, Tradicionais jogos, Campeonato de Horseball.
Criar parcerias com as Coudelarias da região, de maneira a virem apresentar os seus produtos. Os Centros Hípicos - O Centro Equestre da Lezíria Grande e o Mestre Luis Valença, o Morgado Lusitano, o Centro Equestre das Cachoeiras, a Quinta da Lezíria, a Quinta da Bela Vista - também deveriam colaborar, através de baptismos equestres, ou até shows no caso do Mestre Luís Valença e do Morgado Lusitano.
Dotar a cidade de pontos estratégicos para colocação de boxes ou aluguer de boxes.
Foi no Cabo das Lezírias que terminou o Salão do Cavalo mas não podemos esquecer das vantagens que o espaço poderia trazer ao evento, desde a sua localização, longe da confusão e do barulho aos próprios equipamentos que lá constam, como: Tentadeiro, Dormitório, Casas agrícolas. Neste local era interessante colocar provas de C.C.E. – Concurso Completo de Equitação – pois tem imenso espaço para este tipo de provas. Poder-se-ia também abrir um Restaurante, ainda que de cariz temporário, servisse refeições durante a Feira.
A Praça de Touros Palha Blanco e o Museu Etnográfico nela inserido seriam outro ponto forte do certame. Dar a conhecer a Palha Blanco e a sua história desde a edificação em 1901, até aos nossos dias, lembrando que antes desta praça existiram outras duas, sendo que a anterior foi vítima de incêndio. Revitalização deste recurso, abertura do Museu Etnográfico que muito agradará este público. Outro ponto interessante seria a apresentação de exposições de pintura, como por exemplo do , José Serrão de Faria. Aproveitar também o certame para fazer um show de Recortadores.
A Companhia das Lezírias é a maior exploração agro-pecuária e florestal existente em Portugal, compreendendo a Lezíria de Vila Franca de Xira, a Charneca do Infantado, o Catapereiro e os Pauis (Magos, Belmonte e Lavouras). A Coudelaria da Companhia das Lezírias, dedica-se actualmente, em exclusivo, à criação do cavalo Puro-Sangue Lusitano, cujos produtos macho recria e aos três anos desbasta e comercializa, no mercado interno e externo. A éguada, com um efectivo de 30 fêmeas de ventre, pasta próximo de Samora Correia - Benavente, na Charneca de Braço de Prata e Vale do Roubão.
Não esquecer as raízes e por isso fazer uma Largada de Touros no Largo da Praça de Touros Palha Blanco, de maneira a atrair um público diversificado.

As nossas tradições são a nossa identidade, são elas que nos conferem o carácter distinto dos outros povos, não os deixemos perecer.


André Lopes Cardoso