Os tempos
eram difíceis, vivia-se com base na Agricultura, e tudo girava em redor dos
campos e dos produtos que advinham deles. No Ribatejo, existiam duas grandes e
distintas valências, os trabalhadores agrícolas (lavradores, seareiros, jornaleiros) e os pescadores.
Segundo Alves Redol, os primeiros eram apelidados de gaibéus e os segundos de
cagaréus, sendo que os primeiros vinham do interior Norte para trabalhar os
campos ribatejanos, principalmente as Lezírias, executando principalmente trabalhos
como valadores e ceifeiros. Quanto aos cagaréus, estes vinham principalmente da
Murtosa, Ovar (varinos) e de Vieira de Leiria (avieiros) acabando por se fixar também
no Ribatejo, tirando partido do que havia no Rio Tejo, que era extremamente
navegável contrariamente ao Oceano Atlântico.
Falamos de
século XIX e evolução era coisa que não existia, a contracepção era coisa que
não existia e, por isso, nasciam imensas crianças, mas a taxa de mortalidade
infantil também ela era imensa, principalmente por doenças do foro respiratório
(pneumónica).
Manuel
Lopes Bexiga (1861-1947) foi um lavrador ribatejano que se destacou no seu meio
e no seu tempo, devido ao seu esforço e trabalho. Nasceu a 11 de Abril de 1861, ficando conhecido por "Maltez Rico" tanto em Vila Franca de Xira, como na região. Foi apelidado de "Maltez", porque saiu de casa dos pais antes de casar. Sabe-se que era filho do Sr.
Manuel José Lopes Bexiga (Casa de Fernandares, 1826) e da Sr.ª Ana Maria Baixinho (A-de-Mourão), mas não existem mais referências
acerca dos seus pais. Neto paterno de Francisco Lopes Bexiga e de Dona Ana Bárbara (Santiago dos Velhos, 1793) e Materno do Lavrador Manuel Lopes Baixinho (Santiago dos Velhos, 1821) e da Sr.ª Ana Maria. Sabe-se que a Família Lopes Bexiga é originária de uma localidade próxima de Santiago dos Velhos, concelho de Arruda dos Vinhos.
Casou-se com a Sr.ª Gertrudes Maria da Conceição (1876-1958) filha de Romão Mateus e de Maria Gertrudes, ambos nascidos e moradores em Casal de S. Romão, São João dos Montes. Desta união nasceram oito filhos: Teodora da Conceição Lopes (1897), Maria da Conceição Lopes (1899), Guilhermina da Conceição Lopes (1903-1956), Romana da Conceição Lopes, Marcolina da Conceição Lopes, Maria Gertrudes da Conceição Lopes (1913), Manuel Lopes Bexiga Junior, Teresa da Conceição Lopes. A vida destas dez pessoas estava dependente do que o campo oferecia e, foi neste sentido que, Manuel Lopes Bexiga se destacou, não só como proprietário de várias casas agrícolas em Vila Franca de Xira, mas também como Lavrador.
Manuel Lopes Bexiga, "Maltez Rico", c. 1900 Vila Franca de Xira |
Gertrudes Maria da Conceição "Maltez Rica", c. 1900 Vila Franca de Xira |
Casou-se com a Sr.ª Gertrudes Maria da Conceição (1876-1958) filha de Romão Mateus e de Maria Gertrudes, ambos nascidos e moradores em Casal de S. Romão, São João dos Montes. Desta união nasceram oito filhos: Teodora da Conceição Lopes (1897), Maria da Conceição Lopes (1899), Guilhermina da Conceição Lopes (1903-1956), Romana da Conceição Lopes, Marcolina da Conceição Lopes, Maria Gertrudes da Conceição Lopes (1913), Manuel Lopes Bexiga Junior, Teresa da Conceição Lopes. A vida destas dez pessoas estava dependente do que o campo oferecia e, foi neste sentido que, Manuel Lopes Bexiga se destacou, não só como proprietário de várias casas agrícolas em Vila Franca de Xira, mas também como Lavrador.
Marcolina da Conceição Lopes |
Relativamente
às propriedades que geria, sabe-se que Lopes Bexiga detinha um pequeno império
de propriedades rústicas das quais se destacam a Quinta da Mata, a Quinta da
Valença, várias propriedades em Casal Novo e Casal Velho, Quinta da Costa Branca, propriedades em Alhandra hoje
propriedade da Cimpor (pedreira).
A Quinta da
Mata foi herdada pela filha Guilhermina da Conceição e situa-se na Rua do
Bairro da Mata, em Vila Franca de Xira. Nesta propriedade eram exploradas
diferentes culturas, nomeadamente vinha e árvores de fruto.
Quinta da Valencia, Vila Franca de Xira Retirado da Secções Cadastrais do Cadastro Geométrico da Propriedade Rústica, Secção P, |
A Quinta da
Valencia era a residência oficial de Lopes Bexiga, situada em Vila Franca de
Xira, uma propriedade bastante grande, confrontada a Norte pela Ribeira de
Santa Sofia, a Sul pelo Caminho Velho, atual Rua Dona Froiles Ermiges de
Ribadouro, a Oeste pela Quinta do Conde Farrobo e a Este pelo ribeiro. Nesta
quinta era cultivada vinha e árvores de fruto, principalmente maçãs.
O Casal Novo situa-se perto de São Romão (Trancoso) no concelho de Arruda dos Vinhos e era uma propriedade relativamente pequena, onde era cultivada pouca variedade de produtos.
Placa toponímica azulejar da Rua Dona Fraile Eriges de Ribadouro (antigo Caminho Velho) |
Quinta da Valencia, Vila Franca de Xira Nesta fotografia percebe-se o limite da Quinta com a Ribeira de Santa Sofia. |
O Casal Novo situa-se perto de São Romão (Trancoso) no concelho de Arruda dos Vinhos e era uma propriedade relativamente pequena, onde era cultivada pouca variedade de produtos.
A Quinta da
Costa Branca era uma propriedade no centro de Vila Franca de Xira, onde se
insere hoje o Bairro CASI e o antigo Hospital de Vila Franca de Xira. Não se
sabe ao certo os confrontamentos desta propriedade, no entanto pensa-se que a
Norte a Rua Vasco da Gama é o limite e a Sul a Calçada da Costa Branca. Nesta Quinta havia uma enorme vinha, uma das melhores da região e árvores de fruto. Actualmente só resta o casarão e a Adega.
A Cimpor
ainda adquiriu um terreno no monte em Alhandra, junto ao miradouro de Hércules (Homenagem às Linhas de Torres Vedras),
onde hoje é feita a extração de pedra (pedreira).
Relativamente a prédios urbanos, não se consegue precisar quantos e onde eram, mas alguns ainda são notáveis. Na Rua Vasco da Gama em Vila Franca de Xira, nº 37-39-41 existe ainda um prédio de quatro fogos, de dois pisos, com logradouros e adega. Este prédio fazia parte da Quinta da Costa Branca. Ainda na mesma rua existe mais um prédio com as mesmas características no nº 55 (azul claro). O prédio de três pisos e loja no piso térreo sito na Rua dos Heróis da Guerra Peninsular, em Vila Franca de Xira. Pertencia também o prédio sito no Largo Comendador Miguel Esguelha, nº 4, prédio urbano com lojas no rés-do-chão e mais dois andares dedicados à habitação. Na R. António Palha, detinha um prédio de 2 andares, sendo que tinha supermercado como loja, o qual foi herdado pelo filho Manuel Lopes Bexiga Junior.
Relativamente a prédios urbanos, não se consegue precisar quantos e onde eram, mas alguns ainda são notáveis. Na Rua Vasco da Gama em Vila Franca de Xira, nº 37-39-41 existe ainda um prédio de quatro fogos, de dois pisos, com logradouros e adega. Este prédio fazia parte da Quinta da Costa Branca. Ainda na mesma rua existe mais um prédio com as mesmas características no nº 55 (azul claro). O prédio de três pisos e loja no piso térreo sito na Rua dos Heróis da Guerra Peninsular, em Vila Franca de Xira. Pertencia também o prédio sito no Largo Comendador Miguel Esguelha, nº 4, prédio urbano com lojas no rés-do-chão e mais dois andares dedicados à habitação. Na R. António Palha, detinha um prédio de 2 andares, sendo que tinha supermercado como loja, o qual foi herdado pelo filho Manuel Lopes Bexiga Junior.
Como se
pode perceber, os bens eram muitos, outros já caíram no esquecimento, mas o
monopólio que detinha fazia de si um dos homens mais ricos de Vila Franca de
Xira. O controlo de todas estas propriedades era feito pelo próprio, pelo filho
Manuel Lopes Bexiga Jr. e por alguns genros. Tinha vários foreiros a utilizarem
os seus terrenos, o que era uma fonte de rendimentos, seja através de dinheiro,
seja através de alqueires de produtos agrícolas.
Manuel Lopes Bexiga, esposa, filhos, sobrinhos e amigos, c. 1940 Festas de S. Quitéria de Meca, Alenquer |
Uma das
tradições familiares era a visita anual à Basílica de Santa Quitéria de Meca, em
Alenquer, com o intuito de ver benzido o gado. Esta festa anual decorre no mês de Maio. Não se sabe se levavam gabo para
a bênção durante a festa, mas sabe-se que participavam ativamente nas festas,
sendo que iam de galera da Quinta da Valencia até Meca, cerca de 25 km por
viagem.
Pensa-se
que não recebeu heranças, mas segundo Soares Nunes (2006)[1]
existe uma propriedade registada na Fazenda Nacional de 1841 denominada por
Trindade, na qual constam casas e terras na zona de Calhandriz em nome do
foreiro Manuel Lopes, pensando-se ser o pai de Manuel Lopes Bexiga. Não se sabe ao certo quantos irmãos tinha, contudo sabe-se que o Lavrador João Lopes Bexiga (28.041867 - 01.02.1956), Senhor da Quinta da Casa Nova em S. João dos Montes, concelho de Vila Franca de Xira, era um dos seus irmãos.
João Lopes Bexiga |
Quinta da Casa Nova, São João dos Montes
|
Alguns
familiares ainda pensam que ao adquirir uma falsa máquina de “fazer dinheiro”, Lopes Bexiga acabou por enlouquecer, pois percebeu que teria sido enganado por um próximo, tendo gasto uma fortuna na compra do dito artefacto. Esta
revolta que sentiu quando percebeu que teria sido enganado, acabou por
colocá-lo numa situação de "loucura", tendo falecido a 20 de Setembro de 1947. A noticia foi dada a toda a família pelo filho
Manuel Lopes Bexiga Junior que bateu todas as quintas dos irmãos. Encontra-se sepultado na campa de família no Cemitério de Vila
Franca de Xira.
Pelo trisneto,
Senhor Prior, o Pároco Ramalho e "Maltez Rico" Bilhete Postal - Carte Postale - Union Postale Universelle Colecção de postais portugueses |
André Lopes Cardoso
[1] Soares
Nunes, Graça – Vila Franca de Xira: economia e sociedade na instalação do
liberalismo (1820-1850). – (Coleção Património Local, 8). Edições Colibri /
Museu Municipal – Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, 2006, pág. 108. ISBN
972-772-650-X
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