quarta-feira, 3 de julho de 2013

Cobertor de papa, ou será manta lobeira?


O cobertor de papa também vulgarmente conhecido como manta lobeira, é um ícone bem português que detém muito valor em todo o território nacional. A sua origem é na Guarda, mais propriamente na aldeia de Maçainhas, onde em 1966 foi fundada a Fábrica de Cobertores de José de Freire, sendo a única a produzir este tipo de cobertor. O material utilizado neste produto é a lã churra ou melhor, lã de ovelha de Raça Churra

Cobertor de papa original
Estes ícones ganham forma nos grandes teares de Maçainhas, pelas mãos dos escassos artesãos da região que detém ainda a arte de tecer a lã. Apesar de ser pouco produzido, é no Verão que a lã churra é fiada e tecida, sendo posteriormente colocada no pisão, de modo a ser lavada e feltrada[1], depois vai à máquina cardar, puxando-lhe o pelo, sendo por fim esticada para secar ao Sol. Estas práticas são morosas e cansativas, mas só assim se consegue obter o verdadeiro cobertor de papa, consistente e muito quente. Existem variações de cor, dependendo do gosto do cliente, poderá ser riscado ou liso. 
No Ribatejo, o cobertor de papa é utilizado pelos campinos para proteger as suas montadas e as suas costas. É colocado sob a sela como de um suadouro se tratasse, tornando mais confortável a prática de montar a cavalo. 
Campino em prova de perícia, com cobertor de papa
Riscado de verde, encarnado, castanho e amarelo, sobre fundo bege, também conhecido por manta espanhola. Por outro lado, durante as festas do Colete Encarnado, a cidade é invadida dos por estes gigantes do tipo espanhol, os quais são utilizados para ornamentar as janelas e varandas das casas vilafranquenses. São ornados com flores e artefactos tipicamente ribatejanos, guarnecendo as ruas da cidade. No Minho e Norte do país utiliza-se o cobertor de papa original. Também os há do tipo "barrento" que recursa dos matizes bege e castanho na sua coloração (Pomar, 2010).

Manta lobeira (cobertor de papa) tipo espanhol, utilizado no Ribatejo

                  Atualmente existem grupos organizados para evitar a extinção de tal arte, evitando que caiam no esquecimento, através de escolas e ateliers junto das camadas mais jovens, promovendo a arte de bem tear(Duarte, 2009).

Conheça também a Escola de Artes e Ofícios que foi fundada em 2008, precisamente em Maçaínhas,  através do endereço: http://eaomacainhas.com/ 
André Lopes Cardoso



[1] A feltragem, processo feito à base de água e sabão, serve para tornar a lã churra num tecido (feltro) de lã.

Sem comentários:

Enviar um comentário