terça-feira, 16 de julho de 2013

Apresentação de tese de mestrado

Boa tarde,

Após seis meses de trabalho intensivo, entre investigações, bibliotecas, entrevistas, protótipos, apresentações, conseguiu-se finalmente concluir uma tese que, segundo se consta, é bastante interessante; uma tese que acaba por vir enriquecer o nosso espólio literário e projetual português, pois faz uma espécie de catalogação dos nossos artefactos populares, materiais de construção e propostas de espaços comerciais com os artefactos recolhidos.

Convido-vos a comparecerem à minha apresentação da dissertação de mestrado em Design de Produto intitulada "Cultura Popular Portuguesa - utilização de objetos da Cultura Popular Portuguesa para Design de Ambientes de Espaços Comerciais". A apresentação e posterior defesa acontecerá amanhã (17 de Julho de 2013) na Faculdade de Arquitetura de Lisboa, pelas 9h30. Para investigadores e conhecedores da nossa história e da nossa cultura, penso que seja uma boa oportunidade de poderem observar a reinterpretação dos nossos objetos de culto num contexto dito contemporâneo de design de ambientes, cafés!

Para além do mais, será uma interessante viagem que acontece a vários níveis. primeiro o desenrolar do projeto e claro, o desenrolar da nossa cultura, desde os povos que por cá passaram, até à contemporaneidade, onde é difícil ser-se criativo, com falta de recursos financeiros. Serão ainda apresentadas, em jeito de conclusão, alguns princípios que podem ser úteis para a recuperação, preservação e disseminação da nossa Cultura Tradicional.

Apainelado de azulejos contemporâneos, lembrando os azulejos de técnica de corda-seca

André Lopes Cardoso

sábado, 13 de julho de 2013

FIA 2013


O FIA – Festival internacional de Artesanato está patente até amanhã na FIL, em Lisboa e está alegremente representado. Lamento colocar só hoje o post, mas infelizmente desconhecia que o evento se realizava nesta data, daí que só hoje consegui ir visitar o certame. A exposição conta com três pavilhões, sendo que o primeiro é representativo da Arte Portuguesa, muitos são os artistas portugueses que se encontram no certame, bem como novas tendências de Artesanato, como o patchwork (carteiras em tecido, estojos e afins), existe também a representação de máquinas de costura de topo, com painéis meio futuristas que quase que bordam sozinhas. Existe ainda a parte mais tradicional, ainda que mal distribuída por zonas, pode-se observar peças belíssimas de artesanato como Júlia Côta, Nélson Oliveira, Ana Franco, Manuel Macedo, entre outros. Penso que as áreas de circulação do pavilhão estão mal conseguidas, bem como as regiões, que deveriam estar segmentadas, de maneira a que se conseguisse ter uma visão mais global. A exceção vai para a zona do Minho, em que existe um balcão central que aborda a região; este é depois circundado pelos stands dos vários artistas, permitindo visualizar o Figurado barcelense na sua génese mais pura. Penso que a Bordalo Pinheiro poderia ter um stand exclusivo visto ser uma das marcas mais portuguesas e, ao mesmo tempo, mais internacionais que possuímos. Desde colchas, rendas, bordados, olaria, cerâmica, vergas, há um pouco de tudo.

No segundo pavilhão a exclusividade é a Arte do Mundo, ou seja, stand de arte principalmente africana, oriental, brasileira – exotismo. Penso que o pavilhão está extremamente mal desenhado, os stands são em grande numero e os corredores de circulação tornam-se ridiculamente pequenos para o fluxo de pessoas. Mais, as peças expostas são quase seriadas, o que aborrece, pois basta ver um stand de cada arte que rapidamente temos um pavilhão visto.

O pavilhão terceiro aborda a Gastronomia, tanto portuguesa como estrangeira. Penso que não existem grandes inovações de registo, certo é que o cake design está na ordem do dia.

De uma maneira geral, penso que é uma exposição a visitar, até porque já termina amanhã. Os preços estão muito acessíveis, o que torna convidativo. Vamos valorizar o que é nosso!
Coroça transmontana

Aliança Artesanal - Lenços dos Namorados

"Zé" crucificado. 
Da seia ao bacanal

Barcelos | Capital do Artesanato

Stand de Barcelos

Stand de Barcelos 2

Luminária artesanato criativo (menção honrosa)

Traje de Viana do Castelo

Traje de Viana do Castelo, noiva

terça-feira, 9 de julho de 2013

Papel de Parede


O papel de parede é dos materiais que é mais utilizado pelos designers contemporâneos no revestimento de paredes, tanto pela sua versatilidade como pela facilidade de aplicação. A vasta gama de padrões que nos é oferecida, acaba por ser uma grande vantagem, podendo coadunar-se o papel a qualquer tipo de ambiente. Para além disso, é um material bastante resistente contra a Humidade e de fácil lavagem.
                  Sabe-se que a sua primeira aparição foi na China, cerca de 200 a.C., mas a sua produção era muito arcaica, através de papel de arroz, totalmente branco, sem recurso a detalhes ornamentais. Mais tarde, passou a ser produzido com pergaminho vegetal, adquirindo coloração e motivos variados. Os desenhos que patenteavam estes papéis decorativos eram desenhados à mão levantada por artesãos; posteriormente surgiram carimbos de madeira, os quais eram mergulhados em tinta, imprimindo-se assim motivos nos ditos pergaminhos, criando papéis únicos. Estes papéis eram adquiridos por mandarins e comerciantes com posses (História do Papel de Parede, 2012).
                  A tendência do papel decorativo de parede só chegou mais tarde à Europa, só por volta dos séculos XVI e XVII, através de comerciantes árabes, os quais teriam aprendido a arte de decorar o papel com os chineses, através dos contactos que mantinham. Esta tendência passou a pontuar muitas paredes de casas europeias, substituindo as tapeçarias. Os motivos existentes eram poucos, mas a partir de 1500, com as influências renascentistas em França, começaram-se a produzir padrões totalmente europeus, a pedido de Francisco I, contrariando a conhecida produção chinesa, conhecida por chinoisserie. A primeira fábrica de papel de parede foi fundada em 1630, em Roven, França. Mais tarde, em 1634, a Inglaterra começou a produzir os seus próprios papéis de parede, inspirados nos papéis franceses. O Chippendale foi o papel mais vendido em Inglaterra, também ele inspirado no Rococó francês, desenhado por Thomas Chippendale (1718-1779), um marceneiro britânico de elevada reputação. Posteriormente, a máquina de impressão inventada por Konig melhorou imenso as técnicas de fabricação de papel, criando novos motivos ornamentais, transparências, sobreposições, relevo, conhecido como flock. O advento da industrialização acabou por devastar estas artes, mas William Morris, fundador do movimento Arts & Crafts, tentou combater esta industrialização, criando artesanato criativo, retornando ao artesanato, como solução ao adágio da máquina. Naquela época, Morris inspirou-se nos padrões florais, alegres, conhecidos como chintze, mas não teve grande sucesso (História do Papel de Parede, 2012).
O papel pintado pode ser aplicado em qualquer divisão, com recurso a alguns materiais que facilitam a operação: raspador triangular, faca de pintor, régua, colher, gesso ou estuque, detergente, papel de vidro, tesoura ou x-ato, fio-de-prumo, rolete, escabelo, escova. Normalmente é utilizada uma mesa para se dar cola ao papel com auxílio de um rolo ou pequena vassoura, o mesmo procedimento é feito na parede. Aquando da colocação do papel, tem-se de precaver para que o papel não fique enfolado e com bolhas de ar, este procedimento pode ser auxiliado por uma esponja. A manutenção é relativamente simples, para remover o pó basta passar um pano ou aspirador, no caso de manchas, pode-se passar sabão e água, se for impermeável; no caso de marcas de dedos, uma borracha de lápis resolve o problema, apagando de cima para baixo, sem pressionar muito o papel (Vernon & David, 1970).
                  A venda do papel decorativo chega através de rolos, normalmente de 0,50m de largura por 10m de comprimento; assim terá de se calcular a altura da parede a aplicar e a área da divisão, percebendo-se rapidamente a quantidade de rolos de papel que se terá de obter. O plástico decorativo adesivo é outro tipo de papel de parede, mas é utilizado como efeito ornamental. A sua aplicação é semelhante à do papel de parede, mas os motivos são diferentes, normalmente figurativos, utilizados tanto em azulejos como em estuque (Vernon & David, 1970).

Chippendale

Flock

Flock

William Morris

William Morris

Chippendale

Chippendale



quarta-feira, 3 de julho de 2013

Cobertor de papa, ou será manta lobeira?


O cobertor de papa também vulgarmente conhecido como manta lobeira, é um ícone bem português que detém muito valor em todo o território nacional. A sua origem é na Guarda, mais propriamente na aldeia de Maçainhas, onde em 1966 foi fundada a Fábrica de Cobertores de José de Freire, sendo a única a produzir este tipo de cobertor. O material utilizado neste produto é a lã churra ou melhor, lã de ovelha de Raça Churra

Cobertor de papa original
Estes ícones ganham forma nos grandes teares de Maçainhas, pelas mãos dos escassos artesãos da região que detém ainda a arte de tecer a lã. Apesar de ser pouco produzido, é no Verão que a lã churra é fiada e tecida, sendo posteriormente colocada no pisão, de modo a ser lavada e feltrada[1], depois vai à máquina cardar, puxando-lhe o pelo, sendo por fim esticada para secar ao Sol. Estas práticas são morosas e cansativas, mas só assim se consegue obter o verdadeiro cobertor de papa, consistente e muito quente. Existem variações de cor, dependendo do gosto do cliente, poderá ser riscado ou liso. 
No Ribatejo, o cobertor de papa é utilizado pelos campinos para proteger as suas montadas e as suas costas. É colocado sob a sela como de um suadouro se tratasse, tornando mais confortável a prática de montar a cavalo. 
Campino em prova de perícia, com cobertor de papa
Riscado de verde, encarnado, castanho e amarelo, sobre fundo bege, também conhecido por manta espanhola. Por outro lado, durante as festas do Colete Encarnado, a cidade é invadida dos por estes gigantes do tipo espanhol, os quais são utilizados para ornamentar as janelas e varandas das casas vilafranquenses. São ornados com flores e artefactos tipicamente ribatejanos, guarnecendo as ruas da cidade. No Minho e Norte do país utiliza-se o cobertor de papa original. Também os há do tipo "barrento" que recursa dos matizes bege e castanho na sua coloração (Pomar, 2010).

Manta lobeira (cobertor de papa) tipo espanhol, utilizado no Ribatejo

                  Atualmente existem grupos organizados para evitar a extinção de tal arte, evitando que caiam no esquecimento, através de escolas e ateliers junto das camadas mais jovens, promovendo a arte de bem tear(Duarte, 2009).

Conheça também a Escola de Artes e Ofícios que foi fundada em 2008, precisamente em Maçaínhas,  através do endereço: http://eaomacainhas.com/ 
André Lopes Cardoso



[1] A feltragem, processo feito à base de água e sabão, serve para tornar a lã churra num tecido (feltro) de lã.