quinta-feira, 17 de março de 2016

Lusitânia e o epígono cavalar

Lusitania

Foi a denominação atribuída ao território Oeste da Península Ibérica, onde viviam os povos lusitanos, desde o Neolítico. Após a conquista romana passou a designar-se Hispânia, cuja capital era Emerita Augusta, actual Mérida.

Relativamente às áreas de território, fazia parte o actual território português a sul do rio Douro, mais o território pertencente à Estremadura espanhola e parte da província de Salamanca. Esta região é uma das possíveis origens ancestrais de Portugal, com foco em Viriato e no movimento que adveio deste.


Lusitânia durante o período do Império Romano

Pensa-se que este território não foi atingido pelo último período glaciar. Assim, subsistiu um grupo equino que terá evoluído, tendo permitido a sua domesticação e posterior equitação superior. Este cavalo sobrevivente, segundo se sabe, viajou para Oriente ao Norte de África e Ásia Menor, até chegar à China.

O próprio Cavalo Lusitano como é conhecido, foi observado há muitos anos por estas paragens e é descendente deste Cavalo Ibérico, antepassado de todos os cavalos que estiveram na base da equitação em todo o mundo. Por ser um território isolado, aqui sobreviveu e evoluiu desde há aproximadamente quinze mil anos, livre de influências até há bem pouco tempo.




Por variadas razões e critérios de selecção, nos últimos trezentos anos aconteceu um fenómeno que dividiu o efectivo da Andaluzia e de Portugal. Estes efectivos afastaram-se, estando o efectivo português mais próximo daquilo que era o cavalo ibérico dito original, antecessor de ambos.

Durante os séculos XIX e XX, o cavalo vem a sofrer diversas intercepções de sangues estranhos, de maneira a conseguir-se uma maior força de tracção. São aproximadamente duzentos anos, mas os efeitos foram nefastos para o equino, conferindo-lhe maior dimensão e peso, retirando-lhe a ligeireza que tanto o caracterizava. Relativamente à “cabeça”, esta também se deteriorou, perdendo-se a “finura”, ardência, vibração.

Anos mais tarde, percebeu-se que os cruzamentos efectuados fizeram com que houvesse um afastamento à raça original, tendo-se perdido as suas características arnazes. Com trabalho, perseverança e inteligência, os criadores conseguiram, com base numa genética fortíssima, produzir cavalos de maior dimensão e com melhores andamentos, capazes de praticar quase todas as modalidades do desporto equestre moderno, recuperando assim as suas características originais, aliás reforçando-as.

Durante os anos 70, particularmente entre 1974 e 1975, Portugal passou por um período bastante conturbado quer ao nível económico, quer politico e social, que acabou por se instalar na região do Ribatejo e do Alentejo, pondo em risco a sobrevivência da raça Lusitana, inspirado numa reforma agrária ignorante advinda de um poder politico desadequado. No entanto, nem tudo foi mau, os interessados nesta raça uniram-se e lutaram contra estas políticas nefastas, evitando a perda das suas propriedades genéticas ou até a sua extinção.
A Revolução passou, mas os ideais e o acreditar no produto nacional fez com que o grupo de principais criadores do Cavalo, presidido por Fernando d’Andrade, definisse com muito rigor o padrão da raça, base de partida fundamental para a melhoria na selecção. Houve, de facto uma redefinição de prioridades, de maneira a colocar o Cavalo noutro patamar, seleccionando-o.

Agradece-se à família Veiga que, de uma maneira persistente, acreditou no cavalo Lusitano e resistiu durante gerações a cruzamentos pouco sérios. No entanto, os génes da raça sobreviveram em todas as Coudelaria, pois a raça andava tipo "mascarada", as caracteristicas originais estavam lá, apenas apareciam "abafadas", devido aos cruzamentos com outros cavalos mais pesados, como foi explicado acima.

Actualmente já existe uma exigência relativamente à suavariabilidade genética. 

É fulcral manter-se as quatro grandes familias dentro do efectivo actual: 


Estas coudelarias são a base da raça Lusitana que hoje conhecemos e que de facto se aproxima, cada vez mais, da original. Sabe-se que a História e os conhecimentos de equitação foram pilares fundamentais na recuperação da raça, como é espectável, daí estarem incluídas as Coudelarias mais afamadas, pois também elas posuíam os criadores de cavalos mais conehcedores da matéria.

Recentemente reuniu-se os jurados portugueses da raça Lusitana, passados cerca de trinta anos da redação do texto que prevê a definição da padronização da raça, e nada foi necessario corrigir, o que a mim me sugere que, o desenvolvimento da raça está em boas mãos e em bom caminho.

Sabe-se que o Cavalo Lusitano está a ser cada vez mais utilizado nas mais diversas áreas e em todo o mundo, como seja:

  • Competição
  • Toureio
  • Arte Equestre

De facto o universo cavalar reune imensa gente, desde curiosos, a entendidos, diletantes e outros tantos, mas o interesse e o encanto pelo cavalo manfesta-se imenso nas artes. 

Segundo Serrão de Faria (Azinhaga, Golegã 1937), "pinto o cavalo lusitano, por nenhum outro animal transmitir sentimentos tão nobres e uma tão grande sensação de liberdade". José Francisco Quelhas Serrão de Faria é conhecido por "pintor do cavalo lusitano". A sua Obra retrata magistralmente sobre o papel, sobre a tela, as “linhas”, dos magníficos ‘filhos do vento’ da Lusitânia.  É com fina sensibilidade, profundo conhecimento e singular arte que representa com os seus pincéis, também os campinos e as suas montadas na sua faina diária, o gado bravo, e a paisagem da lezíria e do espargal. A sua oficina de criação insere-se no Solar dos Serrão, casa de família do século XVI, na Azinhaga. Frequentou cursos de gravura, litografia, serigrafia e xilogravura na Cooperativa de Gravadores Portugueses. Como caudeleiro, foi ainda Presidente do Stud-Book Lusitano e autor de publicações sobre o Cavalo, tais como “Caballus”, “Ginete Ibérico” e o “ Solar do Cavalo”. Autor ainda de outros livros como, “Dois Dedos de Conversa”, “Futebol, Iluminuras e Textos Consagrados”, “ Vales Traçados”, “Lisboa do Rio para as Colinas” e “Olivença”, foi ainda colaborador do jornal “ A Capital” e de vários outros jornais e revistas. Está representado em várias colecções particulares, nacionais e estrangeiras.


Eguada de Alter Real,Serrão de Faria, aguarela, 2011

Jorge José Gomes de Carvalho Alexandre nasceu em Vila Franca de Xira em 1956. Pelas mãos, mas principalmente pela sensibilidade dos Mestres José Noel Perdigão, Júlio Goes, Caldeira Martins e outros que a memória não esquece, saboreia a ternura da aguarela.

É o autor dos retractos dos matadores Vilafranquenses expostos no Café Central, da colecção “ Cenas Taurinas” patentes no pátio Galache, da obra “ Campinagem I” exposta no Salão Nobre da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira e da colecção “ Rdol” patente na Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira. Em 2008 é lançada pela empresa Adine, uma colecção de imanes reproduzindo 5 obras suas e  é responsável pela decoração da maternidade do Hospital Reynaldo dos Santos em Vila Franca de Xira.

Em 1999 recebeu a distinção de mérito cultural da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira.
Certificado pelo Centro de Formação contínua da Universidade do Minho, presta actualmente formação na área da expressão plástica.
Iniciou a sua actividade profissional como cartoonista na revista “ O Século Ilustrado”, nos anos 70 e trabalhou na área da publicidade nas duas décadas seguintes. Expõe desde a década de 80 em Portugal e no estrangeiro, contando no seu currículo com a realização de dezenas de exposições individuais e colectivas e está representado em colecções particulares em Portugal, Espanha, França, Itália, Suécia, Dinamarca, Brasil, Índia, Japão e Noruega.
Detentor de vários prémios na área da pintura, entre os quais, o 1º. E 3º. Prémios na 2ª. Bienal de Benavente, o 1º. Prémio Cidade de Tavira e o 2º. Prémio da Vila de Salvaterra de Magos, o Artista está mencionado  em Arte 98 de F. Infante do Carmo, no anuário Europeu de Arte 2000 e na publicação em Portugal 2001 e no vídeo “ Aguarela-Arte Maior” de Afonso de Almeida Brandão.
É, desde 2002, Presidente da Direcção do GART-Grupo de Artistas e Amigos da Arte, Associação que tem divulgado a Arte enquanto sensibilidade de cada um, num todo, por todo o Mundo.
Com Vítor Casquinha concebe pensamentos como “da Aurora ao Ocaso a Teimosia de Resistir”, o que dá origem ao monumento ao trabalhador rural em Arruda dos Vinhos que cria e executa solicitando a ajuda do Mestre Júlio Carmo santos.
Autor de vários cartazes, sendo em 2008 convidado a criar todos os cartazes da temporada taurina na Praça Palha Blanco em Vila Franca de Xira.


Jorge Alexandre, aguarela, 2015
Beatrice Bulteau nasceu em Sancerre, França, em 1959. Em 1980 instala-se em Portugal e inicia uma nova expressão em aquarelas. Escolhe o cavalo como suporte da sua pintura, desenvolve e aprofunda o seu estudo anatómico, tornando-se uma exímia representante do seu movimento. O Cavalo Lusitano é indubitavelmente um dos mais preciosos tesouros vivos do património cultural português. Bulteau tem-lhe um carinho especial e retracta-o de uma forma única e apaixonada, revelando aos nossos olhos toda a sua beleza , força e coragem, aos quais não nos é possível ficar indiferentes.
Segundo Fernando Tavares Rodrigues in Os Cavalos Mágicos do Bulle, “são estes cavalos que, há mais de trinta anos fascinam Bulteau e nos conduzem a outros espaços onde o sonho e a beleza dão as mãos silenciosas. Os seus cavalos são livres. Viajam em vasos de barro e folhas de papel e relincham e galopam quando olhamos para eles. Não há rigor fotográfico. Há encanto, sensualidade mesmo. À flor da pele”.
Uma inevitável cumplicidade com os materiais e as cores. Os movimentos quase a sair do papel, a força a ensaiar uma coreografia que os vasos tentam, em vão, conter para nós que, incessantemente os descobrimos e repetidamente nos rendemos a essa beleza que matéria alguma pode aprisionar. Em todas as obras de Beatrice Bulteau há um convite ao sonho, que sendo dela, também pode ser nosso. Ela faz-nos sentir, olhar, cheirar. Apetece-nos tocar, montar, domar. Como se todos os cavalos fossem Pégaso e, nós, apenas velhos deuses com pena de ficar….
Beatrice viajou pelo mundo e levou com ela o Cavalo Lusitano sempre representado nas suas exposições. Desde 1984 o seu trabalho tem sido apresentado em 25 estados dos EUA, no Japão, no Canadá, na Europa e recentemente no Oriente e Oriente Médio. Mais recentemente passando por São Paulo na Galeria Romero Britto e Museu Equuspolis, Golegã, Portugal. 


Lusitanos, Beatrice Bulteau, aguarela

Também na Poesia é rei, segundo Alexandre O'Neill In Forte mas fraco (1971):

Nada na mão / algo na v'rilha
remancho as noites / e troto os dias
entre tabaco / viris bebidas
fraco mas forte / de muitas vidas
(que eu já dormi / co'as duas mães
e as duas filhas / que vão à missa
com três mantilhas)

Nada na mão / algo na v'rilha
sofro comigo / luta intestina
(ao bem ao mal / a mesma alpista)
bebo contigo / cerveja uísqui
p'ra que se veja / mais rubra a crista

Nada na mão / algo na v'rilha
encontro a morte / no meio da vida
morte bonita / nada aflita
(ou é da minha / tão fraca vista?)
e tenho sorte

Nada na mão / algo na v'rilha
invisto contra / o zero puro
da minha vida

e duro, duro!

E continuará a inspirar-nos nas mais diversas matérias...
André Lopes Cardoso

quarta-feira, 16 de março de 2016

Picaria à Vara Larga

A picaria é um exercício de domínio do touro, regido sob o signo da serenidade que só os mais hábeis e as melhores montadas permitem. O mérito da vara procede do “temple”, da dilação da reunião entre o cavaleiro a rês, aguentando o homem o touro na ponta do pampilho e na garupa da sua montada. 
A demora do temple é a representação manifesta do domínio de si e do mundo, evocada num conjunto harmonioso de velocidade, de poeira, de vontades dissonantes e riscos: trata-se de “mando”, de impôr-se sobre a resistência do touro. O temple é uma metáfora da domesticação do mundo, é a própria alma.

segunda-feira, 7 de março de 2016

Genealogias da Beira Litoral - Rodrigues Estarreja

Não se sabe a origem da família Estarreja, Rodrigues Estarreja, mas sabe-se que na zona de Cantanhede, particularmente em Cavadas, Covões e Febres, existem alguns indivíduos com este nome.

António Rodrigues Estarreja (Cavadas, Cantanhede 8 de Junho de 1842), filho de António Rodrigues Estarreja e Josefa de Jesus. Sabe-se que esteve algumas vezes no Brasil, nomeadamente em Santos.

Joaquim Augusto Rodrigues Estarreja (1912-1971) filho de Manuel Rodrigues Estarreja (1888-1971) e de Maria Francisca de Jesus (1878-1959).

Joaquim Augusto Rodrigues Estarreja

Virgílio Rodrigues Estarreja, bombeiro em Cantanhede.

Virgílio Rodrigues Estarreja, Cantanhede 1915


Se alguém souber mais algumas informações sobre este apelido, por favor contacte-me.

André Lopes Cardoso

Ferrador

É o profissional que cuida e trata dos membros dos cavalos, nomeadamente dos cascos.
Coloca ferraduras, objecto de ferro que é acoplado ao membro do cavalo, protejendo-lhe o casco; ou simplesmente limpa-lhe o casco e apara.





É uma profissão que teve um enorme decréscimo inerente à utilização do cavalo.

André Lopes Cardoso