sábado, 16 de janeiro de 2016

Feira do Cavalo

Os dias mais pequenos, os serões maiores, o frio aperta e os abafos são fortes ou abafadinhos. O fumo e o cheiro a castanha assada enchem as estreitas ruas da Golegã, sente-se uma calma estranha à medida que vamos entrando na vila, rua após rua, ao mesmo tempo um nervosismo inquietante. A Feira Nacional do Cavalo é anunciada por uma série de factores inerentes também eles à chegada do Inverno. O espírito da Feira sente-se de longe, o Cavalo é rei e é ele que nos faz ir todos os anos àquela vila, onde é amado e acarinhado; é como que uma regressão a épocas anteriores, onde se respira e exalta o cavalo, desde a sua génese, companheiro de aventuras, fiel e trabalhador, de sangue quente e nervoso, é de facto um misto de emoções.

A sociedade goleganense veste-se a preceito e prepara as suas montadas à com arreios e sela <à portuguesa>, como manda a tradição, revelando assim o seu espírito tradicional e marialva. Como se sabe, a indumentária sempre foi uma preocupação para o Homem; desde os primórdios da humanidade que o Homem se tentou cobrir ou vestir de alguma maneira, quer seja através de peles de animais, quer seja através de tecidos ou panejamentos. A principal função da indumentária é de facto a de protecção, principalmente contra o frio. Naturalmente todo este conceito de vestuário evoluiu conforme as várias épocas, mas o Traje Português de Equitação também; este surge numa tentativa de conciliar o trabalho de campo (por questões práticas), com a questão de montar a cavalo (elegante e maneável), mas o Doutor Gorjão Clara é capaz de explicar melhor o traje, visto ser investigador neste ramo.


Sabe-se que, o traje português de equitação foi sofrendo algumas adaptações ao longo do tempo, mas a sua génese é semelhante à indumentária utilizada em toda a Europa, após a Revolução Francesa, principalmente a Jaqueta, o Colete e as Calças. Repare-se no caso das províncias, nalgumas delas, montar a cavalo não fazia parte das actividades quotidianas/profissionais da população, no entanto o traje utilizado era semelhante, com alguns ajustes. Podemos rapidamente percepcionar esta situação num rancho folclórico, onde nos é apresentado um quadro social diversificado, mas maioritariamente rural. A indumentária é semelhante entre os vários grupos étnicos, tanto pela cor, corte, adornos. No caso do traje português de equitação, os pormenores que lhe são inerentes fazem a diferença, distinguindo-o do traje popular. A Jaqueta, Jaleca ou Jabona assemelha-se a uma casaca a que se cortaram as abas, trata-se de um casaco curto aflorado a linha da cintura ou terminando um pouco abaixo desta. A gola de virados é frequentemente enriquecida pela aplicação de veludo ou veludilho na sobre gola, tem dois bolsos verticais de cada lado do peito debruados com veludo, pela fenda do bolso sobressai uma réstia do tecido do forro em vermelho. A jaqueta fecha-se no peito com botões ou alamares que podem ser de prata ou cordão. Actualmente tem-se visto, cada vez mais, jaquetas em que a gola é forrada a pele de raposa. O Colete é abotoado até a altura do diafragma podendo este ter a gola de revirados e ter a abertura a frente em forma de V ou arredondado para se possa ver os folhos da camisa, as costas feitas de tecido mais leve com cordão a ajustar o tronco. A calça do traje a portuguesa é de perna cortada a direito, terminando à altura do tornozelo sem dobra, o cós é alto, atingindo quase a extremidade inferior do esterno, acompanhando os rins, bem ajustado ao corpo, a braguilha de casas e botões está escondida pela pestana, mas a partir da cintura os botões tornam-se visíveis. Chapéu à portuguesa de aba larga, copa côncava com uma virola, também conhecido por "mazantini". A camisa é confeccionada com tecido fino e de boa qualidade em branco, a carcela pode ser enriquecida com pequenos canudos ou de um folho largo franzido feito do próprio tecido da camisa, o peito pode ser adornado de nervuras, ou de pregas pequenas ou largas. As botas ou botins costumam ser curtos, de maneira a poderem ser acopladas as polainas. O salto da bota é de prateleira, suportando a espora de roseta <à portuguesa>.

Na Golegã, por esta altura de Feira, vê-se muitos cavaleiros trajando <à portuguesa>, mantendo e preservando assim as suas tradições vernaculares. Paralelamente a este quadro social, existe a preservação e disseminação da raça portuguesa, o Cavalo Puro Sangue Lusitano (PSL). A Associação Nacional do Turismo Equestre (ANTE) tem feito um trabalho incrível na dinamização do PSL, mas os próprios criadores têm de valorizar o produto nacional, criar mecanismos como programas didácticos, baptismos equestres, nas suas Coudelarias para dar a conhecer o Cavalo, principalmente junto das camadas mais jovens. Por outro lado, durante o certame assistimos também a um universo vasto de provas que revelam, de facto as várias valências do Cavalo: Equitação de Trabalho, Ensino / Dressage, Obstáculos, Atrelagem, TREC, Resistência Equestre. Não está esquecido o lado do espectáculo, fazem-se: Galas Equestres, Exposições de Pintura / Escultura / Artes Plásticas / Desenho.

Um dos momentos altos da Feira é o Cortejo dos Romeiros de São Martinho, tal como cantam “SOMOS ROMEIROS, CAVALEIROS DA TRADIÇÃO, TEMOS A GOLEGÃ NO PEITO, E UM CAVALO NO CORAÇÃO”, que percorrem as ruas da vila e recebem a bênção do Senhor Prior. Paralelamente ao Cortejo dos Romeiros, o Baile da Jaqueta é um evento que também fomenta o Traje Português de Equitação e a tradição goleganense. A Quinta dos Álamos engalana-se para receber os convidados para o Tradicional Baile da Jaqueta, que é antecedido por um Jantar de Gala, servido no Celeiro da Quinta dos Álamos. Este ano de 2015, os homenageados foram a Senhora Dona Isabel de Herédia, D. José de Athayde e a Doutora Assunção Cristas. A Revista Equitação prestou-se também a comemorações, visto completar neste ano de 2015, duas décadas de existência.


A maior parte da Feira é passada na manga como é vulgarmente conhecida ou Arneiro, sendo que é um espaço que pode ser usufruído por qualquer cavaleiro durante o ano. A Câmara Municipal de Golegã disponibiliza o espaço para o efeito; durante o certame existem algumas regras que devem ser cumpridas, como por exemplo, no picadeiro. É neste local que se passam a maioria das provas que decorrem durante a Feira e onde podemos apreciar uma multidão de cavalos e cavaleiros a circular e a mostrar os seus dotes. Em redor do Arneiro encontramos as típicas casetas, estas de apresentação simples, quase que como bungalows; são espaços conviviais que estão um pouco dispersos pela Feira, mas particularmente no Arneiro. Normalmente particulares e é precisamente nestes espaços que os criadores de cavalos fazem negociações ou simplesmente aguardam e recebem potenciais clientes. Costuma haver petiscos para entreter e vinho para aquecer as noites frias de São Martinho. Estes espaços funcionam quase como tertúlias, onde os anciãos ensinam aos mais jovens a “arte de bem cavalgar toda a sela”; ouvem-se opiniões, fazem-se criticas, normalmente os “entendidos dos cavalos” estão nestes espaços, quer seja a vender as suas rezes, quer seja a observar oportunidades de negócio que se passeiam pela manga.

Existem também várias tertúlias que vão alegrando as ruas da vila. Uma tertúlia é por excelência um local onde se reúnem familiares e amigos, local onde se come e debate assuntos vários, a par da caseta. No caso da tertúlia tauromáquica, o assunto fulcral é a Festa Brava, sendo abordados assuntos relacionados com Touradas, Garraiadas, Festas Populares. Não se sabe a existência desta tradição, sabe-se que a origem das tertúlias é espanhola, influenciando a cultura taurina. Relativamente ao espaço, as tertúlias vivem imenso de fotografias de touradas, de cartazes com cartéis taurinos, cartazes de seda, bilhetes, bandarilhas, vestuário tauromáquico, cabeças de touros, cabeças de cavalo, arreios, pinturas, capotes, moletas, barretes de forcados, pampilhos, tricórnios, estribos, ferraduras, criando quase que um museu ou um espólio variado de museu etnográfico.
Actualmente as tertúlias tauromáquicas estão em voga, pois é uma maneira de manter viva a tradição tauromáquica, a amizade pela Festa Brava, receber e reunir com amigos. A proliferação tem-se dado por todo o país, principalmente nas regiões com forte ligação a actividades tauromáquicas – Ribatejo e Alentejo.

Os Espaço de diversão nocturna têm-se difundido cada vez mais durante a Feira, retirando o cariz franco da Feira Nacional do Cavalo. Bem sei que os certames têm de evoluir de alguma maneira, caso contrário vão perdendo público, no entanto, penso que a FNC tem evoluído imenso a todos os níveis, mas no que respeita aos espaços de diversão nocturna, penso que deveria de existir algum controlo, pois estão cada vez mais citadinos, contrariamente à génese inicial da Feira. Os Restaurantes também são muito importantes neste evento, não só por serem típicos, mas também porque alimentam muito a vida na vila. Os mais populares são: Adega típica “O Cú da Mula”, Café Central, Restaurante Lusitanus, Capriola (Hotel Lusitano). O Alojamento que é também um factor importante no que toca ao Turismo, temos primordialmente o Hotel Lusitano e imensas residenciais.

Por fim, durante a Feira costumam premiar-se pessoas do meio dos Cavalos, mas também agraciar e distinguir personalidades que, de uma maneira ou de outra levaram o bom nome do país a todo o mundo.


André Lopes Cardoso

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Passeando pelo Ribatejo esquecido - Cardosas, Cardosinhas, Urjal e afins...

O concelho de Vila Franca de Xira está disperso entre área urbana e área rural, hoje falamos da rural, nomeadamente da freguesia de São João dos Montes que, desde 2013 se denomina por Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz. 
Por ser uma freguesia com uma extensa área geográfica, tem sido esquecida pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, ainda agora se constatou ao não ser incluída no Programa “Plano de ação - Estratégia de Regeneração Urbana - 2014/2020”, mais especificamente “Plano de Ação da Estratégia de Regeneração Urbana do Concelho de Vila Franca de Xira". Mais uma vez se percebe que, o interesse das Câmaras são os números, o plano de regeneração vai incidir nas zonas urbanas, principalmente nos centros históricos, o que eu apoio de pé, mas de facto as zonas rurais também precisam de ser ouvidas, não vale a pena falar de Agricultura quando é para apanhar votos e depois ignorar o assunto. 
Como dizia, a freguesia de São João dos Montes é a maior do concelho em área, mas em habitantes deve ser das mais pequenas, daí o desinteresse por parte da autarquia. No entanto, e apesar de rural, tem imensos pontos de interesse e que podiam de facto ser um ponto a explorar por turistas que se interessam por este turismo rural. Foi esse trabalho que fizemos, fomos aos locais e tentámos colher algumas informações para apresentar a este grande publico que também existem coisas em São João dos Montes, que também existem interesses em Cardosas, idem, ibidem...

Cardosas



Cardosas é uma freguesia do concelho de Arruda dos Vinhos, com 6,01 km² de área e 836 habitantes (2011). Tem como monumentos a Igreja em honra de S. Miguel Arcanjo, a Ponte romana, Fonte dos Clérigos, Fonte Ireira e o Cruzeiro (defronte à Igreja).

Igreja de S. Miguel, Cardosas, Arruda dos Vinhos

Igreja de S. Miguel e Cruzeiro de pedra, Cardosas, Arruda dos Vinhos

S. Miguel Arcanjo, Cardosas, Arruda dos Vinhos


Cardosinhas

É uma localidade próxima de Cardosas, que tem uma uma propriedade conhecida por Quinta das Cardosinhas, pertença que foi de um armador da Corte da Rainha D. Maria II, António Joaquim José Pereira, circa 1830. A Quinta contempla casarão, casas de arrumos e Capela, esta última datada de circa 1835.

A Capela foi doada ao Patriarcado de Lisboa, em 1983 sendo o único local de culto das proximidades.

As Festas em Honra de Nossa Senhora da Saúde comemoram-se num dos primeiros fins-de-semana de Junho e contam com missa solene acompanhada de fanfarra, sardinha, quermesse e baile.

Capela Nossa Senhora da Saúde, Cardosinhas
Podemos observar na aduela do portão do Celeiro da Quinta das Cardosinhas um conjunto escultórico em pedra, no qual está profusamente esculpido um cacho de uvas e as respectivas parras representando a vinha, significando assim um dos ramos agrícolas da família Gonçalves Viterbo.

Celeiro da Quinta das Cardosinhas, 1886
Ainda antes de chegar às Cardosinhas, quem vai na Estrada nacional em direcção a Arruda dos Vinhos, encontra um aglomerado de casas, perto de Rondulha que é conhecido por Casal do Urjal ou simplesmente Urjal. Pelo que percebemos é uma variedade de figueira algarvia, provavelmente existiria por ali alguma árvore de espécie. Esta zona esteve muito vocacionada à produção pecuária e agrícola e por isso, existem poucas habitações neste lugarejo. No entanto, existia um processo na Câmara para legalizar a construção nesta zona, o qual já foi aprovado. Além disso, existem imensas fazendas que se encontram abandonadas, outras em estado avançado de degradação. Nesta zona não existe nenhum monumento histórico.

André Lopes Cardoso