Este meu texto já convive comigo - na cabeça
- há uns anos, mas tem sido um dequite difícil. Gosto muito da minha terra, mas
cada vez vejo menos a sua identidade, vejo governantes virados para questões
sem pertinência alguma, discutindo o , enquanto que as
nossas tradições se vão desvanecendo dia após dia, ano após ano, principalmente
junto das camadas mais jovens.
Lembro-me de ser uma criança muito “viajada”,
mas cada vez que ia à “vila” (termo que ainda é utilizado hoje para designar
Vila Franca de Xira) era uma excitação, havia muita gente na rua, festas,
romarias, atividades para os mais jovens. Hoje vou abordar duas Festas que
penso que eram importantes para a
economia local e obviamente para o concelho: a Feira do Melão e o Salão do
Cavalo.
A Feira do Melão surgiu em 1980 na tentativa
de lançar os produtos provenientes das Lezírias, escoando stocks, a preços competitivos. Quem esteve à frente do certame foi o Sr. Abel Arrenzeiro Pereira (Alpiarça), o Dr. Álvaro Diniz e a Dra. Magda Leite Velho. A feira decorria normalmente no
jardim Municipal Constantino Palha e era um fim-de-semana bem animado, com
grupos de cantares populares, ranchos folclóricos, variadas atividades, com
ligação direta à vida rural ribatejana.
O certame terminou em 2006 com os argumentos:
- invasão do melão maioritariamente espanhol no mercado português;
- crescentes custos de produção;
- falta de incentivos que afastam produtores do cultivo nas Lezírias.
É de facto muito mais simples acabar com uma
feira/atividade do que perceber o que está errado para depois relançar essa
mesma feira. Caros, penso que esta questão nem sequer foi levantada, mas porque
é que a Feira do Melão acabou?
Numa vertente contemporânea, penso que mais
do que grandes bibliotecas, grandes museus de arte contemporânea, Vila Franca os
vilafranquenses e ribatejanos precisam de reviver as suas origens, a sua
identidade e é com este tipo de certames que isso acontece, é nestes momentos
ditos populares que o português aplaude de pé.
Apresento abaixo algumas soluções para a
revitalização da Feira do Melão:
- introduzir outros produtos provenientes das Lezírias, para além do melão;
- atualizar o certame, tentando captar outro tipo de público, como empresas, investidores;
- efetuar passeios no Barco Varino Liberdade e outros durante o certame;
- preservar a identidade cultural da região, bem como os produtos e artefactos;
- tirar partido da excelente revitalização do Jardim Constantino Palha, dinamizando toda a cidade.
Salão do Cavalo
O Salão do Cavalo em Vila Franca de Xira era um certame dedicado
ao cavalo, principalmente Lusitano e à Companhia das Lezírias. Sabe-se que a
região de Vila Franca tem fortes ligações ao campo, à Festa Brava e, por isso,
ao cavalo. O certame foi iniciado no final da década de 80, particularmente em 1989, tendo sido fortemente apoiado pelo Eng. Sommer d'Andrade, o Dr. Torcato de Freitas, José Assis Pereira Palha, Major Simões Pereira, Coronel Cabedo entre outros elementos que faziam parte da comissão organizadora. Acontecia tipicamente no primeiro fim-de-semana do mês de Maio, no local que
hoje conhecemos como Campo do Cevadeiro, junto à entrada sul da cidade. Era
nesse campo que vinham de todo o país cavaleiros, marialvas, e entusiastas
curiosos espreitar os místicos de quatro patas. Era uma regressão ao passado
com pompa e circunstância, desde os trajes típicos aos passos equestres que se
vislumbravam às pargas, não só no local da feira, mas por toda a cidade.
Não só era um desfile de cultura, havia também um conjunto de
provas equestres que, nalguns casos, pontuavam para o campeonato nacional.
Modalidades como o Horseball,
Equitação de Trabalho, Condução de cabrestos, Picaria à vara larga, Concurso do Poldro mamão, eram alguns dos momentos do certame. Normalmente acontecia também um show equestre protagonizado pelo Centro Equestre da Lezíria Grande,
se a memória não me trai.
Paralelamente a este conjunto de atividades, existia também o comércio
de cavalos.
Todos ganhavam com estes certame, desde cafés, restaurantes,
hotéis; a própria cidade tinha outro espírito nestes dias de festa, tal como
acontece na Golegã, durante a Feira de S. Martinho, mas em ponto pequeno.
Em 2003, o certame terminou no dito Campo do Cevadeiro.
Entre 2004 e 2010 a festa teve lugar no Cabo das Lezírias de Vila
Franca de Xira, tendo sido catapultada do centro da cidade, para uma zona
inóspita. Foi uma decisão profundamente contraditória, pois alguns pensaram que
ia ser um grande input para a festa,
aproxima-la do campo, outros afirmavam que a festa ia durar pouco mais. Ao ser realocada
no Cabo das Lezírias, a festa perdeu muita da sua magnificência. Apesar de
terem sido feitos esforços para levar até lá pessoas, acontece que a festa
perdeu público, perdeu visibilidade, identidade.
Porque será que terminou este certame? É uma questão que se
levanta, mas que aparentemente não há resposta direta, depois de termos
dissertado sobre algumas vantagens que esta festa trazia a Vila Franca de Xira.
Será que foi repensado o valor que um certame desta natureza representa ao
nível nacional?
Apresento alguns pontos positivos:
- manter viva a tradição ribatejana;
- manter viva a tradição equestre portuguesa;
- revitalizar a cidade;
- movimentação e fluxo de comércio, sejam restaurantes, hotéis, pensões.
Pontos a melhorar:
- manter as raízes do certame tradicional, mas fazer ligeiras atualizações, como por exemplo, trazer a festa novamente para a cidade;
- promover o cavalo na região, para tal, instalar um picadeiro/hipódromo em Vila Franca, de maneira a que os cavaleiros da região tenham um local onde possam treinar os seus equídeos gratuitamente, tal como acontece na Golegã (manga);
- criar parcerias com Escolas e Companhias Agrícolas para patrocinarem o certame;
- criar estruturas para que a festa não se desvaneça no tempo;
- apelar a que as tertúlias tauromáquicas não só colaborem na Festa do Colete Encarnado, mas que apoiem e disseminem a Festa dos Cavalos.
As nossas tradições são a nossa identidade, são elas que nos
conferem o carácter distinto dos outros povos, não os deixemos perecer.
André Lopes Cardoso
Tens razão amigo Vila Franca está a morrer aos poucos =(
ResponderEliminarVejo com grande alegria que ainda existem pessoas que se honram com as virtudes da terra que os viu nascer.
ResponderEliminarPanorama que refere quanto a certas entidades e pessoas, demonstra bem a falta de cultura cívica que impesta a mentalidade fruto de uma revolução cultural nunca iniciada e que representa uma lacuna imperdoável.Parabéns perlo seu escrito.Quem escrev e assim,como o meu amigo honra também a sociedade a que pertencemosindependentemente do escalão etário.