Não se sabe ao certo a data de surgimento
deste tipo de bordado, mas sabe-se que é uma tradição secular. O principal
motivo de produção deste tipo de bordado era pela época do casamento, tal como
nas Colchas e Bordados de Castelo Branco. Os Bordados de Nisa eram utilizados
nas colchas das camas das noivas, normalmente produzidos pelas próprias,
invejando as demais jovens solteiras que as admirassem. Certo é que as jovens
bordadeiras eram ensinadas pelas anciãs, mas com o prolongamento da escolaridade
obrigatória, acabaram por se perder muitas destas tradições, pois as jovens
ficavam sem tempo para todos estes trabalhos manuais. O tempo devassou esta
arte, sendo atualmente difícil encontrar bordados de extrema qualidade
ancestral, como os que eram produzidos nos séculos XIX e XX. Muitas vezes já se
começam a observar bordados executados através de maquinaria industrial, o que
resulta em bordados menos cuidados e morosos. Por outro lado, as encomendas
feitas atualmente são baseadas em revistas contemporâneas, as quais retiram o
carácter popular português dos Bordados de Nisa (Calvet de Magalhães, 1995) .
Alinhavos de Nisa, pormenor de bordadeira http://artesaosddinis.blogspot.pt/2012/02/bordado-alinhavos-de-niza.html |
“As
rendeiras estão sentadas em tripeças, junto das portas, vestidas com trajes
característicos - saias escuras com barras claras, roupinhas de pano, lenço
traçado sobre o peito, e mantinha curta na cabeça ou o clássico chapéu nisense;
adornam-se com gargantilhas e fios de ouro, onde predominam os antigos hábitos
de Cristo, de ouro esmaltado. Algumas delas, com rebolo (almofada) sobre os
joelhos, vão fazendo as rendas de colchete, das mais complicadas, rendas de
rebolo (bilros), ou fazendo renda de agulha, que servem, as mais das vezes,
para colchas, que levam anos a compor e que gerações guardam nos arcazes,
servindo somente nos dias festivos de bodas ou baptizados. A indústria das
rendas de Nisa, restringida ao uso local, nota certo desenvolvimento no labor
das rendeiras, pela exportação de muitos e belos exemplares.”
In Bordados e rendas
de Portugal, Coleção Educativa, Série N, nº 10
Existem
vários tipos de Bordados de Nisa, revelados pelos diferentes pontos existentes
ou aplicações: Alinhavados, Xailes, Coberjões ou Cobertores Bordados,
Aplicações em feltro, Renda de Agulhas, Renda de Bilros, Frioleiras. É nos
Alinhavados nisenses, também conhecidos por Desfiados,
Ramos de Panos ou Caramelos (bordados antigos) que fica
patente o expoente máximo dos Bordados, pensando-se que advêm dos bordados
italianos do século XV. O tecido que serve de base ao bordado é
preferencialmente o linho, em todo o caso também pode ser utilizado o alinhado
que é um composto de linho e algodão; mas também o pano-cru,
que é normalmente utilizado pelas classes menos favorecidas (Calvet de
Magalhães, 1995) .
Cobertor bordado à mão - Antónia Polido http://memorianisense.blogspot.pt/2012_11_01_archive.html |
A característica do Alinhavado é o
retirar das linhas que se encontram em excesso, obtendo-se vazios nos desenhos
bordados. Os restantes pontos são guarnecidos a ponto de crivo. Todo o desenho
é delimitado a ponto de cordão, um ponto simples que serve somente para a
bordadeira ter noção das margens dos desenhos. O desenho é posteriormente bordado
a ponto de crivo, que recorre a fios enrolados, tornando o bordado muito
resistente e duradouro. Nos bordados antigos, também conhecidos por caramelos, o ponto era executado de
maneira diferente dos alinhavados atuais, pois não havia tecido por desfiar,
então os desenhos eram conseguidos através do ponto de passagem, preenchendo
assim as quadrículas que formam o desenho (Calvet de
Magalhães, 1995) .
Cachené profusamente bordado com bordados de Nisa http://amesadeluz.blogspot.pt/2012/04/museu-do-bordado-e-do-barro-de-nisa.html |
Este fenómeno ocorrido nos caramelos acontecia provavelmente por
não haver papel químico para auxilio no decalque dos desenhos. Assim, os
desenhos eram recortados em papel e alinhavados
ao tecido, recorrendo a alfinetes para fixá-los numa almofada, onde se começava
a tirar os fios e a bordar o crivo e os recortes. A temática é maioritariamente
vegetalista, motivos florais e naturais, mas no caso dos caramelos, era bastante mais variada: figuras humanas, animais,
cruzes, formas geométricas, florões, flores, folhas. Qualquer desenho pode
servir de mote ao Bordado Alinhavado de Nisa, podendo posteriormente ser
aplicado em almofadas, centros de mesa, panos, cortinas, lençóis, fronhas,
toalhas, bases de copos, vestuário, muitas vezes associado às rendas de bilros (Calvet de
Magalhães, 1995) .
Os
Xailes bordados são uma peça essencial do traje típico de Nisa, acabando por
ser uma peça importantíssima para os nisenses, na qual também são aplicados os
Bordados. A técnica é semelhante à anterior relatada, mas o tecido utilizado
para a execução do xaile é merino. Nos xailes antigos, também conhecidos por
cachenés, utilizava-se lã e atualmente utiliza-se fibra, pois é um tecido mais
económico. Os xailes mais conhecidos são os de cor preta, com desenhos florais
coloridos, fazendo um contraste gritante de matizes; mas também existem xailes
brancos, utilizados principalmente na época carnavalesca, conjugados com a saia
de feltro encarnada Depois de tudo bordado, remata-se toda a bordadura do xaile
com agulha de croché, sendo posteriormente executadas as lérias ou franjas de rabinho de gato, vulgarmente
assim conhecidas por serem extremamente macias (Calvet de Magalhães, 1995) .
André Lopes Cardoso
Calvet de Magalhães (1956). Bordados e Rendas de Portugal, Coleção Educativa, Série N, Nº 10. Lisboa
Calvet de Magalhães, M. (1995). Bordados
e Rendas de Portugal. Lisboa: Editorial Nova Vega.
http://amesadeluz.blogspot.pt/2012/04/museu-do-bordado-e-do-barro-de-nisa.html, consultado a 19 de Junho de 2014.
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