terça-feira, 24 de junho de 2014

Confederação de Tertúlias de Vila Franca de Xira

Bom dia,

Como têm reparado, muitas das temáticas que aqui abordamos têm que ver com a Cultura Popular de Portugal, o que combina e vem colmatar a tese de mestrado que foi apresentada no ano passado na Faculdade de Arquitetura sobre Cultura Popular Portuguesa e objetos de culto. Hoje falo-vos de um projeto que gostei bastante de concretizar, um projeto da localidade onde vivo e com o qual me identifico.
Já vos falei das tertúlias de Vila Franca de Xira como veículo para garantir e preservar a Festa Brava no concelho e no país; foi neste sentido das tertúlias de Vila Franca que surgiu esta necessidade, de criar uma organização que oriente tanto o movimento tertuliano, como associativo e tradicional de Vila Franca de Xira, preservado o património socio-cultural desta região ribatejana.
Foi no final de 2013 que se criou um organismo que de facto viria a controlar e a estabelecer alguns limites entre as várias tertúlias, acabando por fazer cumprir as tradições à regra, não descurando os demais aspectos culturais da cidade.
Foi-me solicitado o desenvolvimento do logótipo oficial desta Confederação de Tertúlias de Vila Franca de Xira.

"No sentido de se promover um movimento tertuliano mais coeso e dinâmico, com o fim de preservar e sustentar o futuro da cultura e das tradições de Vila Franca de Xira, surgiu a ideia de criar uma Confederação de Tertúlias que, em plena união e objetivo comum, seja uma voz firme e credível nos desígnios da cultura tradicional e da tradição tauromáquica concelhia."

Logótipo oficial da Confederação de tertúlias - Vila Franca de Xira

Pensou-se em ilustrar um campino numa vertente popular, com cores garridas, não descurando a simplicidade de traço tão em voga na contemporaneidade. Ilustrou-se um campino com vara e fez-se um arranjo de lettering, de maneira a criar um logótipo capaz de representar a organização.

Representação da Confederação de Tertúlias - Vila Franca de Xira na Romaria de Nossa Senhora de Alcamé
Posteriormente fez-se uma lona para divulgar a acção da CdT.

André Lopes Cardoso

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Bordado de Nisa

Não se sabe ao certo a data de surgimento deste tipo de bordado, mas sabe-se que é uma tradição secular. O principal motivo de produção deste tipo de bordado era pela época do casamento, tal como nas Colchas e Bordados de Castelo Branco. Os Bordados de Nisa eram utilizados nas colchas das camas das noivas, normalmente produzidos pelas próprias, invejando as demais jovens solteiras que as admirassem. Certo é que as jovens bordadeiras eram ensinadas pelas anciãs, mas com o prolongamento da escolaridade obrigatória, acabaram por se perder muitas destas tradições, pois as jovens ficavam sem tempo para todos estes trabalhos manuais. O tempo devassou esta arte, sendo atualmente difícil encontrar bordados de extrema qualidade ancestral, como os que eram produzidos nos séculos XIX e XX. Muitas vezes já se começam a observar bordados executados através de maquinaria industrial, o que resulta em bordados menos cuidados e morosos. Por outro lado, as encomendas feitas atualmente são baseadas em revistas contemporâneas, as quais retiram o carácter popular português dos Bordados de Nisa (Calvet de Magalhães, 1995).
Alinhavos de Nisa, pormenor de bordadeira
http://artesaosddinis.blogspot.pt/2012/02/bordado-alinhavos-de-niza.html

“As rendeiras estão sentadas em tripeças, junto das portas, vestidas com trajes característicos - saias escuras com barras claras, roupinhas de pano, lenço traçado sobre o peito, e mantinha curta na cabeça ou o clássico chapéu nisense; adornam-se com gargantilhas e fios de ouro, onde predominam os antigos hábitos de Cristo, de ouro esmaltado. Algumas delas, com rebolo (almofada) sobre os joelhos, vão fazendo as rendas de colchete, das mais complicadas, rendas de rebolo (bilros), ou fazendo renda de agulha, que servem, as mais das vezes, para colchas, que levam anos a compor e que gerações guardam nos arcazes, servindo somente nos dias festivos de bodas ou baptizados. A indústria das rendas de Nisa, restringida ao uso local, nota certo desenvolvimento no labor das rendeiras, pela exportação de muitos e belos exemplares.”

                            In Bordados e rendas de Portugal, Coleção Educativa, Série N, nº 10


                  Existem vários tipos de Bordados de Nisa, revelados pelos diferentes pontos existentes ou aplicações: Alinhavados, Xailes, Coberjões ou Cobertores Bordados, Aplicações em feltro, Renda de Agulhas, Renda de Bilros, Frioleiras. É nos Alinhavados nisenses, também conhecidos por Desfiados, Ramos de Panos ou Caramelos (bordados antigos) que fica patente o expoente máximo dos Bordados, pensando-se que advêm dos bordados italianos do século XV. O tecido que serve de base ao bordado é preferencialmente o linho, em todo o caso também pode ser utilizado o alinhado que é um composto de linho e algodão; mas também o pano-cru, que é normalmente utilizado pelas classes menos favorecidas (Calvet de Magalhães, 1995).

Cobertor bordado à mão - Antónia Polido
http://memorianisense.blogspot.pt/2012_11_01_archive.html

A característica do Alinhavado é o retirar das linhas que se encontram em excesso, obtendo-se vazios nos desenhos bordados. Os restantes pontos são guarnecidos a ponto de crivo. Todo o desenho é delimitado a ponto de cordão, um ponto simples que serve somente para a bordadeira ter noção das margens dos desenhos. O desenho é posteriormente bordado a ponto de crivo, que recorre a fios enrolados, tornando o bordado muito resistente e duradouro. Nos bordados antigos, também conhecidos por caramelos, o ponto era executado de maneira diferente dos alinhavados atuais, pois não havia tecido por desfiar, então os desenhos eram conseguidos através do ponto de passagem, preenchendo assim as quadrículas que formam o desenho (Calvet de Magalhães, 1995).

Cachené profusamente bordado com bordados de Nisa
http://amesadeluz.blogspot.pt/2012/04/museu-do-bordado-e-do-barro-de-nisa.html

Este fenómeno ocorrido nos caramelos acontecia provavelmente por não haver papel químico para auxilio no decalque dos desenhos. Assim, os desenhos eram recortados em papel e alinhavados ao tecido, recorrendo a alfinetes para fixá-los numa almofada, onde se começava a tirar os fios e a bordar o crivo e os recortes. A temática é maioritariamente vegetalista, motivos florais e naturais, mas no caso dos caramelos, era bastante mais variada: figuras humanas, animais, cruzes, formas geométricas, florões, flores, folhas. Qualquer desenho pode servir de mote ao Bordado Alinhavado de Nisa, podendo posteriormente ser aplicado em almofadas, centros de mesa, panos, cortinas, lençóis, fronhas, toalhas, bases de copos, vestuário, muitas vezes associado às rendas de bilros (Calvet de Magalhães, 1995).
                  Os Xailes bordados são uma peça essencial do traje típico de Nisa, acabando por ser uma peça importantíssima para os nisenses, na qual também são aplicados os Bordados. A técnica é semelhante à anterior relatada, mas o tecido utilizado para a execução do xaile é merino. Nos xailes antigos, também conhecidos por cachenés, utilizava-se lã e atualmente utiliza-se fibra, pois é um tecido mais económico. Os xailes mais conhecidos são os de cor preta, com desenhos florais coloridos, fazendo um contraste gritante de matizes; mas também existem xailes brancos, utilizados principalmente na época carnavalesca, conjugados com a saia de feltro encarnada Depois de tudo bordado, remata-se toda a bordadura do xaile com agulha de croché, sendo posteriormente executadas as lérias ou franjas de rabinho de gato, vulgarmente assim conhecidas por serem extremamente macias (Calvet de Magalhães, 1995).

André Lopes Cardoso


Bilbiografia

Calvet de Magalhães (1956). Bordados e Rendas de Portugal, Coleção Educativa, Série N, Nº 10. Lisboa 

Calvet de Magalhães, M. (1995). Bordados e Rendas de Portugal. Lisboa: Editorial Nova Vega. 

http://artesaosddinis.blogspot.pt/2012/02/bordado-alinhavos-de-niza.html, consultado a 19 de Junho de 2014.

http://amesadeluz.blogspot.pt/2012/04/museu-do-bordado-e-do-barro-de-nisa.html, consultado a 19 de Junho de 2014.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Cadeiras Alentejanas

Boa noite,

Como sabem, uma das valências deste blog é recuperar objetos esquecidos no tempo, tornando-os novamente objetos de culto que atravessaram gerações e que de facto fazem parte da nossa cultura.



As cadeiras alentejanas estão extremamente propagadas, mas a origem da sua Imagética é desconhecida. Existem dois grandes tipos de Cadeiras alentejanas:
1.     Cadeiras com assento em palhinha;
2.     Cadeiras com assento em palhinha, profusamente desenhadas.

As mais populares são as do segundo grupo, pois fogem às convencionais cadeiras de palhinha, mas também existem bancos, cadeirões de sala, cadeiras de baloiço, todos eles desenhados. Produzidas manualmente, estas cadeiras são, normalmente, produzidas em madeira de pinho maciço e só posteriormente é concebido o empalhamento do assento em buinho ou tabôa (plantas herbáceas). O buinho é apanhado enquanto verde, depois é criteriosamente cortado em vários comprimentos, posteriormente é posto a secar. Utilizado no empalhamento de vários artigos, como cadeiras, mesas, canapés, cadeirões, bancos, objetos decorativos. Antes de ser utilizado é demolhado, de maneira a tornar-se mais dúctil, não quebrando enquanto se entrança (Perdigão, 2001).

Cadeira Alentejana | Merceria Alentejana


A utilização do buinho é perspicaz, pois alia duas valentes premissas, o conforto e a ergonomia, pois este é extremamente cómodo e elástico, adaptando-se ao corpo. Por outro lado, este material natural transmite a sensação de aquecimento no Inverno e de fresco no Verão. Manuel Amélio (1925) é um dos empalhadores de cadeiras do Redondo que ainda trabalha para o artesão José Vicente (Vicente, 2010).

Bibliografia

Perdigão, T. (2001). Tesouros do Artesanato Português - Madeiras, Fibras vegetais e afins (Vol. I). Lisboa: Editorial Verbo.

Vicente, J. (2010). Cadeiras do Alentejo. Obtido em 16 de Janeiro de 2013, de http://cadeirasdoalentejo.blogspot.pt/