terça-feira, 15 de novembro de 2016

São João dos Montes e afins...

A primeira informação histórica de que se dispõe sobre esta freguesia é a de que o seu território terá pertencido à Ordem do Templo (os Templários). Supõe-se que a primeira Igreja Matriz (possivelmente será a Igreja de São João dos Montes, a qual flanqueia o cemitério) tenha sido fundada por alguns dos Mestres dos Templários.
No início do século XX havia, no Alto da Agruela, uma capela com várias sepulturas dos cavaleiros da Ordem do Templo.

Segundo o Duque D’Ávila e Bolama, na sua Corografia, alguns historiadores admitem a hipótese da Freguesia de São João dos Montes ter sido fundada em 1320, ao mesmo tempo que a Quinta e Morgadio de Bulhões (actualmente Quinta do Bulhaco, perto de Trancoso ), por Fernão de Bulhões, irmão de Santo António de Lisboa.

Subserra foi a povoação mais importante a partir do início do seculo XVII, onde foi instalado o Morgadio de São Severino, pelo capitão Diogo da Veiga e construída a capela de São José por sua filha, Bárbara de Vasconcelos. Os domínios de Subserra pertenceram depois, por sucessões e uniões de famílias aos Roxas de Azevedo e Cantreiras, ligados à Casa da Trofa, aos Condes de Subserra, Rio Maior e Lavradio.

João Roxas e Azevedo foi Chanceler-Mor do Rei D. Pedro II (Rio de Janeiro 1825, França 1891) e o seu cunhado, Francisco de Sousa Coutinho, que também habitou Subserra, foi o Embaixador de D. João IV que conseguiu obter reconhecimento da independência de Portugal pelas Cortes Europeias, apos a expulsão de Filipe III de Espanha. No seu tempo, D. Pedro II permaneceu algum tempo na Quinta.

O 1º Conde de Subserra, Manuel Inácio Martins Pamplona Côrte-Real, foi General, Deputado e várias vezes Ministro, no tempo da Revolução Liberal, tendo sido perseguido e preso (até à morte) pelos Miguelistas (também conhecidos por serem conservadores).

O 2º Marquês de Bemposta-Subserra, Théodore Stéphan de La Rue de Saint-Léger, também liberal e general, foi ajudante de campo dos dois príncipes consortes de D. Maria II.

O 1º Marquês de Rio Maior, D. António José Saldanha Oliveira Sousa, foi Deputado, Oficial-Mor da Casa Real, deputado, provedor da Santa Casa da Misericórdia durante 18 anos e duas vezes Presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

Finalmente, o 6º Marquês de Lavradio, D. José Maria de Almeida Correia de Sá, foi par de reino, oficial às ordens do Príncipe D. Luís Filipe e Secretário particular de D. Manuel II.

Em Subserra existiram também nos séculos XVIII e XIX, sete capelas e ermidas e uma igreja, a da Misericórdia. Além da Já referida capela de S. José, conhecem-se os nomes das capelas da Quinta da Trofa, dos Senhores de Pancas e Alpedrinha, da Casa dos Manuéis e da ermida dos freires de Cristo. 

Hoje, só existem duas capelas a de S. José, na Quinta de Subserra (propriedade da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira) e outra no lugar de Subserra.

Várias também eram as casas solarengas em Subserra, além do Palácio. Um desses solares era a Casa ou Palácio dos Manuéis que, com larga possibilidade, pertencia aos Manuéis de Vilhena, Condes de Vila Flôr, cujo 7º Titular chegou a ser Duque da Terceira, figura eminente da Revolução Liberal de 1820 que, entre muitos outros bens e direitos, tinha o padroado da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Alhandra. Um outro solar era dos Senhores de Pancas e Condes de Alpedrinha, descendentes da Casa de Vila Flôr.
Realçar também a existência de uma praça de touros, o Curro, cujas últimas ruinas se encontram subterradas, atesta a antiga importância de Subserra.

Ignora-se quase tudo sobre a Sede da Freguesia, a pequena localidade de São João dos Montes, cuja Igreja Matriz é consagrada ao padroeiro da Freguesia e de Alhandra. Sabe-se apenas que a Freguesia começou por ser uma Vigararia da apresentação da Mitra de Lisboa e passou depois a Priorado.

Igreja Matriz de São João dos Montes

A povoação mais importante da freguesia passou a ser na primeira metade do século XX A-dos-Loucos, situada a cerca de um quilometro das ruinas de um Convento, cujas religiosas terão pedido a D. João V dízimo (ou décima) da produção dos campos que se avistavam das janelas do Convento. O rei chegou a estar inclinado a satisfazer o pedido mas, informado de que dali se avistavam campos de Santarém a Lisboa, acabou por recusar. Consta que o Convento não chegou a ser, por isso, concluído e que a Ordem terá sido alcunhada “dos Loucos”, devido à sua ambiciosa pretensão. Á-dos-Loucos significará povoação além dos Loucos.

São Romão, São João dos Montes


Aldeia quase abandonada - São Romão - perdida num dos extremos do concelho de Vila Franca de Xira e implantada numa elevação suave sobranceira a terras prenhes de fruta e pão, conservou por isso, na sua quietude, um belo conjunto de arquitectura popular rural que, se bem que arruinado, nos toca, ainda assim, pelo equilíbrio dos volumes e pela harmonia das formas construídas em pedra e barro. O lugar é de fundação muito antiga, tendo ali existido um aglomerado já ao tempo dos romanos, como no-lo testemunha uma lápide funerária hoje implantada sobre a porta da ermida. A memória do sítio reaviva-se com lendas, como a dos cavaleiros que se teriam dessedentado numa pequena fonte existente junto à povoação e que em acção de graças teriam patrocinado a construção da ermida.

Ermida de São Romão, 2016

É essa ermida – dedicada a São Romão – de fundação muito antiga. O edifício teve numerosas remodelações, a última das quais corresponde a reparação do tecto da nave da igreja por parte da Junta de Freguesia: os numerosos acrescentos e remodelações reflectem tratar-se de uma igreja de romaria, cuidada a longo de sucessivas gerações de devotos. Mas todo o conjunto é fortemente marcado pela traça do século XVII: igreja de uma só nave, com entrada antecedida por galilé – hoje disfarçada em pequeno átrio. No interior, um esplendido arco triunfal, ladeado por dois altares, marca a orientação da nave perante um altar-mor com um retábulo de talha pobre. O que porém mais notabiliza o pequeno templo são os ricos painéis de azulejo de tapete que forram todo o interior da nave e fazem desta ermida o mais formoso exemplo de arquitectura religiosa rural de todo o concelho.