O Colete Encarnado é o cânone da festa popular por
excelência, no entanto existe um conjunto de actividades, inerentes a esta que
acabam por desvirtuá-la, contrariamente ao que se pensa. O CE 2015 sofreu de
uma programação que fugiu à tradicional Festa, isto é, concertos de bandas
ditas contemporâneas, como foi o caso dos Amor Electro ou dos variadíssimos
grupos de sevilhanas que nada têm a ver com a Festa Tradicional Portuguesa.
Pensa-se que seria interessante haver uma modernização do
programa, apesar de este ser tão característico e específico, reforçando-lhe a
identidade. Por exemplo, uma Picaria é uma tradição ribatejana e deveria estar
incluída nesta programação. Outro ponto que merece ser repensado é a Cerimónia
de Entrega do Pampilho ao Campinho homenageado e o posterior Desfile de
Campinos, Cavaleiros e Marialvas. Este Desfile poderia decorrer mais à noite,
visto ser um dos momentos solenes da Festa, como que se tratasse de uma parada.
Era muito mais agradável ver as ruas cheias de cavalos, charretes, durante a
noite, pela fresca, não faz sentido o Desfile ser à hora de maior calor, nem
para os participantes, nem para os animais, nem para os espectadores.
Existe ainda a questão cultural ligada aos artefactos
vernaculares ribatejanos, numa tentativa de que o turista perceba a essência da
Festa e os seus objectos de culto; como sabem, existem muitas varandas
engalanadas, montras de lojas, e muitos transeuntes se perguntam o que é o
cobertor de papa e não há uma brochura, um folheto que permita perceber as histórias
ribatejanas e os artefactos que delas fazem parte.
A tradição de usar “o lenço encarnado ao pescoço” também
ainda não está descrita, deveria existir um documento que explique ao turista a
sua origem e disseminação.
O traje português de equitação, bem como o traje de campino,
da varina, da avieira, são tudo objectos da nossa Cultura Popular Portuguesa
que precisam urgentemente de estar descritos, de maneira a que as gerações
vindouras consigam perceber a tradição tal qual ela é. Por outro lado, deveria
ser reforçado o papel do Cavalo, em particular do Puro Sangue Lusitano, morador
que é nas Lezírias de Vila Franca de Xira, apelando à sua conservação, quer
seja enquanto cultura, como seja enquanto veículo para a campinagem, toureio ou
lazer.
Os locais de sardinha, pão e vinho devidamente assinalados,
quer nos folhetos, quer numa plataforma online que permita dinamizar o evento.
Esta plataforma onde estejam todos os pontos de interesse, como sejam, os
postos de sardinhas, tertúlias, museus, restaurantes, praça de touros,
condicionamentos de trânsito, permitiria ao turista deslocar-se da melhor
maneira dentro da cidade e, por isso, desfrutar da Festa.
A Confederação de Tertúlias deveria pensar nestes aspectos
de dinamização da Festa, deveriam repensar a festa, perceber quais as
iniciativas que deveriam estar patentes, como exemplo, fados, concurso de
montras, concurso de tertúlias, carros alegóricos, quer outro tipo de ações.
Recuperar a antiga noite de Fado. Muitos ainda se lembram
que a noite de Domingo era praticamente dedicada aos vilafranquenses e o espaço
onde decorriam os Fados era precisamente no idílico coreto do Jardim Constantino
Palha, seguido do Espectáculo de Pirotecnia. Neste momento, o jardim não está promovido,
apenas é visitado aquando do espectáculo pirotécnico. Contudo, pensa-se que o
fogo-de-artifício no Monte Gordo era mais visível, quer em Vila Franca, quer
nas regiões próximas.
As largadas – continuam a atrair imensos aficionados.
Não deixemos que estas nossas raízes desapareçam, caso contrário as gerações vindouras não poderão constatar, como nós, a essência do nosso coração ribatejano.
André Lopes Cardoso