sexta-feira, 28 de março de 2025

Quinta do Pé do Monte, Arruda dos Vinhos

Quinta do Pé do Monte, ilustração de Luís Pereira

Sempre nos questionámos sobre a quinta altaneira que avistávamos lá ao longe, no monte de Arruda dos Vinhos. Não sabíamos a denominação, apenas que nos inquietava tanta sobriedade e enquadramento holístico. Como sabem, muitos trabalhos genealógicos foram feitos– há coisas que efetivamente nos ligam, mas que por vezes não sabemos como, expliquemos. A primeira referência que encontramos sobre a sobredita Quinta é que era pertença de Martim Afonso de Miranda, natural de Arruda dos Vinhos (Nossa Senhora da Salvação), e conseguimos provar através do casamento de sua irmã Guiomar da Costa e Miranda com o Dr. Inácio Colaço de Brito viúvo de D. Violante de Resende, falecida em Aldeia Gavinha aos 14 de outubro de 1625. O casamento deu-se em 25 de abril de 1626 na dita Quinta do pé do Monte. Faltam-nos dados históricos para prosseguir a posse da Quinta do Pé do Monte no decorrer do século XVII (não desistimos), mas descobrimos uma publicação da Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos que acaba por oferecer um enquadramento da Quinta no século XX, que citamos: Quem toma a estrada de Arruda com destino ao Sobral verifica com agrado, a existência de grandes quintas, ao longo de todo o vale sobranceiro as margens do Rio Grande. Uma das propriedades constitui a Quinta do pé do Monte com cerca de 200 anos, situada numa encosta, muito próxima à pitoresca aldeia com o mesmo nome. Uma entidade bancária, o Crédito predial português ficou com a posse desta quinta, na sequência da falta de liquidação de uma hipoteca q eu fora sujeita. Seria indicado para administrador da mesma Manuel Domingos da Lage Júnior, avo do actual proprietário, Manuel Lage. Em virtude desta situação, a quinta ficaria também, conhecida como Quinta do Banco. A gestão de Manuel Domingos da Lage Júnior reverteu-se de bastante sucesso, o que lhe permitiu, por sugestão da entidade bancaria, e condições muito vantajosas, adquirir a quinta, onde fixou residência com a família. Mais tarde, seu filho, Augusto Domingos Lage, herdá-la-ia. Do espolio existente, pode ser referido um piano de meia cauda, dos finais do seculo XIX, um bilhar e algum mobiliário antigo. Esta quinta tem constituído ao longo dos tempos uma unidade agrícola bastante activa, tendo como principal produção a vinha e verificando-se uma forte ligação com a população dos arredores, nomeadamente do lugar do Pé do Monte. Este contexto, resultado do facto de esta casa ter sido uma importante unidade empregadora. Do casario que forma a quinta, refira-se a grandeza da residência principal, a que se juntam vários anexos, incluindo habitação para caseiros, adega, lagar com vara de venga, caldeira de destilação de aguardente e um lagar de azeite coma zenha movida a água que se encontra desactivado. Destaque-se a peculiaridade da cavalariça, onde se pode observar bonita azulejaria. Na eira da quinta realizavam-se grandes festas e bailaricos ao som do harmónio sobretudo por altura das vindimas em que participavam o pessoal das vindimas, os familiares e convidados da casa e os amigos de outras quintas vizinhas. Salienta-se o facto de esta quinta ter vindo a ser a “casa mãe” de um conjunto de propriedades que englobava as terras da Alagoa, Moita e Sobreiro, com uma produção de vinho que chegou a rondar as 1000 pipas. in FERREIRA, P; Câmara, P.. (2000) Quintas do Concelho, Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos. Que a história das quintas agrícolas e de recreio não se perca.