quinta-feira, 23 de junho de 2016

Dr. Arquimedes da Silva Santos

Arquimedes da Silva Santos nasceu a 18 de Junho de 1921, na Póvoa de Santa Iria, freguesia do concelho de Vila Franca de Xira. Filho de José da Silva Santos (Santiago dos Velhos, Arruda dos Vinhos, 26 de Setembro de 1893) funcionário público da Junta Autónoma de Estradas e de Iria da Conceição Ventura e Silva (Póvoa de Santa Iria, Vila Franca de Xira).


José da Silva Santos com sua esposa D. Iria da Conceição Ventura e Silva e o filho Arquimedes da Silva Santos
Lisboa, 1922


Apesar de ter nascido na Póvoa de Santa Iria, cedo veio viver para Vila Franca de Xira, para uma casa sito na Av. dos Combatentes da Grande Guerra. Foi com os amigos desta cidade, nomeadamente Alves Redol, Soeiro Poeira Gomes, Pato, que se desenvolveu o pensamento neo-realista. 
Arquimedes da Silva Santos

Licenciou-se em Medicina, tendo exercido clínica geral durante 50 anos e foi um dos primeiros neuropsiquiatras infantis portugueses, sendo também um dos pioneiros do movimento da Educação pela Arte e Ciências Pedagógicas. Silva Santos estudou dois anos na Universidade Paris-Sorbonne e regressou a Portugal em 1964 para integrar o Centro de Investigação Pedagógica da Fundação Calouste Gulbenkian.
Foi preso pela Polícia Política e condenado, em 1949, à pena de 18 meses de prisão pelo Tribunal Criminal de Lisboa. Acabou por ter de emigrar para França, pois que não era considerado pessoa respeitável e fiável para poder, como médico, trabalhar num hospital português.
Conciliando sempre o seu interesse pela cultura, já em Coimbra, onde estudou, foi um dos impulsionadores da revista Vértice e desenvolveu actividades no Teatro Universitário e no Ateneu de Coimbra, representando e traduzindo um vasto número de peças. De regresso a Lisboa estagiou em Medicina Interna e em Cirurgia, em Pediatria, Neurologia e em Psiquiatria, sempre como voluntário. Acabou por ser reconhecido como Neuropsiquiatra da Infância, pela Ordem dos Médicos, em 1959
Foi na área da pedagogia que mais se destacou, no Centro de Investigação Pedagógica do Instituto Gulbenkian de Ciências e na Escola Superior de Educação pela Arte do Conservatório Nacional de Lisboa e na Escola Superior de Dança. 
No Centro de Investigação Pedagógica procuravam-se soluções para as dificuldades escolares, sobretudo de origem emocional e afectiva. Recorria-se, entre outras, a técnicas de reeducação da linguagem e da expressividade da criança, utilizando-se técnicas de pedagogia curativa que implicavam relação com a música, o drama, o movimento e as artes plásticas. Foi ai que foi tomando forma a criação de uma Psicopedagogia da Expressão Artística, num primeiro tempo, dando origem, depois, ao sonho de uma Reeducação Expressiva ou uma Arte-Terapia.
Propôs, no início dos anos 70, a criação de dois cursos no Conservatório Nacional, um para Professores do Ensino Artístico, e outro para Professores de Educação pela Arte. Fundador do Movimento Português de Intervenção Artística e Educação pela Arte.
Sobre estas actividades, discorre: “Eu tinha a formação de pedopsiquiatra e vi que a melhor maneira, do ponto de vista educativo, de agir na vida das crianças com dificuldades era através das expressões artísticas, quer seja da música, das artes plásticas, da psicomotricidade, da dança, do drama, etc. …” (entrevista à revista “Noesis” – nº 55-Julho/Setembro 2000). E ainda: “Fui um professor amador que, de algum modo, se profissionalizou. … Como livre pensador e como franco atirador pude fazer aquilo que achava que devia ser. … Dava liberdade aos meus alunos para podermos fazer as coisas de maneira a enriquecermo-nos, a encontrarmo-nos, a sermos. A minha linha de acção era essa. Não era o saber, o ter, era exactamente o ser”. 
Um dos seus pontos fulcrais de tese é de facto, que o desenvolvimento harmonioso de uma criança é o que importa na educação para que ela, no futuro, se encontre a si própria e se encontre com os seus concidadãos.
Participou no filme de António Reis e Margarida Cordeiro “Rosa de Areia”(1988), com um personagem hierático, de cabeleira branca e olhar de sonho, sempre a procurar ver para além do horizonte.
A Fundação Gulbenkian publicou um livro de sua autoria – “Mediações arteducacionais – ensaios dirigidos”, obra que recomendamos a todos os intervenientes em pedagogia e onde se pretende “prosseguir e procurar vias entre a Arte e a Educação”. Na sua introdução pode-se ler: “À escala nacional... Duas dicas dessa prioridade: Jardins-de-infância para todas as crianças portuguesas; Educadoras sensibilizadas para as expressões ludo-expressivo-artísticas”.

                Este autor também pode ser consultado em “Perspectivas Psicopedagógicas”, 1977, e “Mediações Artístico-Pedagógicas”, 1989, de Livros Horizonte. 

Estátua ao Dr. Arquimedes da Silva Santos, Jardim da Quinta Municipal da Piedade, Póvoa de Santa Iria
Foi homenageado pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira com uma estátua, da autoria do Mestre Francisco Simões, a implantar no Jardim do Palácio Municipal da Quinta da Piedade, na Póvoa de Santa Iria. O médico do concelho, pioneiro nacional na área da pedopsiquiatria, foi também um importante pedagogo ligado à Educação pela Arte e um reconhecido poeta, sendo um dos fundadores do movimento neo-realista português.
Com a estátua, a autarquia vai não só qualificar o espaço público como também homenagear uma das mais importantes figuras do concelho.

Foi agraciado com a Ordem do Infante D. Henrique e com a da Instrução Pública.

André Lopes Cardoso

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Casa Típica do Ribatejo

A Casa Portuguesa é uma temática vastíssima, a qual já foi amplamente abordada, no entanto existem pormenores que sinto necessidade de partilhar. Como sabemos, a Casa espelha as pessoas que nela habitam – sociedade – aliás foi através dela que se conseguiu perceber e interpretar muita informação do passado. Os pisos, as divisões, o tipo de materiais utilizados, o aquecimento, a luminosidade, tipologias; informação que tem de ser tida em conta, para percebermos a época e os restantes dados históricos inerentes à habitação.

Portugal é um país com zonas climatéricas muito diferentes e, por isso, o tipo de material em cada região também se altera, tendo impacte na construção e arquitectura. No sul as casas são normalmente caiadas a branco e rebocadas, dado que o clima é quente e seco, quase todas pequenas e térreas. Nestas regiões existem casas com diversas características dependendo da zona, os terrenos são bastante argilosos e calcários, tendo estes materiais qualidades isoladoras. Predominam as cores azuis, verde, ocre e vermelhão, pintadas com uma facha por fora nas partes laterais, janelas e rodapés.

Casa Típica do Ribatejo
De construção térrea e baixa, planta rectangular e um só piso, a casa ribateja é de estilo simples, mas funcional. As divisões principais eram: a cozinha, quartos e arrumações, estas eram dispostas de enfiada.

As primeiras casas eram sem janelas e apenas com uma porta.O telhado e normalmente de duas águas (telhado em forma de V invertido), possibilitando assim o escoamento da água para os dois lados. Nestes telhados utiliza-se telha de canudo com curvatura acentuada. Têm chaminés alongadas perpendiculares ao cume (alto) do telhado.

As paredes são caiadas para protegerem o adobe (blocos de massa, constituída por areia e brita ligados entre si com argila) das intempéries.

O pavimento, por sua vez, é em terra batida, vermelhos ou ocre, regados com aguada de barro; também há quem use soalho corrido, conhecido também como solho.

As guarnições de portas e janelas são de madeira ou de pedra.

Também são frequentes, a eira e a casa da eira, sendo no entanto de pequenas dimensões e geralmente de um piso apenas.

O interior da casa era também pintado a cal ou caiado e como decoração tinham muitos objectos de loiça, como: terrinas, pratos, travessa, canecas, chávenas, bules, entre outros. Era uma decoração variada, dando grande colorido à habitação.

Os elementos mais característicos da arquitectura da cidade, são as janelas e as varandas, que possuem adornos em ferro e muitas flores.


Bibliografia:

As casas Ribatejanas, Alberto Domingos, 2008
Catálogo Carla Rochata
Casas Típicas de Portugal Cultura, Língua e Comunicação Culturas de Urbanismo e Mobilidade