domingo, 24 de março de 2013

Ode aos "pequeninos"


Se por vezes penso que esta minha terra é a minha âncora,
Por outras penso que é a minha revolta
A carência de Oportunidades, de Respeito, de Maneiras,
Ocorre o ato de exortação do demo terrível e admirável que habita em mim,
Belzebu que me transforma em horrendo, que coroe os meus entes íntimos,
O demo que transforma o meu universo.
O Mundo não só é feito de boas maneiras,
Não basta mastigar de boca fechada,
Não arrotar ar, como verbalizar frases sem sentido,
Não trocar de roupa e calçar chinelos momentos antes de ir dormir,
Não deitar no sofá social como se estivéssemos numa palhoça,
Não espantar os curiosos, e não quadrilheiros de aprender mais e mais,
Não reconhecer o talento que poucos têm, mas que muitos apregoam fruir.
O Mundo é feito de coisas agradáveis e pérfidas,
Cada um escolhe o caminho a escoltar,
Se por um lado erramos, por outro aprendemos a tentar não desacertar,
Não basta ser criativo com as Artes, com a Escrita, a Pintura, o Design,
A doutrina Criticista terá de povoar intrinsecamente o nosso popular “eu”,
Não poderá ser desarticulada, nem mal interpretada,
Cidadãozinhos”

O destino é esboçado por nós, seres pensantes, capazes de talhar de jeito nato,
Cada dia, cada passo, cada batalha, cada ápice, cada conquista,
É a maneira de como nos expomos à sociedade.

A fina flor do vaso podre que acaba de florescer, mas com paredes arruinadas
Não mais é que gente maldizente que delonga o escândalo para desdenhar,
Não mais são que agiotas invejosos, que não conseguem ser tão entendidos e perfeitos ao ponto de injuriar as almas que tentam levar a vida ao abrigo;
A história é feita de trovoadas, mas também de quietações,
Quando vier a calma, desancorarei a pesada âncora.

André Lopes Cardoso

quarta-feira, 20 de março de 2013

Alenquer ou "Alen Ker"


Alenquer é uma vila portuguesa, pertencente ao distrito de Lisboa, com cerca de 10.800 habitantes. É sede de um município com 43.267 habitante, conforme os Censos 2011, subdivido em 16 freguesias.
Desde cedo que a denominação “Alenquer” foi sentida por parte dos habitantes locais. Esta é proveniente de “Alen Ker” que significa “A vontade de Alão”. Alão ou alano é uma raça canina bastante conhecida, pois tem imensas qualidades ao nível da caça e combate.
            Este cão continua a estar patente no brasão da vila. Sendo que, Alenquer recebeu foral em 1212, pela infanta D. Sancha, após ser conquistada aos mouros, esta admite já ser uma vila com uma forte herança cultural. Fundada por muçulmanos, Alenquer ainda vive uma atmosfera arábica, como se pode ver nos arcos de volta perfeita, que tanto remetem ao espírito arábico.


 Conceito

A níveis conceptuais, o projeto é muito marcante, pois vem “remexer” em pontos importantes da história de Alenquer. Antes mesmo de aceitar o desafio, investiguei imenso sobre a história da vila presépio, pois não fazia ideia dos seus costumes, gastronomia típica, conquistas, reis, monumentos.

Alenquer é uma vila com história, história esta que não está patente na vida quotidiana de Alenquer. Assim, decidi pegar nesta premissa “vida quotidiana e história” para desenvolver o projeto de criação de novo logótipo para a vila. O briefing é bastante motivador, centrando-se num logótipo que terá obrigatoriamente de ter algumas derivações.


A proposta de logótipo tem muito por base um bom Lettering, que vem revolucionar o conceito. Pretende-se transmitir uma mensagem de contemporaneidade, mas ao mesmo tempo histórica, visto Alenquer ter um cariz muito especial. Para cada alteração de logótipo, decidi associar uma imagem por mim criada, pois só assim será mais fácil, identificar o que pretendemos, realçando o mais importante. Para representar Alenquer, enquanto vila histórica, decidi retratar o cão Alano, cão este que deu nome à dita vila. Segundo a lenda, Alão era um cão que guardava as muralhas de Alenquer, impedindo que as tropas inimigas invadissem a pequena vila.
Simbologicamente, o cão é, por excelência, o fiel amigo do homem, o qual sempre teve muita importância na vida humana. Desde guardadores de rebanhos a fieis amigos, o cão sempre teve um importante destaque na evolução do mundo. Deste modo, o cão Alano já se encontra no galhardete da vila, mas decidi alterá-lo, dando-lhe maior destaque, pois foi ele que deu nome à vila.
Para retratar o município de Alenquer, decidi escolher as uvas, pois é uma zona de forte envolvimento com a vinho. Existem imensas vinhas no concelho de Alenquer e quando penso em município, penso em comunidade, partilha – a imagem terá de retratar os costumes do espaço – região vinícola.

Desde há algum tempo que Alenquer é considerada a vila presépio. Por estar situada num cenário idílico, pequenas casas, montanhas, pequenos jardins, rio, tudo estes apontamentos remetem para a imagem clássica de presépio, daí a consagração. Assim sendo e, por estarmos a vivenciar tempos de reconhecimento e associação, resolvi retratar a imagem de “vila presépio” numa estrela, pois é a estrela que assinala o nascimento de Jesus Cristo e é também ela que guia os três Reis Magos até ao Menino.


segunda-feira, 18 de março de 2013

Fria e seca


O que adianta tomar vinho sem companhia,
Se calhar percebemos que certamente vive um outro ente em nós,
Se calhar não é intrínseco e sincero,
Mas que figura quando menos esperamos,
É ele que dilui muitas das nossas tribulações.
Sem que entendamos,
Vem pela insossa noite,
E desvenda esfinges encobertas.

Sam Jinks, hiper realismo
André Lopes Cardoso 

quarta-feira, 13 de março de 2013

Miniaturas Portuguesas


             Estas figurinhas, cujas caixas serigrafadas (50 X 45 X 30 mm) as envolvem e protegem, são de uma excelente execução e de um fino humor. Apesar de fugirem à temática popular, estas são obras de um “popular erudito”, pois rementem para costumes citadinos, mas concebidas com materiais populares. Das várias figuras observadas, nenhuma remete para a tradicional tema folclore, nem para a varina, minhota, pescador, pastor. Estas miniaturas (49 X 28 X 35 mm) a que possivelmente Thomaz de Mello deu expressão e mais valia e que hoje são guardadas por colecionadores e admiradores, fizeram o seu caminho, lembrando que existe toda uma arte portuguesa, por detrás da dita popular, advinda da atividade campestre ou da pastorícia (Paula, 2012).

Polícia com criança, Thomaz de Mello

                 Thomas de Mello, prosaicamente conhecido por Tom é um artista, caricaturista brasileiro-português, nascido no Rio de Janeiro em 1906 e falecido a 1990, em Lisboa. Com apenas 20 anos veio para Portugal, acompanhando a Companhia de Teatro de Leopoldo Fróis. O seu reportório artístico é abrangente desde a Pintura ao Desenho, passando pela Caricatura, Banda Desenhada, Tapeçaria, Design Gráfico, Design de Interiores, Design Industrial, Cerâmica, fazendo-se pertencer assim a uma geração conhecida como “modernistas portugueses”. Participou em todas as Exposições de Arte Moderna do Secretariado de Propaganda Nacional / Secretariado Nacional de Informação (S.P.N. / S.N.I.), recebeu vários prémios artísticos, destaca-se o Prémio Francisco de Holanda, em 1945. Foi dirigente da Galeria UP, no Chiado e juntamente com Carlos Botelho, Berardo Marques e Fred Kradolfer dirigiu a equipa de decoradores do S.P.N., ficando assim encarregue da implementação dos pavilhões de Portugal nas exposições de Paris, Nova Iorque e São Francisco. Em 1937 obteve o Prémio de Decoração e de Artesanato, na Exposição de Artes e Técnicas de Paris (França, 1974).

Vasco Santana interpelando um candeeiro no filme "A Canção de Lisboa de Cotinelli Telmo, Thomaz de Mello


Foi com estas pequenas figuras que Tom começou a despertar as mentes prosaicas e pensantes e a partir de 1935, concebeu a estrutura e modelação dos corpos e cabeças, tornando mais fácil a sua produção. Ao observarmos estas peças, tudo nos leva a crer que o autor seja Thomas de Mello, pois são reveladoras do traçado e modelação de Mello, mas não foram descuradas as hipóteses de pertencerem a Manuel Piló também ele autor de bonecos de madeira (Paula, 2012).
Manuel Piló ou simplesmente Piló, nascido em Lisboa no ano de 1905, foi um desenhador, caricaturista, ceramista, designer, publicitário que viajou pelo mundo em busca de conhecimento artístico, acabando por viver na Argentina, nos Estados da América e no Brasil. Os postais reportando aos costumes portugueses são exemplares da sua obra mais popular, ilustrações estas conseguidas recorrendo á técnica de pouchoir (stencil), a qual tinha aprendido numa das suas viagens a Paris. As suas peças gráficas são a personificação bidimensional das suas peças cerâmicas populares, criando objetos articulados de madeira ou papel, pintados com cores populares, remetendo-os para uma espécie de artesanato urbano, com recurso a minimalismo gráfico. Não existem grandes referências acerca do seu trabalho visto ter sido desenvolvimento em grande parte no Brasil, acabando por retratar parte do folclore brasileiro, mas sabe-se que criou as Histórias do Tempo Esquecido, uma espécie de almanaque que continha bonecos planificados em papel, prontos a armar. Estes bonecos suscitavam, de alguma maneira, o divertimento e a pedagogia, fazendo com que a criança desenvolvesse o sentido de construir e conjugar as diferentes partes, levando à reflexão e ao inventivo (Almanach Silva, 2011).

Padeiro, boxer,..., Thomaz de Mello

No Museu de Arte Popular encontram-se cerca de 82 bonecos da coleção de Thomas de Mello, representando vários tipos de bonecos que envergam os trajes tradicionais portugueses. As miniaturas apresentadas talvez sejam uma tentativa de merchandising turístico, cujo titulo “Miniaturas Portuguesas” o justifica. As profissões representadas como cozinheiro, policia, palhaço, bóer, faquir, halterofilista, chinês, esquiador, sambista, em nada lembram as figuras populares portuguesas que se faziam por esta altura, acabando Mello por colocar estas miniaturas portugueses num patamar de contemporaneidade e de modernismo, abandonando aspectos etnográficos e folclóricos, tentando representar um Portugal cosmopolita e citadino (Paula, 2012).

Figura de Thomaz de Mello


André Lopes Cardoso