quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Nossa Senhora de Alcamé


Padroeira de Campinos, Lavradores, Maiorais e Varinos

O nosso blogue chega, cada vez mais a todo o mundo, segundo as estatísticas do Blogger. Ainda assim, as nossas raízes é aquilo que nos tornou homens e não é bonito esquecê-las, pois foram elas que nos tornaram aquilo que somos. O enriquecimento cultural que toma conta de nós desde crianças é que nos vai alimentando o cultómetro, e as referências que adquirimos na infância, ainda que dissimuladas, vão entrar na nossa vida, mais cedo ou mais tarde, como por magia... A minha vivência em Vila Franca de Xira obrigou-me, de alguma maneira a ter um contacto imenso com os campos e com as tradições tauromáquicas. Hoje apresento um caso um pouco esquecido ou desconhecido por parte dos nossos leitores, mas as visitas que temos são em muito relacionadas com as Lezírias e, assim sendo, o tema é Alcamé.

Ermida de Nossa Senhora de Alcamé, circa anos 1970.

Muitas são as lendas contadas sobre Nossa Senhora de Alcamé, mas a que aqui se conta, pensa-se que é a mais credível. Todos sabemos que quando apelidamos uma entidade sagrada por Nossa Senhora, referimo-nos sempre à Nossa Senhora Maria, mãe de Jesus Cristo, isto só para explicar que a Nossa Senhora de Alcamé é mais uma das aparições de Maria aos atormentados. O nome Alcamé vem do árabe-marroquina (AL), de fonética “achmé”, que significa trigo, ou seja, Nossa Senhora dos Trigais. Por outro lado, existem historiados que afirmam que a palavra “achmé” significa “Descansa à sombra”, embora no local não existissem quaisquer árvores.  


Imagem original Nossa Senhora de Alcamé (foi furtada)
Reza a lenda que um pastor das Lezírias do Ribatejo alimentou uma cobra desde pequena, cobra esta que nunca o atacou. O pastor alimentava-a com  leite das suas ovelhas e a cobra gerava-lhe confiança e lealdade. Uma vez, o pastor adoeceu e esteve algum tempo sem ir ao campo e, quando voltou chamou pela serpente, quando a cobra surgiu, não o reconheceu, atacando-o ferozmente. O pastor aflito gritou pelo nome de "Nossa Senhora" e eis que um milagre acontece, a Virgem projeta uma maçã contra a boca da serpente, ficando esta engasgada, acabando por morrer. 
A lenda de Alcamé surge no livro do Apocalipse, por S. João e, para além das implicações religiosas, existe sempre o senso comum que, neste caso, refere-se à preguiça e ao desvio dos objetivos - a necessidade dos trabalhadores da Lezíria estarem atentos aos cuidados contra as cheias do Tejo. Esta referência do pastor é imediatamente referente ao Homem e a Serpente ao mundo feminino, que por sua vez, remete para a tentação de Eva, pelo demónio encarnado em serpente, no episódio do paraíso bíblico da tradição judaico-cristã. 
A tradicional romaria de Alcamé esteve patente até aos finais dos anos 1960, acabando por ser abandonada em Julho de 1974. 
É no dia 10 de Junho que se celebram as festas de Alcamé, recriando toda a cultura camponesa, campinos, gado, jogos de cabrestos, ranchos, maiorais, a imagem da Virgem num carro puxado por bois. Sabe-se que a Romaria e Festa a Alcamé era celebrada um mês após a Festa do Colete Encarnado, de maneira a agradecer à Virgem as rezes que sairam na festa e que a tornaram única em toda a região.
Em 1983, a Igreja foi profanada, e a imagem original de Nossa Senhora da Conceição foi roubada, bem como o retábulo de talha dourada.
Nossa Senhora de Alcamé
A imagem de Nossa Senhora de Alcamé é bastante semelhante à imagem de Nossa Senhora da Conceição. A figura feminina ostenta uma coroa de estrelas, a qual remete para a entidade divina. Os panejamentos que a cobrem são brancos e esvoaçantes, dando a sensação de movimento, tendo um manto azul, debruado a dourado encimado aos panejamentos. Na base da imagem, encontra-se um conjunto de anjos ou coros celestiais e a representação da serpente - tentação.

“Os últimos festeiros de Nossa Senhora de Alcamé: No segundo plano (de pé): Henrique da Mota Cabral, antigo administrador da Companhia das Lezírias, e os lavradores: José Marcolino d’Almeida, Joaquim de Sousa (cortador); João Matias e Paiva e Sousa e dr. Afonso de Sousa. No primeiro plano (sentados): os lavradores Francisco Martins Grande, José de Paiva e Sousa (Anão), António Luiz Lopes, José Ferreira Tarré e Wenceslau de Alverca. 

A Ermida foi erigida pelo arquiteto José Manuel de Carvalho e Negreiros, a mando do Rei João V, em 1749 (século XVIII), numa vasta planície. Paralelamente foi também erigida a Ermida de S. José, que se situa junto ao Porto Alto, flanqueando pela Recta do Cabo. Ambas as Ermidas eram pertença do Patriarcado de Lisboa. 
Adquirindo uma localização privilegiada, a Ermida de Nossa Senhora de Alcamé, encontra-se defronte ao Mouchão de Alhandra (pequena ilha situada no leito do Rio Tejo, na qual só existe uma habitação), junto à Margem Esquerda Sul do Rio Tejo. O estilo neoclássico é o que se descreve na sua construção. Na zona do altar, a curvatura das paredes remetem-nos para uma herança árabe, bem ao jeito das suas mesquitas. A planta é rectangular, assente num escoramento, impedindo que as cheias anuais das Lezírias não afectassem o majestático santuário. O acesso à infraestrutura é bastante complexo, apesar de planície, o terreno é bastante breu. A solidão do templo é contagiante, em redor nada existe, excluindo cavalos, touros e aves que pontuam as imensas e vastíssimas planícies ribatejanas. Pensa-se que o Templo foi inicialmente dedicado a Nossa Senhora da Conceição mas, mais tarde, por via do povo, o templo ficou como homenagem ao pastor atacado e, claro está, a Nossa Senhora de Alcamé.



Romaria a Senhora de Alcamé, onde se podem observar os cobertores de papa ou mantas lobeiras (símbolo da presença dos campinos ribatejanos) nas janelas  da  Ermida.

Fado de Nossa Senhora de Alcamé

Por entre flores do campo
Na Ermida e no seu recanto
Está nosso Amor, nossa Fé

Uma Imagem Celestial
Para nós é bem real
A Senhora de Alcamé (bis)



Há uma introdução do Anjo
Estremece o Ribatejo
Por entre estrelas no Céu

A Virgem vai no Varino
Mas vai também o Campino
Um grande devoto seu (bis)

Diz a lenda tão velhinha
Que a Nossa Santinha
Um grande Milagre operou



Uma Serpente enganadora
Rastejava ali na hora
E o Campino atacou (bis)

















De mãos postas ele grita
Nossa Senhora aflita
Aparece é a primeira

Essa serpente pisou
O Campino exclamou
Serás Nossa Padroeira (bis)


A localização da imagem da Santa sempre gerou imensa discórdia, pois o povo de Samora Correia sempre a quis, bem como o povo de Vila Franca de Xira. Maria da Luz Rosinha fez um esforço para manter a tradição viva e a romaria a Alcamé é ainda efetuada em Agosto. A travessia, a barco, do Tejo é um momento muito interessante, que acontece após a missa na Igreja Matriz de Vila Franca de Xira. A procissão e romaria seguem pela Marina de Vila Franca e sobem aos barcos, de maneira a ser transportada para a Margem Sul, com destino à Ermida de Nossa Senhora de Alcamé.

Procissão dedicada a Nossa Senhora de Alcamé
Romaria dedicada a Nossa Senhora de Alcamé, Júlio Goes, 8 de Julho de 1972 
Almoço de Campinos

Romaria Nossa Senhora de Alcamé
Passando pela Ponte Marechal Carmona (Ponte de Vila Franca de Xira), encontra-se a Recta do Cabo e é nesta recta que encontramos uma saída para este caminho breu. Em 2012, a Companhia das Lezírias, proprietária de toda a Lezíria, implementou um sistema de portões, de maneira a evitar o vandalismo (1999) da herdade (2012). 

A cerimónia é normalmente realizada no dia 10 de Junho, Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas - Feriado Nacional.


N.ª S.ª de Alcamé, Júlia Ramalho, 2013
(30 cm X 12 cm)



A representação criada pela artesã Júlia Ramalho, resulta de uma encomenda para uma tertúlia tauromáquica vilafranquense pois, como foi referido acima, a santa é a padroeira dos Campinos e das Lezírias.  A ideia desta encomenda foi preservar a lenda de Nossa Senhora de Alcamé, dando-lhe uma nova interpretação por Júlia Ramalho, fugindo aos dogmas imagéticos convencionais, em que a "santinha" tem de ser representada com um manto azul e estrelas na coroa. Por outro lado, e apesar de ser uma peça única, é raro encontrar-se uma imagem (escultura) de Nossa Senhora de Alcamé, daí ter-me fascinado o facto de Júlia Ramalho ter desenvolvido a peça.

André Lopes Cardoso

Tecktonik ou tectónico


Na sequência do estilo Retrô, de que vos falei no capitulo anterior, surge também por volta de 2008, em Portugal o estilo Tecktonik, mais conhecido por “Tecno”. Bastante diferente do Retrô, mas altamente extravagante também.

Caracteriza-se basicamente numa postura de “revolta mundana”, é o que me transmitem as pessoas tectónicas. São de carácter fechado, pintam os olhos de preto, usam cabelos compridos, com cortes futuristas, os quais tapam a cara quase por completo. Costumam andar solitários, mas quando se juntam em discotecas, praças públicas, parques, pontos turísticos, divulgam esse seu estilo próprio, segundo a maneira de dançar, usando freneticamente os braços e as mãos. Fazem coreografias aterradoras que mais parecem ataques de pânico; Hardstep, Melbourne Shuffle, Jumpstyle, C-Walk, todos misturados são o estilo Tecktonik.


 Ao nível do Vestuário, vestem calças slim fit (justas à perna), para parecerem ainda mais magros, de cor variada, que vai do branco ao preto, passando pelo amarelo, rosa, camisolas com brilhantes, caveiras, costumam também usar pulseiras até ao antebraço. Viva o ornamento!
Quanto ao nível do calçado, usam botas pretas, tipo tropa, em qualquer situação, lugar, acontecimento ou então ténis profusamente coloridos, mas também ténis-bota como é o caso adidas Jeremy Scott Wings.



É interessante que este estilo surgiu em Paris, cidade Luz.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Crónica irónica - Apple


Atualmente o país está envenenado, é o tema que melhor define, pois a cada acontecimento, a cada palavra, a morte vem e acaba na hora com o que foi dito, escrito, proferido, marcado.
            Hoje de manhã, quando ia para a Faculdade, deparei-me com uma imensidão de pessoas que bombeavam as ruas da baixa lisboeta, provenientes do barco que faz a ligação entre Terreiro do Paço e Barreiro. Atropelos, correrias, tropeções, pontapés; é a corrida para chegarem ao lugar onde recebem €480 para governar uma casa (Eletricidade, Água, Telefone, Internet, Gás) durante um mês. Ora, como é que querem que as nossas empresas não fechem, poucas pessoas têm economias para adquirirem um bem de segunda necessidade, uma peça de roupa, por exemplo.  Chamam-lhe crise.
            Todos os dias se vêm portas a fechar, famílias penhoradas, o petróleo a atingir records. Toda esta conversa só para dizer que os produtos multimédia, nomeadamente da Apple registaram o dobro de vendas do que no ano passado (2011).
            Então não têm dinheiro para comer, mas têm para computadores? Parece que sim, revela o estudo da própria Apple, porque existe um grande amigo/inimigo chamado crédito.
É o logótipo (marca) que muitos desejam ter em casa, não só pela qualidade do equipamento, como também pelo seu design altamente sofisticado, que fica bem em qualquer sala, quarto, cozinha, wc.
Avanços Tecnológicos...
            A Tecnologia está cada vez mais entranhada no nosso quotidiano, não sei se é propositado, mas penso que sim; “dizem que é giro e rápido”.